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18/06/2018

COBERTURA - JARDIM


Cobertura de Rubem Braga


18/06/2018


texto Gustavo Sobral e ilustração Arthur Seabra


Rio de Janeiro/RJ. Cobertura do edifício Barão de Gravatá, Ipanema, praça General Osório. Um oásis se esconde no céu e de lá se avista o infinito do mar. Praia e cidade lá embaixo. Como um alvissareiro, o cronista escolhe o que ver de binóculos, luneta, ou a olhos nus, da rede, do banquinho do jardim, do parapeito, pela janela, e tudo que se vê é o mundo.


O mundo exterior. Porque ali nos metros quadrados da cobertura se construiu uma fazenda, um sítio, um jardim, que, além de plantas de árvores, pomar e horta, recebe a visita de passarinhos. No dentro, há uma biblioteca e uma galeria permanente de quadros mutantes, porque seu colecionador vendia, comprava. E tinha Segall, Dijanira, Guinard, Di Cavalcanti e muita coisa da turma moderna e da arte brasileira.


A mudança e a posse daquela babilônia ocorreram em 1964 e de lá o cronista Rubem Braga só saiu para deixar definitivamente a vida. A planta foi feita pelo arquiteto Sérgio Bernardes, com alterações do proprietário. A engenharia é obra faraônica: duas lajes impermeabilizadas, mais uma terceira camada impermeável, bandejas de alumínio para conter o crescimento das raízes das árvores e quarenta centímetros de terra.


O jardim é quadrado e a varanda tem sua vista para o Atlântico. Morava sozinho e tinha um seleto grupo de amigos que chegava sem avisar. Não se batia na porta, sempre aberta. Ali ele se escondia na sua timidez e no silêncio. Passarinho, flores, fatos da vida, os amigos, o humor são a felicidade que se encontrava nas pequenas coisas do dia. A felicidade do observador da vida, o exercício da crônica que é viver em voz alta.



Rubem Braga trouxe para a crônica o sopro da renovação e tudo partia da sua relação com o ambiente e com a casa, refúgio, posto de observação, terreno para meditação, escrita e trabalho. A crônica, a casa, tudo matéria da vida. Da rede no terraço, de um banco de madeira no jardim, o cronista registrava o mundo e, mais que o mundo, registrava a vida.

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