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13/08/2013

A PRAÇA 7 DE SETEMBRO.


Gileno Guanabara

Ao início da ladeira, a “Rua Grande” (atual Avenida Câmara Cascudo) teve projeto de urbanização à francesa, com calçadas, escadarias, balaustradas, candelabros fixos de dupla iluminação, pavimentação, relógio público e ficus benjamim. Destacavam-se, pelo lado esquerdo, o fundo do prédio do Atheneu, a Igreja Presbiteriana Batista e a lateral da Prefeitura de Natal. De outro lado, casas residenciais e o conjunto que sediou o Lactário da Saúde Pública, terminando com o prédio que foi o Congresso, depois Tribunal de Justiça do Estado, atual sede da OAB. Era a ligação entre a “Cidade Baixa” e a “Cidade Alta”.
No cume da ladeira, frente ao Palácio do Governo (atual Pinacoteca do Estado), foi edificada a Praça 7 de Setembro, tendo, de um lado, na Rua da Conceição o casario que residiu Nestor dos Santos Lima (atual Assembleia Legislativa). De outro, a residência pertencente a Augusto Leopoldo (atual Tribunal de Justiça). No espaço de 200 metros quadrados, com arborização de fícus benjamim, a Praça descortinava de frente o imponente prédio da Prefeitura de Natal.
O projeto original foi obra do governo de Alberto Maranhão. A Praça recebeu o monumento comemorativo à data de 7 de setembro de 1922, o que de fato ocorreu durante o governo de Dr. Antônio de Souza.
A Praça 7 de Setembro notabilizou-se por ser ponto de encontro e onde se realizavam atos políticos. Em seus bancos, reuniam-se ao final das tardes personagens que viviam a vida pacata e teciam os fuxicos diários da cidade. Trocavam olhares furtivos às mulheres que passavam com seus vestidos rodados. Apreciavam o sol poente, vendo ao fundo a Pedra do Rosário, inspiradora de seus devaneios.
Certa ocasião, um grupo ouviu de “Zé Areia”, um português esperto e desinibido, assíduo frequentador da Praça, a acontecência do “Turco” que fora ao banco e pretendia “trocar um papagaio”. Na confusão do dialeto do “galego”, o débito teria sido objeto da compra e venda de uma barrica de toicinho, na feira do Alecrim. A negociação não se consumara, haja vista o desencontro que ocorreu entre as partes negociantes. O comprador ao chegar à casa do vendedor, para receber a mercadoria, deparou-se com a casa vazia e um papagaio falastrão, que ouvira antes a conversa sobre a condição da mercadoria. O papagaio tagarelou ao “turco” o estado de putrefação do toicinho: ”não compre. O toicinho está podre. Não serve pra nada”.
O devedor desfez o negócio, enquanto o vendedor, ao fim dos interrogatórios, chegou à conclusão que o delator tinha sido o papagaio falador. Por conta da indiscrição, o comerciante lhe aplicou golpes de reio cru, deixando a pobre ave inteiramente despenada. Recolhido ao canto da gaiola, o papagaio indagou ao ver no terreiro uma galinha de pescoço pelado: “Ei, galinha, você também falou ao gringo que o toucinho estava podre ?...”
Aldo Canuto, tempo depois funcionário da Panair do Brasil, também frequentava a Praça 7 de Setembro. Certo dia, “Zé Areia” o convidou para tomarem um cafesinho no “Tabuleiro da Baiana”, na Praça Augusto Severo. No balcão branco de azulejos, tendo por traz as garçonetes vestidas de saia azul, blusa branca e bibico azul preso sobre os cabelos, foram servidos os cafés. “Zé Areia” insistiu que o café fosse quente. Antecipou-se e simulou levar a xícara à boca, reclamando que o café estava frio. Aldo, como se a gozar a desdita do amigo, tomou a xícara, sem antes gabar-se de não se incomodar com o café frio. Bebeu de um só trago. O café escaldante desceu-lhe a garganta, os olhos marejaram, enquanto “Zé Areia” gozava com a sua traquinagem.
Outro frequentador da Praça 7 de Setembro foi “Seu Estevinho”. Ao fim de sua jornada no “A República”, subia a pé a ladeira da Ribeira e fazia ponto com os amigos na Praça, até que os raios do sol fossem consumidos no horizonte. Bem informado e galanteador, não lhe faltavam notícias da política e da imprensa.
“Seu Estevinho” costumava tomar o bonde que passava ao lado da Praça 7 de Setembro, vindo da Ribeira e que contornava a Praça André de Albuquerque. Saltava na Avenida Rio Branco, mais próximo de sua residência. Enquanto viajava, curulchiava as operárias que vinham das fábricas da Ribeira. E desde que a conversa fluísse proveitosa, “Seu Estevinho” exercitava seus dotes românticos e a conquista se tornava o objeto da viagem.
Dado o entusiasmo da prosa, não raro, “Seu Estevinho” esquecia o ponto de saltar. Quando dava por si, o bonde já se encontrava na Praça Ferreira Chaves, no Alecrim, trocando de bancada e de motorneiro. Havia chegado ao fim da linha.




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