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21/02/2015

NOSSO GRANDE MAESTRO



WALDEMAR DE ALMEIDA

Jurandyr Navarro
Do Conselho Estadual de Cultura

 O Maestro que empolgou Natal com seus concertos não foi um gênio como pia­nista, tal os virtuoses internacionais da divina arte. Todavia, a sua vocação aflorou na sua infância, causando admiração a sua fina sensibilidade artística. Veríssimo de Melo grafou, num dos seus escritos, ter ele, aos dez anos de idade, interpretado uma Sonata de Beethoven, no palco do então Teatro "Carlos Gomes", desta Capital.
O genitor, Cussy, aproveitou e estimulou a doce inspiração, incentivando e facultando-lhe esmerada educação teórica e instrumental. Estudou, então, Waldemar de Almeida, nos grandes centros mundiais da época: Rio de Janeiro, Alemanha e França. Os seus estudos na Europa se prolongaram por longos seis anos.
Foi ele quem introduziu, no Rio Grande do Norte, o magistério dotado de metodologia na arte divina. Ele, o primeiro dirigente do Instituto de Música do Estado, criado na Interventoria federal Bertino Dutra.
Registro do jornal "A República", periódico desta Capital, cuja coleção se constitui num dos melhores acervos culturais do nosso Estado, em data de 26 de setembro de 1933, expõe ter sido da autoria do Dr. Anphilóquio Câmara, quando de sua investidura na Presidência da Associação dos Professores e ocupando a Diretoria do Departamen­to de Educação, o Ato de 1º de Março de 1932, que instituiu o primeiro Orfeon escolar do Rio Grande do Norte. Foi, assim, esta Portaria, o ato oficial precursor da Musica e Can­to, nas Escolas potiguares.
Tive o grato ensejo de ter sido aluno de Waldemar de Almeida no Orfeon (Coro), do Marista. Nos ensaios, durante a semana, o grande Maestro deixava-se trair pelo arrebatamento temperamental. Não raro, advertia, aos brados, os percalços dos seus discípulos, infantes ainda. Não tolerava cantor desentoado. Assim mesmo, recebeu sempre o aplauso geral pela sua conduta de professor exemplar. Chamava atenção, aos inocentes olhos curiosos, os detalhes da cena: o balanço da sua papada, e a vasta cabeleira, que acompanhavam o ritmo de seus gestos, ora cadenciados, ora rápidos e enérgicos, na condução da ondulação sonora da sublime música sacra.
A pessoa do Maestro exercia, para o alunado, uma espécie de atração magnética, para a qual todos os olhares se fixavam. E ele, envolvido no transe do encantamento da arte divina, poderia até se transportar ao azul sidéreo, onde a deusa Urânia marca o compasso da dança das estrelas.
Aos domingos, todos em veste de gala - o fardão branco, decorado de botões e platinas dourados - entoavam o canto orfeônico, na Missa solene. Uma vez, o Maestro trouxe uma bela flautista, que encheu os olhos deslumbrados da meninada. Ía fazer o Solo, antecedente ao Canto: - a Cadenza. Foi um sucesso.
Depois de doar-se à Música natalense mais de metade dos anos da sua fecunda e proveitosa existência, resolveu o grande Maestro, residir no Recife, onde continuou na sua amada vocação. Lá, com o prestígio do seu nome, destacou-se dentre seus cole­gas de profissão. E foi eleito o primeiro Presidente da Ordem dos Músicos do Estado de Pernambuco.
Fui seu contemporâneo da Faculdade de Direito do Recife, onde ele se diplomou em Ciências Jurídicas e Sociais, aos cinquenta anos de idade.
Dedicou uma vida inteira aos estudos: das belas Artes e depois do Direito. Perten­ceu aos quadros da Academia Norte-Rio-Grandense de Letras, como Sócio Fundador, desde 1936, na Cadeira nº 18, cujo Patrono é Augusto Severo de Albuquerque Maranhão.
Nasceu em Macau, por acaso ou por desígnio celeste. A senhora, sua mãe, pres­tes a dar luz, em viagem, pernoitou na linda terra salineira, aos 24 de Agosto de 1904, quando nasceu o menino Waldemar.
Faleceu na Paulicéia em 26 de Maio de 1975.
Diante do exposto, impõe-se uma conclusão espontânea: o maestro Waldemar de Almeida é um nome dos mais expressivos da evolução da Música do Rio Grande do Norte.






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