Foto: Feira do Passo da Pátria, início do Século XX
(Acervo de Giovana Paiva), tirado do blog Natal de Ontem
A Feira do Passo da Pátria
Elísio Augusto de Medeiros e Silva
Empresário,
escritor e membro da AEILIJelisio@mercomix.com.br
Segundo
Câmara Cascudo, o povoamento do Passo da Pátria data de 1780. Esta denominação
foi dada pelo então presidente da Província Olinto Meira, para registrar a
façanha do General Osório na Guerra do Paraguai, quando ele atravessou o Rio
Paraná de uma margem a outra, penetrou no território paraguaio e derrotou as
tropas de Solano Lopez.
Todos
os sábados, em finais do século XIX, o local da feira do “Passo da Pátria”
estava cheio de gente de todas as camadas sociais. Ali era um ponto de
abastecimento das famílias.
Desde
as cinco horas da tarde, desciam pela íngreme ladeira empedrada moças, rapazes,
senhoras e cavalheiros, soldados, comerciantes, cabeceiros, funcionários
públicos, pescadores, marchantes, mundanas...
No
pátio, próximo ao Rio Potengi, ficavam os botequins e as barracas de venda de
picado, caldo de cana, refrescos. O local era também muito frequentado pelas
bancas de jogos: jogo de dados, “jaburu”, carteado...
No
outro lado, ficavam as bancas que vendiam tapiocas de coco, alfenins de açúcar
com figuras de animais e flores, sequilhos de goma, broas, doces secos, pés de
moleque, biscoitos de goma e de araruta, cuscuz, etc. Próximo, ficavam as
grandes mesas de madeira, onde serviam café com bolachas secas, pães, bolos e
grudes de Extremoz.
Algumas
barracas vendiam cachaça com sarapatel, mocotó de boi, tripa de porco assada –
local apreciado pelos boêmios. Perto dessas barracas não faltavam os tocadores
de viola, sanfona, que a guisa de uns trocados animavam o local com modinhas da
época. A cachaça corria solta, e a polícia sempre estava por perto para evitar
os furtos e desordens.
Por
todo o pátio, espalhavam-se as barracas de carne verde, peixe, crustáceos e
outros que vendiam carne de “miúças”: bode, porco e carneiro. Existiam ainda as
bancas que vendiam produtos do sertão; queijo de coalho e manteiga, chouriços, carne-seca,
manteiga de garrafa...
Algumas
bancas vendiam frutas, verduras e legumes. As bancas de cereais vendiam feijão,
arroz, farinha da terra. Alguns feirantes dedicavam-se ao comércio ferragista
de lamparinas, candeeiros, urinóis, facões, panelas, baldes, etc.
Não
existia luz elétrica no local – somente chegaria em 1932, na gestão do prefeito
Gentil Ferreira.
Às
oito horas da noite, as famílias se retiravam e o “Passo” ficava entregue aos
boêmios e mulheres da vida que não tinham hora para se retirarem do local.
Logo
depois estava formada a “Sabatina”, um baile semanal que se realizava na casa
do mestre João Contente, um endinheirado bodegueiro do local. Ali as danças se
estendiam até a madrugada, sob os olhares vigilantes da polícia para evitar
brigas e desordens sangrentas.
Essa
feira do “Passo da Pátria” permaneceu sendo frequentada até a inauguração do
mercado da Cidade Alta, quando caiu em declínio e desapareceu.
Nenhum comentário:
Postar um comentário