MAIS UMA SEMANA SANTA
PADRE JOÃO MEDEIROS FILHO
Iniciamos no domingo mais uma celebração da Semana Santa. Já no
século IV, Santo Agostinho recomendava aos fiéis de Hipona a vivência do
Tríduo Pascal. Talvez aflorem às nossas mentes apenas sentimentos de
tristeza, dor, sofrimento, paixão e cruz. Há algo de fundamental: Cristo
derrota o pecado e a morte. “Aos vencedores as palmas da vitória”! Eis o
sentido dos ramos aclamando o Filho de Deus, como Rei e Senhor da
História. Mas, “O meu Reino não é deste mundo” (Jo 18, 36), declarou
Cristo. Muitos contemporâneos de Jesus (como alguns cristãos, hoje) não
compreenderam os motivos de sua condenação. Cristo atingiu, pela
pregação de sua doutrina e pelo testemunho de sua vida, as estruturas da
sociedade do seu tempo, representando uma ameaça para os que dominavam e
oprimiam o povo. Pelo seu Evangelho, Ele veio instaurar novos tempos
(Ap 21, 5).
“É preciso completar em nossa carne aquilo que faltou à cruz de
Cristo” (cfr. 2Cor 4, 10), eis o pensamento do apóstolo Paulo. Deste
modo, a Semana Santa não é meramente o memorial ou a comemoração da
Paixão do Senhor. É também a celebração de nossas decepções,
inquietudes, dificuldades e indignações. Este ano, presenciamos o
desrespeito à vida e à pátria, os inócuos embates políticos e
julgamentos polêmicos, desprovidos de compromisso com o bem-comum,
alguns eivados de partidarismo. Isso dá-nos uma ideia daquilo que
vivemos na Semana Santa, ou seja, a nossa cruz. Cristo afirmara: “O
discípulo não é maior do que o Mestre” (Mt 10, 24). Deste modo, estamos
sujeitos a percorrer o mesmo caminho de Jesus. É nossa paixão e morte.
Somos o Corpo Místico de Cristo, por isso atualizamos em nossas vidas o
que acontecera, há dois mil anos.
Mas, não só de tragédias, fracassos, derrotas e tristezas é feita a
vida humana. A Ressurreição de Cristo é a vitória sobre a maldade.
“Confiança, eu venci o mundo” (Jo 16, 33) Assim, celebramos igualmente
no Domingo de Páscoa nosso triunfo sobre o pecado e a morte. Cristo
ressuscitou e já não morre mais! Há uma versão corrente de que as ideias
de um ser humano não morrem. Cristo é imortal não só pelos seus
ensinamentos, sobretudo porque é o Filho de Deus. “Ó morte, onde está o
teu aguilhão?” (1Cor 15, 55).
Nesta Semana Santa sepultemos o egoísmo, a falta de solidariedade, a
indiferença, a violência, a injustiça, a insensibilidade, o radicalismo
político e ideológico, enfim, nossos pecados. É necessário haver uma
Sexta-Feira Santa para cada um de nós, onde crucificaremos tudo o que é
negativo, para haver Domingo de Páscoa. Mas, a paixão e a ressurreição
não são atos isolados. Eles foram precedidos da Quinta-feira Santa, que é
a celebração da unidade e da fraternidade. Haverá Páscoa, se existir
comunhão; ressurreição, se o amor se faz presente.
Não podemos esquecer que a última mensagem de Cristo não foi o
silêncio da morte, nem seu último gesto o túmulo lacrado. A Semana Santa
é o convite da Igreja a acreditar que nossa cruz é também libertadora e
se Ele ressuscitou, também nós haveremos de ressurgir de tudo aquilo
que nos deixa prostrados e abatidos. É preciso ter sempre em mente que
Deus levanta-nos ao alto de nossas cruzes para que possamos divisar
melhor o que Ele nos reserva de belo e grandioso, capaz de nos assegurar
paz e alegria. São Paulo já dizia que Deus confunde os fortes e
poderosos com a aparente fraqueza humana. Aquilo que aos olhos do mundo
parece nossa derrota, será a nossa vitória, pois é a força divina em
nós!
A Semana Santa é a resposta suprema de Cristo e dos cristãos ao
desafio cotidiano e permanente do mal. É a manifestação do amor infinito
de Jesus por nós. Neste ano, vamos celebrar o sofrimento de Cristo na
vida de tantas vítimas da violência ou insegurança de nossas cidades, os
injustiçados pela ganância, pela exclusão da terra, pelos que não têm
direito a tratamento digno e adequado. Rezemos a fim de que haja Páscoa
para todos, passagem da tristeza à alegria, da derrota à vitória, da
morte para a vida!