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18/02/2015

PROFESSOR HOSTÍLIO DANTAS

Jurandyr Navarro
Do Conselho Estadual de Cultura

Desde os tempos imemoriais no Egito, Grécia e em Roma, apenas para citar essas três reluzentes civilizações, a Escultura se apresentou no seu apogeu mais pro­missor. As cidades, os monumentos, os templos, as estátuas, hermas encerravam a história daqueles povos. Contavam as batalhas, a vida dos heróis, dos filósofos, seus políticos e oradores, como poetas e governantes.
Os deuses da mitologia, a Esfinge do deserto, o perfil de Nefertiti, o busto de Cleópatra, a imagem marmórea de Alexandre... Na Roma imperial a mesma coisa, a arte escultural dominava a sua memória guerreira, política, cultural - efígies de César Augusto, de Cornélia mãe dos Gracos, Catão, Marco Antônio, Cícero... tudo era motivo expressado na pedra, no granito, no mármore por essa manifestação do belo artístico.
Outros encantos da Antiguidade tinham o mesmo objetivo de apreciação: o Sena­do Romano, tendo no átrio a herma de Pompeu que, impassível, assistiu a morte horren­da de Júlio César; na Acrópole Ateniense, as colunas majestosas do Partenon e a está­tua banhada a ouro de Palas Atenéia.
E os tempos modernos preservaram, na sua forma de pensar e de conceber, o espírito e essa memória cultural.
Aqui em Natal e no Rio Grande do Norte tivemos como remanescente dessa refi­nada cultura artística, um grande escultor que foi Hostilio Dantas. O seu estilete mágico desenhou na pedra informe muitas esculturas espalhadas pelo orbe potiguar. Ainda hoje esplende no alto da torre da Igreja de São Pedro, no Alecrim, o Apóstolo de corpo inteiro. Uma importante Praça pública exibe o busto do Padre João Maria, na cidade dos Reis Magos. Ambas esculturas foram do seu fino lavor. Outros trabalhos lembrados os bus­tos que ele cinzelou do Padre Luiz Monte, José Augusto, Juvenal Lamartine, João Tibúrcio, Manoel Dantas, José da Penha, José Ivo.
Dar vida figurativa a um trabalho dessa espécie é a tradução verossímil da ex­pressão de Miguel Ângelo:

"Libertar a figura do mármore
que a apresiona".

Recebia, Hostilio Dantas, encomendas de outros Estados da nacionalidade pátria, tais como Pernambuco, Paraíba e Rio de Janeiro, já que a fama do seu cinzel havia atravessado fronteiras.
O talentoso artista era também exímio professor de Desenho. Tive-o como docen­te no velho Atheneu. Na sala de aula, um dia, pegou do giz com o polegar e o indicador e traçou um enorme círculo no quadro negro, fazendo-o numa fração de segundos. Feito o círculo, ninguém distinguia o começo nem o fim do traço, tal a sua perfeição geométri­ca.
Mestre inexcedível na sua disciplina. O seu porte psicológico, recordo - tranquilo e educado, impondo-se o equilíbrio.
Na sua arte de Escultor, na época, não apareceu outro que o igualasse.
No mundo da Mitologia havia um célebre escultor chamado Pigmalião, mestre dos mestres na arte. Certa vez esculpiu uma estátua a qual devotava toda sua afeição, por julgar sua obra-prima, tal a sua perfeição. E Pigmalião batizou-a de Galatéia. E afeiçoou-se pela estátua a ponto de apaixonar-se.
E dirigia-lhe a palavra. E tal a sua paixão que invocou à deusa Vênus que a trans­formasse numa mortal, sua semelhante, sendo o pedido aceito.
As esculturas de Hostílio Dantas tinham, aproximadamente, essa perfeição esté­tica. Só faltava ele repetir o famoso escultor de Florença, na época da Renascença italiana, dirigindo-se à estátua por ele trabalhada de Moisés - "Fala:"         
Mas, Deus o compensou, dando-lhe estátuas falantes e bonitas, que foram as suas filhas. Lembro-me de uma delas, docente, também, da disciplina do pai, cuja graça e elegância parecia a silhueta formosa de Afrodite, saindo das ondas... Desfilava, na sala de aula, perturbando a meninada, porque não se portava tal Laura Novelle d'Andrea, que lecionava, na Europa, com o rosto coberto por um véu, para que a sua beleza não desvi­asse a atenção do seus alunos.
A saudade envolveu o nome artístico de Raimundo Hostílio Dantas, inesquecível escultor da nossa Cidade, e saudoso professor do velho Atheneu.

3 comentários:

  1. Leio essas palavras de Jurandyr Navarro com emoção, depois de tanto tempo, porque se referem ao meu querido avô materno, com quem convivi bons anos, após a morte da minha mãe. Junto com a minha irmã e irmão mais velhos mudamos de Recife e fomos para o Rio de Janeiro. Moramos num apartamento em Copacabana. Além de avô foi, também, segundo pai e educador. Com ele aprendi desenho, história, geografia, francês, matemática. Boas lembranças.

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    1. Este comentário foi removido pelo autor.

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    2. Boa tarde, apesar da postagem ser um pouco antiga eu gostaria de saber se há a possibilidade de obter mais informações sobre esse grande artista que foi Hostílio Dantas. Infelizmente é difícil encontrar informações sobre o mesmo (Datas, biografia, e etc.), o que nos leva a refletir sobre o apagamento de grandes artistas. Se for possível estabelecer um contato, seria um imenso prazer, não apenas saber mais sobre o artista, mas a pessoa por trás das obras. Abraços.

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