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01/04/2014




           

AS IRMÃS ALCÂNTARA BRASILEIRA
Por: Gileno Guanabara, advogado

Izabel Maria de Alcântara Brasileira, a primeira, filha primogênita da união quase matrimonial do Príncipe Regente, Pedro I, com a marquesa de Santos. Nos seus primeiros anos de vida gozou da intimidade do irmão, Pedro II, com quem brincava nos festins da freguesia de São Cristovão. Reconhecida a paternidade, por ato oficial de filiação acordado, aos cinco anos de idade, Izabel Maria foi tirada da convivência com a mãe e, por decisão paterna, foi internada no Colégio Sagrado Coração, em Paris, onde, com a maioridade, seria ordenada freira.

Em súplica feita na hora da sua morte, Pedro I pediu a sua esposa, Dona Amélia de Leutchenberg, que teve filhos, para que amparasse a sua filha bastarda e dela cuidasse devidamente. Assim ela o cumpriu. Da Europa, onde viveu exilada, na condição de ex-imperatriz do Brasil, Dona Amélia, através de carta, dava notícias aos de cá. Certa vez, notificou o Imperador Pedro II que havia contrariado a última vontade do pai da menor. Havia transferido Izabel Maria para o Instituto Real das Moças, de Munich, desfazendo o projeto de ter na família uma freira. O intuito foi de prepará-la para o casamento bem sucedido na Alemanha.

O imperador Pedro II, acompanhou à distância o crescimento da irmã natural, cujos laços de sangue também reconheceu pelos afetos que lhe dispensou. Recebia cartas periódicas da cunhada, dando conta da beleza e os esforços que mantinha com a ajuda da madre superiora do educandário, a fim de arranjar um bom casamento para a enteada.  

A maior preocupação que a curadora manifestava era o valor da herança que o pai, no caso, seu marido, ao morrer, deixara em favor da filha e de outras dádivas que lhe fizera em vida, somando o valor de 500.000 francos, o que dificultava a efetivação de um bom casamento. Sugeriu ao imperador um presente de núpcias, em dinheiro ou diamantes, para compor o dote. Revelou D. Amélia que a rainha de Portugal, irmã do imperador, Dona Maria da Glória, se comprometera com a doação de um valor, tornando possível um bom casamento e existência felizarda da sobrinha. D. Pedro II remeteu a importância de 50.000 francos ouro, enquanto que a irmã dispôs 100.000 francos, ao que se somaram mais 50.000 francos doados pela madrasta.

Izabel Maria de Alcântara Brasileira, duquesa de Goiás, filha legitimada de Pedro I, príncipe regente do Brasil e ex-rei de Portugal, com o dote de um pouco mais de 500.000 francos, tornou-se apta a contrair casamento. Em outubro de 1842, D. Amélia, a duquesa de Bragança, comunicou ao Imperador Pedro II os termos do contato de casamento da afilhada com o fidalgo Ernesto Fischler, conde de Truberg, barão de Holzen, filho da princesa real de Hohenzollern Simaringen, grande dignitário da Ordem de Rosa. O casamento realizou-se em abril de 1843, perante a corte do rei da Baviera.

Maria Izabel de Alcântara Brasileira, a segunda filha de Pedro I e Domitila, Irmã de Izabel Maria que ficara no Brasil, criada em São Paulo, sob os cuidados da mãe. Casou-se com o conde de Iguassu, de quem, em pouco tempo, se separou. Teve vida familiar atormentada por fuxicos e aventuras que vinculavam amores fugazes e a vida atribulada de sua mãe. A convivência da marquesa de Santos com os problemas existenciais de sua época custou um preço. Sobre Maria Izabel, condessa de Iguassu, refletiram as turbulências vivenciadas por sua mãe. De beleza igual a da irmã primogênita, teve um destino conflagrado, apesar de igual pecúnia e do mesmo nome que herdou. Pela atribulação de sua vida conjugal, rogou uma praga antecipada ao ex-marido, que fosse direto para o purgatório.

 Domitila enfrentou preconceitos religiosos, em razão da convivência extraconjugal tornada pública, que manteve com o príncipe regente e que resultou o nascimento das duas filhas. Aderiu à causa da independência, convivendo com a agitação dos maçons e a corrupção de padres católicos; influiu sobre as dubiedades políticas de Pedro I, diante da oportunidade entre fundar um novo império e os direitos presuntivos à coroa portuguesa. A influência de Domitila sobre o príncipe regente, a ponto de ver-se condecorada marquesa, contrariava os interesses conservadores da sociedade, bem como se antepunha aos representantes da Corte Portuguesa que insistiam nas tentativas de recolonizar o Brasil.

 Izabel Maria, a quem se destinou a sina de ser freira, terminou sendo a condessa de Treuberg. Teve vida meritória na corte da Europa. Com a morte do marido, em 1867, confessou em carta ao irmão, Pedro II, “... amei o meu inesquecível marido como poucas mulheres terão amado o companheiro de sua vida.”.

Izabel Maria e Maria Izabel, filhas de D. Pedro I, ex-imperador do Brasil e ex-rei de Portugal, irmãs de Pedro II, Imperador do Brasil, ambas nascidas das entranhas e do pecado de Domitila, a marquesa de Santos, tiveram vida e ideários diferenciados, independentemente de suas vontades.

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