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29/03/2018

SEMANA SANTA


MAIS UMA SEMANA SANTA
PADRE JOÃO MEDEIROS FILHO
Iniciamos no domingo mais uma celebração da Semana Santa. Já no século IV, Santo Agostinho recomendava aos fiéis de Hipona a vivência do Tríduo Pascal. Talvez aflorem às nossas mentes apenas sentimentos de tristeza, dor, sofrimento, paixão e cruz. Há algo de fundamental: Cristo derrota o pecado e a morte. “Aos vencedores as palmas da vitória”! Eis o sentido dos ramos aclamando o Filho de Deus, como Rei e Senhor da História. Mas, “O meu Reino não é deste mundo” (Jo 18, 36), declarou Cristo. Muitos contemporâneos de Jesus (como alguns cristãos, hoje) não compreenderam os motivos de sua condenação. Cristo atingiu, pela pregação de sua doutrina e pelo testemunho de sua vida, as estruturas da sociedade do seu tempo, representando uma ameaça para os que dominavam e oprimiam o povo. Pelo seu Evangelho, Ele veio instaurar novos tempos (Ap 21, 5). 
“É preciso completar em nossa carne aquilo que faltou à cruz de Cristo” (cfr. 2Cor 4, 10), eis o pensamento do apóstolo Paulo. Deste modo, a Semana Santa não é meramente o memorial ou a comemoração da Paixão do Senhor. É também a celebração de nossas decepções, inquietudes, dificuldades e indignações. Este ano, presenciamos o desrespeito à vida e à pátria, os inócuos embates políticos e julgamentos polêmicos, desprovidos de compromisso com o bem-comum, alguns eivados de partidarismo. Isso dá-nos uma ideia daquilo que vivemos na Semana Santa, ou seja, a nossa cruz. Cristo afirmara: “O discípulo não é maior do que o Mestre” (Mt 10, 24). Deste modo, estamos sujeitos a percorrer o mesmo caminho de Jesus. É nossa paixão e morte. Somos o Corpo Místico de Cristo, por isso atualizamos em nossas vidas o que acontecera, há dois mil anos. 
Mas, não só de tragédias, fracassos, derrotas e tristezas é feita a vida humana. A Ressurreição de Cristo é a vitória sobre a maldade. “Confiança, eu venci o mundo” (Jo 16, 33) Assim, celebramos igualmente no Domingo de Páscoa nosso triunfo sobre o pecado e a morte. Cristo ressuscitou e já não morre mais! Há uma versão corrente de que as ideias de um ser humano não morrem. Cristo é imortal não só pelos seus ensinamentos, sobretudo porque é o Filho de Deus. “Ó morte, onde está o teu aguilhão?” (1Cor 15, 55). 
Nesta Semana Santa sepultemos o egoísmo, a falta de solidariedade, a indiferença, a violência, a injustiça, a insensibilidade, o radicalismo político e ideológico, enfim, nossos pecados. É necessário haver uma Sexta-Feira Santa para cada um de nós, onde crucificaremos tudo o que é negativo, para haver Domingo de Páscoa. Mas, a paixão e a ressurreição não são atos isolados. Eles foram precedidos da Quinta-feira Santa, que é a celebração da unidade e da fraternidade. Haverá Páscoa, se existir comunhão; ressurreição, se o amor se faz presente. 
Não podemos esquecer que a última mensagem de Cristo não foi o silêncio da morte, nem seu último gesto o túmulo lacrado. A Semana Santa é o convite da Igreja a acreditar que nossa cruz é também libertadora e se Ele ressuscitou, também nós haveremos de ressurgir de tudo aquilo que nos deixa prostrados e abatidos. É preciso ter sempre em mente que Deus levanta-nos ao alto de nossas cruzes para que possamos divisar melhor o que Ele nos reserva de belo e grandioso, capaz de nos assegurar paz e alegria. São Paulo já dizia que Deus confunde os fortes e poderosos com a aparente fraqueza humana. Aquilo que aos olhos do mundo parece nossa derrota, será a nossa vitória, pois é a força divina em nós! 
A Semana Santa é a resposta suprema de Cristo e dos cristãos ao desafio cotidiano e permanente do mal. É a manifestação do amor infinito de Jesus por nós. Neste ano, vamos celebrar o sofrimento de Cristo na vida de tantas vítimas da violência ou insegurança de nossas cidades, os injustiçados pela ganância, pela exclusão da terra, pelos que não têm direito a tratamento digno e adequado. Rezemos a fim de que haja Páscoa para todos, passagem da tristeza à alegria, da derrota à vitória, da morte para a vida!

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