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02/11/2019


MACAÍBA EM ALVOROÇO

Valério Mesquita*

O juiz Cícero Martins de Macêdo Filho é meu amigo desde os anos setenta, quando residiu em Macaíba. Apreciador de “causos” do folclore local e colecionador também, pedi-lhe que me enviasse alguns do seu arquivo confidencial. Aí vão quatro deles, prá começo de conversa. Com a palavra Dr. Macêdo.
01) Um amigo da juventude e da boemia de então, cujo nome não vou declinar por razões pessoais, estava perdidamente apaixonado por uma bela moça, evangélica, recatada e pura, para quem desejava fazer uma serenata. Programada a serenata, chamou a mim e outros colegas, e tivemos a idéia de chamar para cantar e tocar o nosso amigo Luiz Marcos Damasceno, o popular Mosquito, excelente cantor e violonista. Duas da manhã e várias garrafas depois, chegamos à casa da jovem, no centro da cidade. No mais absoluto silêncio, nosso amigo pediu baixinho para Mosquito cantar uma canção de amor. Violão em punho, o vozeirão de Mosquito soou na madrugada os seguintes versos: “Boneca de trapo/ Pedaços da vida/ Que vive perdida/ No mundo a vagar.” A serenata terminou ali mesmo.
02) Meu amigo de fé e irmão camarada, Romeu Augusto, era uma figura extraordinária. Adorava fazer “presepadas”. Íamos a tudo quanto era festa e forró. Certa feita, fomos a uma festa em Ielmo Marinho. Baile rolando, Romeu tira uma garota para dançar. Música lenta, o “mago” começa a apertar a menina. Aperta, aperta, e de repente ela empurra Romeu e sai do salão. Quando olhei estava ele de braços abertos, todo lânguido, dizendo: “Chegue minha filha, chegue, eu tava quase gozando!”
03) Francisco Paulino da Silva, o popular Xixico, era uma das figuras mais espetaculares que conheci. Amigo de todas as horas, sempre foi um leal (e bota leal nisso!) eleitor da família Mesquita. Na década de 70, estava em São Paulo, onde trabalhava e para onde tinha transferido o seu título de eleitor. Era dia de eleição e nosso amigo, triste por estar longe de Macaíba e não poder votar na família amiga, resolveu não ir às urnas e foi passear pelas ruas de São Paulo. Foi quando encontrou no chão um santinho de propaganda de um candidato cujo nome era “Professor Mesquita”. Não teve dúvida. Votou no cara só pelo nome Mesquita. Guardando o santinho da propaganda. Isso é que era lealdade!.
04) José Alcides Lucena era uma figura impagável. Morava na rua Teodomiro Garcia, quase no centro da cidade. Notório contador de piadas e portador de hemorróidas crônicas, certa vez me contou o seguinte: Estava com uma crise aguda. De madrugada, sem conseguir dormir com as dores e o incômodo na região anal, procurou em casa um remédio que costumava usar. Não tinha. Foi no armário do banheiro e encontrou um pote de Iodex, remédio usado para contusões e que arde profundamente. Não teve dúvida: pegou um punhado e aplicou na região já esfoliada. Curioso, perguntei: “Zé, e aí, passou?” E ele: “Rapaz, passar passou, mas só depois que cheguei na Lagoa das Pedras, da carreira que dei!” A Lagoa das Pedras ficava a uns cinco quilômetros da casa do grande Zé de Alcides, como o chamávamos.
(*) Escritor.

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