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12/07/2014

JN




MONSENHOR
EXPEDITO MEDEIROS


Jurandyr Navarro
Procurador do Estado, aposentado, e Presidente
Honorário Vitalício do Instituto Histórico e Geográfico do RN

"Existe, no Rio Grande do Norte, um trabalho perfeito e notável de Desenvoívimento de Comunidade, na cidade de São Paulo do Potengi. Trabalho elogiado por órgão técnico da ONU e que conheço de perto, pois lá estive e fiquei maravilhado. Trata-se de um empreendimento do Mons, Expedito Medeiros, trabalho admirável, realizado sem alarde, em silêncio, anonimamente".

A observação acima, em outras palavras, é do laureado professor Luiz Carlos Mancini, uma das maiores autoridades no assunto, em cujo setor de atividades era representante do Brasil nas Nações Unidas. Menção feita por ocasião da aula inaugural, por ele ministrada aos alunos dos cur­sos populares do M.D.C., de nossa Capital.

Semelhante apresentação, expressada em público por uma inconteste autoridade na matéria, bastaria para consagrar em definitivo um nome.

Mesmo sendo jejuno no assunto, não desconhecia a ímpar realiza­ção do conhecido sacerdote, que consumiu a vida numa cidade afasta­da, e que só via uma coisa neste mundo: O pobre.

Visitei por várias vezes o "Movimento de Potengí", como denomi­nam os jornais europeus ao trabalho desse padre magricela e duro na queda!

Em todas as viagens empreedidas, notava a sua casa cheia de gente. Sempre cheia . Não para pedir esmolas: Todo indigente exibe na face a máscara da tristeza e do sofrimento. E o pessoal que lá se aglomerava trazia sempre um sorriso nos lábios a iluminar o rosto feliz.

Às vezes, pelo caminho de volta, ficava a meditar sobre o que ha­via observado. E fazia a mim a indagação: Como pode viver feliz aquela gente que vai à casa do Mons. Expedito, quando é notório que leva uma vida de padecimentos!? E concluía por um paradoxo! Por uma contradi­ção!

Mas não era. O padre dera vida espiritual intensa àquela gente hu­milde. A sua orientação aprumada criara uma nova mentalidade naque­le povo simples e bom, para enfrentar os rigores da vida árdua do campo: Bendizer ao seu Deus o que lhe dava, suportando a adversidade com hu­mildade e resignação.

É que Mons. Expedito realizou obra magnífica que não encontra similar na espécie. Tudo idealizado por ele e levado a efeito com paciência, sacrifício e muita luta.

Fez parte, também na linha de frente do Movimento de Natal, liderado por Dom Eugênio Sales, movimento social abridor de um leque imenso para as obras sociais da Igreja Católica.

Era ele um homem  de vasta visão em relaçao, também, à cultura. Na pesquisa que empreendi sobre a figura do Padre Luiz Monte, ele, seu contemporâneo, e o Cônego Jorge O’Grady, muito me incentivaram e me cederam material relativo à psicologia da Dor, no ângulo da arte e do sentimento, assim como em relação ao espiritismo, temas estudados por aquele sacerdote de saber múltiplo.

Tive a felicidade de assistir a algumas missas por ele celebradas, em São Paulo do Potengi. Logo na primeira delas, notei uma coisa estranha no recinto daquela Igreja surra­da pela erosão do tempo. É que vi muitos homens em volta do altar como se estivessem a proteger aquela magra figura de homem envolto em para­mentos litúrgicos, a oficiar o santo sacrifício.

Logo depois, outra surpresa agradável: Todos aqueles homens, rudes na aparência, a cantar com a simplicidade de meninos, e depois a comungar, como se estivéssemos no dia da Quinta-Feira Grande!

Foi lá que evidenciei ter sido o primeiro lugar onde a Sagrada Me­sa da Eucaristia havia mais homens do que mulheres!

Daí vi a minha pequenez. Como me tornei um pigmeu naquele ambiente! Eu só possuía uma migalha de Fé em cotejo com a daquela gente!

E não pude evitar chorar. Às vezes, o pranto dispensa o comple­mento das lágrimas. É o choro amargo que experimentou São Pedro, quando negou a Jesus.                                         

Não sei se foi de vergonha ou de emoção, diante daquele espetáculo comovente de contrição e de singeleza, de verdade e de fé.

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