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26/03/2021

Comendadores pontifícios do RN Padre João Medeiros Filho “Façamos o elogio de homens ilustres, nossos antepassados, através das gerações”, recomenda o Livro do Eclesiástico ou Sirácida (Sr 44, 1). A comenda é uma condecoração concedida a pessoas que se destacam em suas áreas de atuação. O Vaticano outorga esta honraria a leigos que prestam relevantes serviços à Igreja. Costuma agraciar por meio de cinco instituições. São as ordens do Santo Sepulcro, Soberana de Malta, São Pio X (Piana), São Silvestre e São Gregório Magno. Esta detém a precedência sobre as demais. Conferem quatro graus: cavaleiro, dama, oficial e comendador, sendo este o mais alto. Seus detentores desfrutam de privilégios junto à Sé Apostólica, como, trânsito livre nas dependências pontifícias e direito à saudação protocolar da Guarda Suíça. Além das insígnias próprias, são contemplados com brasão e heráldica personalizados. No século passado, o Rio Grande do Norte foi aquinhoado com cinco comendadores pontifícios. Justas e merecidas homenagens. O primeiro é Luís da Câmara Cascudo, ícone de nossa cultura. Levantou os dados dos registros (cartas régias, decretos imperiais, leis provinciais, provisões diocesanas etc.) da criação de nossas paróquias, até os idos de 1950. O Capítulo IX de sua História do Rio Grande do Norte volta-se para a tarefa de evangelização da província. Publicou numerosos estudos sobre vultos religiosos potiguares. Dom Marcolino Esmeraldo de Souza Dantas, quando arcebispo de Natal, solicitou ao Papa condecorar o renomado pesquisador e antropólogo. Entretanto, coube a Dom Eugênio de Araújo Sales, bispo auxiliar, a entrega do galardão, que o metropolita havia pleiteado, pois, na ocasião, Dom Marcolino já padecia de cegueira total. Otto de Brito Guerra é a expressão da liderança intelectual católica de nosso estado. Jurista e mestre de gerações, detentor de inúmeros títulos, membro de alguns movimentos e irmandades, distinguia-se também pelo elevado saber místico-teológico, especialmente no campo da Doutrina Social da Igreja. Sobre esta temática possuía, à época, a mais completa biblioteca da América Latina. Contribuiu para a organização das emissoras rurais de nossas dioceses. O Concílio Vaticano II deve-lhe muitas páginas da Constituição “Guadium et Spes”. Seus artigos em jornais e revistas revelam a profundidade de seu pensamento religioso. Outro homem marcado pelo cristianismo é o professor Ulysses Celestino de Góis. Consagrou-se como alma das cooperativas de crédito, incentivador do ensino da contabilidade e, durante anos, dirigente da Congregação Mariana de Natal. Esta veio a ser uma grande escola de formação católica, a exemplo do Centro Dom Vital (RJ), celeiro de tantos líderes cristãos, como Tristão de Athayde, Sobral Pinto e outros. Em gratidão a seu trabalho apostólico, o Sumo Pontífice outorgou-lhe a comenda, reconhecendo igualmente sua piedade e devoção à Virgem Santíssima. Além disso, foi um mecenas para nossa arquidiocese. Hélio Mamede de Freitas Galvão era, sem dúvida, um católico convicto e fervoroso de nossa terra. Tive a honra de ser seu aluno no Seminário de São Pedro, em Natal. Homem de sólida fé, piedoso e probo, foi o defensor ardoroso do patrimônio das paróquias, por vezes, dilapidado pela incúria ou desconhecimento dos gestores. Prestou incomensurável contributo à pacificação do RN. Seu parecer canônico-jurídico – a pedido do bispado de Caicó – em defesa da candidatura de Monsenhor Walfredo Gurgel ao governo do estado, foi técnico e convincente. Respondendo à diocese seridoense e autorizando a candidatura daquele eclesiástico, Dom Sebastião Baggio, Núncio Apostólico no Brasil, assim se expressou: “Brilhante peça jurídica. Vislumbra-se no autor a fé profunda de um autêntico cristão.” Há poucos meses, foi juntar-se aos eleitos de Deus o último comendador pontifício norte-rio-grandense João Wilson Mendes Melo. Educador, advogado, historiador, jornalista, membro de várias irmandades e assessor do arcebispado. Dirigiu diversas instituições de ensino e tornou-se o formador de muitas consciências na Congregação Mariana de Natal, enquanto responsável pelas palestras, cursos e retiros dos congregados. A Igreja muito deve a esses filhos, voltados para assuntos eclesiais. Constituíram a vanguarda do pensamento e do laicato católico potiguar. Tal tarefa deveria ser incentivada pelas faculdades de teologia, cujo objetivo consiste também em responder ao desafio de pensar o Evangelho e sua inculturação junto ao povo. A maior recompensa desses eminentes conterrâneos é a glória celestial, pois “seus nomes estão inscritos no Livro da Vida” (Lc 10, 20).

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