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12/07/2021
A COMADRE QUASE CEM
Diogenes da Cunha Lima
A “Peixada da Comadre” é marco nascente da gastronomia
potiguar. A atual administração, sob o comando principal do bisneto
Daniel, cuja gestão contará com outros parentes gestores,
programa a reinvenção do estabelecimento com festividades
comemorativas e realizações culturais, permanecendo a tradicional
comida boa.
Há noventa anos, a “Comadre” servia caldos de peixe no
Canto do Mangue. Sonhava estabelecer-se com uma peixada.
Pediu quatro contos de réis emprestado a Dinarte Mariz. A casa foi
comprada e apropriada à função, sob orientação generosa do
engenheiro Malef Victório de Carvalho. Economizando, dois anos
depois, a nova empresária foi liquidar o empréstimo. Dinarte
recusou: “O que que eu vou fazer com quatro contos? O dinheiro é
seu, minha comadre”.
O cardápio tem sido o mesmo durante todo esse tempo. A
cada dia é renovado o peixe, tirado do mar. São sempre estes:
sirigado, garoupa, bicuda, galo do alto e arabaiana, cozidos ou
fritos. O camarão potiguar é servido frito na manteiga ou em
omelete. Verduras e legumes têm tempero simples, especial.
Acompanham o ouro do pirão, ou o pirão coberto (de pescador).
A empresa se mantém pela participação da família. Os irmãos
ajudam. Na cozinha, Laíse e Lúcia trabalham com verduras e
tempero verde. Servem de apoio Heriberto e Gilberto, saladeiros.
No salão, os prestimosos garçons Davi, Claudio e Jerônimo.
A “Peixada da Comadre” identifica Natal. Tem clientela de
notáveis e visitantes ilustres. Por exemplo, Luis da Câmara
Cascudo (grande incentivador). São lembradas a frequência do
presidente Café Filho, governadores do Estado, senadores,
deputados, dos juristas Seabra Fagundes, Carvalho Santos,
Neemias Gueiros, dos ministros Moreira Alves e Francisco Rezek.
Muitos artistas, entre eles, Fagner e Eva Wilma. Líderes políticos do
interior não dispensavam o almoço na “Peixada da Comadre”
quando vinham a Natal. Desde o chefe João Medeiros, de Jardim
de Angicos, a Florêncio Luciano, de Parelhas.
A “Comadre” passou por crises financeiras até instalar-se
definitivamente na Praia do Meio, Ponta do Morcego, onde é
embalada pelo quebrar das ondas nos arrecifes, com bela visão do
mar. Nas dificuldades, o grupo familiar contou com o apoio de
empresários, amigos e admiradores. Destaco Issa Hazbun, Luiz
Cirne e José Lucena.
O entusiasmado Daniel explica a fortaleza e o êxito da
“Peixada da Comadre”: “O principal tempero é o afeto”.
Da programação para a redesenhada “Peixada”, consta uma
cadeira do “Imortal da Comadre”. Com nome e imagem das
personalidades que ajudaram com afeto, estímulo e presença
constante. Fixado na parede, sob foco, o livro essencial de Luis da
Câmara Cascudo: “História da Alimentação no Brasil”.
Vamos continuar provando o sabor do afeto da quase
centenária “Peixada da Comadre”.
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