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16/10/2020

 EVOCAÇÕES


Valério Mesquita*

Não precisa ser macaibense (filho da terra) para constatar o vazio da presente campanha eleitoral em comparação com os anos, 50, 60, 70 e até das últimas décadas. Basta mesmo ser macaibeiro (aquele que reside lá e veio de fora). O município parece um cemitério.. É o povo com fastio da política e da eleição. Lembro-me das passeatas daqueles anos que varavam as madrugadas. Rios de gente, janelas abertas, acenos, luzes, fogos. Uma multidão andando ou pulando ao som da música obedecendo ao comando do líder porque acreditava na palavra, no homem e na mensagem. Os bares, as praças, as esquinas viravam palanques dos eleitores que incensavam os escolhidos e queimavam os depurados.

Tempo dos gestos espontâneos da mulheres na madrugada da passeata, oferecendo um copo de leite ao líder cansado e caminhante. Tempo do povo romeiro que acendia velas votivas em louvor da vitória do seu candidato. Hoje nem vota e ainda mais roga praga. O que aconteceu com o povo ou com a cidade? Mudaram eles ou mudamos nós Nessa política até parece que Macaíba está sob o toque de silêncio. No interior, corre a notícia que não haverá eleição este ano. Os comícios de bairro na cidade até agora não aconteceram um sequer para acordar galinha. Diria que a política perdeu o charme, o glamour, o encanto, a confiabilidade, o rumo e o prumo. Sim, porque política é contágio, é cumplicidade, é atitude e participação, enfim, tudo aquilo que vibra, que vive, que estimula uma sociedade inteira a partilhar do processo democrático do voto do destino de um povo.

Evoco esses fatos porque eles existem. É só comparar, refletir sobre o passado recente e o presente. As ruas estão desertas e as mensagens dos candidatos não mais atingem os ouvidos do povo.

Eleger candidato de fora, aí o município perde a identidade, o sentimento nativista, o amor telúrico. Passar o comando de uma prefeitura, de um poder público de um cunhado para a sua cunhada, como quem troca um carro, uma moto ou uma bicicleta, é querer esconder papel safado, oculto, tudo por debaixo do pano. Por isso, o povo perdeu o canto, o encanto e o gosto de entoar nas ruas que é proibido cochilar.

Saindo do papo político, gostaria de evocar aqui e agora um amigo que se foi há algum tempo. Partilhamos das fases da adolescência e da maturidade. Filho único de Emídio Pereira Filho e Maria Nazaré Madruga Pereira, Marcos Vinicius Madruga Pereira ainda se mantém vivo na minha memória como o garotão da motocicleta, o paquerador, o dançarino do Pax Clube, o amigo político fiel e dedicado, o caminhoneiro de longo curso, apesar de tudo e dos reveses que enfrentou na vida. Vinicius, o pescador, o caçador que ficava de “mutuca”, como gostava de dizer, para atingir a presa. Vinicius, conquistador e galante, louco por “pivetes”, como tratava as namoradinhas, que se refletiam nos seus olhos azuis, herdados de D. Nazaré. Relembro-o com sentimento de saudade. Foi um homem que teve tudo que quis, mas sofreu muitas perseguições e a todas sobreviveu. Valeu a pena revivê-lo com ternura e amizade. 

(*) Escritor









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