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16/11/2013


Luís, o paladino da desesperança

Tomislav R. Femenick – Membro da diretoria do Instituto Histórico e Geográfico do RN


 


Luís Carlos Prestes (1898-1990) foi um militar e político brasileiro. Formou-se em engenharia pela Escola Militar do Rio de Janeiro e serviu como tenente-engenheiro na Companhia Ferroviária de Deodoro, até ser transferido para o Rio Grande do Sul.

Foi um dos mais destacados lideres do “movimento tenentista”, uma série de rebeliões político-militar, deflagrada por oficiais de baixa e média patente das forças armadas brasileiras, acontecida na década de 1920. Os jovens militares se posicionavam contra o sistema político nacional de então, dominado pelas oligarquias estaduais. Em 1924, militares rebelados de São Paulo, comandado por Miguel Costa, partiram em direção ao sul do país. O capitão Prestes aderiu à revolta e, liderando um grupo de Santo Ângelo-RS, se dirigiu ao Paraná, onde se juntou aos paulistas, formando um contingente de cerca de 1.500 homens.

A Coluna Prestes (como o contingente passou a ser conhecido) percorreu 25.000km pelo interior do Brasil, em um período de 29 meses, promovendo uma “guerra de movimentos” contra as forças do governo, num episódio idealístico e romântico, porém sem qualquer possibilidade de êxito. No final de 1926, sem condições de continuar a luta, a coluna se refugiou na Bolívia, de onde o seu líder – já conhecido como o “Cavaleiro da Esperança” – foi para a Argentina, onde se dedicou ao estudo do marxismo.

Em 1930 Prestes se posicionou contra a revolução getulista e no ano seguinte foi para a União Soviética, onde foi eleito membro da comissão executiva da Internacional Comunista. Quatro anos depois voltou ao Brasil acompanhado da mulher, a comunista alemã Olga Benário, e comandou a Aliança Nacional Libertadora. Em 1935 dirigiu o episódio conhecido como a “insurreição comunista”. Com a derrota da intentona, Prestes perdeu a patente de capitão e foi preso durante nove anos. Sua mulher, mesmo grávida, foi deportada para a Alemanha nazista e morreu no campo de concentração de Ravensbrück.

Todavia a história de Prestes tem muitas facetas, como o caso de Elvira Cupello Colônio (Elza Fernandes ou Garota), uma moça semianalfabeta, que não sabia o que era comunismo ou revolução, doméstica, irmã de um membro do Partido Comunista Brasileiro e amante de Antonio Maciel Bonfim (Miranda ou Alberto Fernandes), secretário-geral do partido. Quando os líderes da insurreição de 1935 começaram a ser presos, recaíram sobre o casal suspeitas de que um ou outro (ou os dois) tinha fornecido à polícia nomes de militantes comunistas. Elza foi julgada e condenada à morte em 16/17 de janeiro de 1936, por um tribunal revolucionário do partido. Como a decisão não foi unânime, Prestes escreveu aos julgadores chamando-os de medrosos e exigindo que Elvira fosse executada. A carta diz: “Fui dolorosamente surpreendido pela falta de resolução e vacilação de vocês. [...] Por que modificar a decisão a respeito da ‘garota’? [...] Com plena consciência de minha responsabilidade, desde os primeiros instantes tenho dado a vocês minha opinião quanto ao que fazer com ela”. Elvira, com apenas 16 anos, foi estrangulada com um fio de varal.

Com o fim do Estado Novo, em 1945, Prestes assumiu o cargo de secretário-geral do PCB e manifestou apoio a Getúlio Vargas, defendendo a sua permanência na presidência; o mesmo Getúlio que o prendera e que deportara sua esposa para a Alemanha nazista. Naquele ano elegeu-se senador, porém seu mandato foi cassado dois anos depois, passando a viver na clandestinidade em virtude de um mandato de prisão que somente foi suspenso em 1958. Em 1964, com a ditadura militar, teve seus direitos políticos suspensos por dez anos e novamente foi moram na União Soviética. Em 1979 regressou ao Brasil, em função de decretação da anistia, todavia as novas lideranças do partido o destituíram do comando do PCB. Em 1982 foi expulso do partido.

Gazeta do Oeste. Mossoró, 08 nov. 20113

O Jornal de Hoje. Natal, 12 nov. 2013

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