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11/07/2013

O BAIRRO DA RIBEIRA


                   Gileno Guanabara.

O Bairro da Ribeira se ateve nos limites da Cidade Baixa, circundado pelo Rio Potengi, entre as “Roccas” e o nascituro Bairro da Cidade Alta. Numa faixa que se estendia desde a “Campina”, como era chamada, sujeita às enchentes das marés altas, a Ribeira ganhou projeção urbanística, haja vista o comércio conjugado à agitação do cais da Avenida Tavares de Lira. A população de suas ruas e becos viu edificarem-se igreja, teatro, praças, escolas, grassou o pecado, pois funcionavam plenamente os “estabelecimentos de distração”.

Dentre os logradouros mais importantes da Ribeira tem-se a Avenida Tavares de Lira. Privilegiada durante o Governo de Alberto Maranhão, ganhou arborização com fícus benjamim, calçamento a paralelepípedos, postes e a passagem do bonde elétrico. Desde o cais, onde ancoravam os vapores e a banda de música tocando para os que aportavam, a Avenida Tavares de Lyra se estendia até os jardins da Praça José da Penha (ex-Praça Leão XIII). Ao fundo destacavam-se as construções do “Monte Belo”, ofuscados depois pela presença da Igreja do Bom Jesus, com suas torres retilíneas e sinos musicais.  Avenida dos carnavais do confete, das serpentinas e lança-perfumes; dos carros Ford l929 e do proselitismo revolucionário, com os “meeting” das caravanas da Aliança liberal. A majestosa presença do Hotel Internacional, de cujas sacadas os partidários da revolução, faziam discursos inflamados perante a multidão. Batista Luzardo, Café Filho, Neves da Fontoura, Kerginaldo Cavalcanti, (A Patativa do Norte), incendiavam os populares com a eloquência dos discursos.

Outra via de importância do Bairro foi a Rua do Comércio (atual Rua Chile). À margem direita do Rio Potengi, cruzava a Avenida Tavares de Lyra, seguia em direção à Explanada Silva Jardim e ao Edifício Fernando Costa. Nela residiu Ferreira Itajubá. Funcionou a usina de beneficiamento de algodão de Wharton Pedrosa; funcionaram os armazéns de secos e molhados das famílias Lettieri, Morelli, Machado e Suassuna e ainda a empresa de beneficiamento de algodão Sanbra. Os clubes de remo. Lá estava a Estação da Estrada de Ferro (atual sede da CBTU). Os trilhos seguiam a Rua em direção ao Bairro das Roccas. A sede da Alfândega instalada ao final da Rua desde 1840.  Entre o prédio da Estação e o da firma Wharton Pedroza, o espaço aberto para o Rio, servia de depósito aduaneiro.

A Rua Dr. Barata antes fora Rua Visconde de Rio Branco. Famílias ali residiram. Notabilizou-se pela atividade comercial. Empórios como Galvão Mesquita; Farmácia Brasil; Armazém Lamas; A Cooperativa de Crédito de Ulisses de Gois. A Livraria e Papelaria Pereira; Alfaiataria Londres; A Nova Aurora, dentre outros. Ainda na direção Sul/Norte, a Avenida Sachet que passou a chamar Avenida Duque de Caxias, arborizada com fícus benjamim, canteiros centrais e residências. Nela se construiu o Edifício Alves Billa e residiu o médico Januário Cicco.

Outra via pública, no mesmo sentido, a partir da Praça Augusto Severo, era a Rua Senador José Bonifácio, que passou a ser “Rua das Virgens”, atual Rua Câmara Cascudo. De moradias residenciais, lá nasceu Luis da Câmara Cascudo. Apontando ao Nascente, a Rua General Glicério. Caminhou desde os fundos da Igreja do Bom Jesus, em direção aos jardins da Lagoa do Jacó, com residências, indústrias e serviços públicos (Usina de Algodão de João Câmara e o Estádio de futebol e a Estação Central Ferroviária).

Durante o Governo de Alberto Maranhão, o Bairro da Ribeira foi alvo das construções que lhe deram a atual configuração, tendo por área central a Praça Augusto Severo. Nesse aspecto, o prédio do Banco do Povo (atual Rádio Cabugi); o Edifício Fernando Costa; O Banco do Brasil, os bondes da Cia. Municipal de Transporte, cuja rota interligou a Ribeira aos demais bairros do Sul da cidade.

 O encantamento do Zepelim e a tradição do Café “Cova da Onça”, fechado em decorrência dos boatos políticos. Certa feita, Café Filho em visita ao “Cova da Onça”, foi vítima de um tiro. Jogou-se ao chão. No momento era seu acompanhante o correligionário Abelardo Calafange, que em disparada gritava: “chame um médico”... ”Chame um médico”. Ele próprio era médico.  A Peixada Potengi e os saraus gastronômicos de Cascudo. Os pecados da Rua 15 de Novembro. O albergue do “Beco da Quarentena”. O descortino de Aluísio Alves e o periodismo de A Tribuna do Norte; o Jornal do Comércio de Theodorico Bezerra; a presença do Teatro Carlos Gomes, da Escola Augusto Severo, da Escola Doméstica de Henrique Castriciano, e a Estação da Great West. O Grande Hotel na Praça José da Penha que acolheu governantes, artistas e militares, são marcas de épocas diferentes que contribuíram para as transformações urbanas que estavam por vir.

A Ribeira que durante o dia conciliava a noção pueril de vida pachorrenta, dolente, à noite se via festiva na alegria dos “estabelecimentos de distrações”, como eram chamados os cabarés e as boates. Na polaridade de tais extremos, a Cidade do Natal viveu intensamente aquele momento, tendo em vista se tornar moderna apesar de tudo. Enquanto os holofotes da guerra não causavam preocupações maiores, a Ribeira viveu infestada de vitrolas, luzes e boemia.

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