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01/04/2014

Feira


 Foto: Feira do Passo da Pátria, início do Século XX
(Acervo de Giovana Paiva), tirado do blog Natal de Ontem
A Feira do Passo da Pátria

Elísio Augusto de Medeiros e Silva

Empresário, escritor e membro da AEILIJ
elisio@mercomix.com.br

Segundo Câmara Cascudo, o povoamento do Passo da Pátria data de 1780. Esta denominação foi dada pelo então presidente da Província Olinto Meira, para registrar a façanha do General Osório na Guerra do Paraguai, quando ele atravessou o Rio Paraná de uma margem a outra, penetrou no território paraguaio e derrotou as tropas de Solano Lopez.

Todos os sábados, em finais do século XIX, o local da feira do “Passo da Pátria” estava cheio de gente de todas as camadas sociais. Ali era um ponto de abastecimento das famílias.

Desde as cinco horas da tarde, desciam pela íngreme ladeira empedrada moças, rapazes, senhoras e cavalheiros, soldados, comerciantes, cabeceiros, funcionários públicos, pescadores, marchantes, mundanas...

No pátio, próximo ao Rio Potengi, ficavam os botequins e as barracas de venda de picado, caldo de cana, refrescos. O local era também muito frequentado pelas bancas de jogos: jogo de dados, “jaburu”, carteado...

No outro lado, ficavam as bancas que vendiam tapiocas de coco, alfenins de açúcar com figuras de animais e flores, sequilhos de goma, broas, doces secos, pés de moleque, biscoitos de goma e de araruta, cuscuz, etc. Próximo, ficavam as grandes mesas de madeira, onde serviam café com bolachas secas, pães, bolos e grudes de Extremoz.

Algumas barracas vendiam cachaça com sarapatel, mocotó de boi, tripa de porco assada – local apreciado pelos boêmios. Perto dessas barracas não faltavam os tocadores de viola, sanfona, que a guisa de uns trocados animavam o local com modinhas da época. A cachaça corria solta, e a polícia sempre estava por perto para evitar os furtos e desordens.

Por todo o pátio, espalhavam-se as barracas de carne verde, peixe, crustáceos e outros que vendiam carne de “miúças”: bode, porco e carneiro. Existiam ainda as bancas que vendiam produtos do sertão; queijo de coalho e manteiga, chouriços, carne-seca, manteiga de garrafa...

Algumas bancas vendiam frutas, verduras e legumes. As bancas de cereais vendiam feijão, arroz, farinha da terra. Alguns feirantes dedicavam-se ao comércio ferragista de lamparinas, candeeiros, urinóis, facões, panelas, baldes, etc.

Não existia luz elétrica no local – somente chegaria em 1932, na gestão do prefeito Gentil Ferreira.

Às oito horas da noite, as famílias se retiravam e o “Passo” ficava entregue aos boêmios e mulheres da vida que não tinham hora para se retirarem do local.

Logo depois estava formada a “Sabatina”, um baile semanal que se realizava na casa do mestre João Contente, um endinheirado bodegueiro do local. Ali as danças se estendiam até a madrugada, sob os olhares vigilantes da polícia para evitar brigas e desordens sangrentas.

Essa feira do “Passo da Pátria” permaneceu sendo frequentada até a inauguração do mercado da Cidade Alta, quando caiu em declínio e desapareceu.

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