Usado em
vão o nome
de Cristo
Tomislav R. Femenick – Mestre em economia, com extensão em sociologia e história
Um caso que chegou ao TSE, pedindo a cassação
do mandato de uma vereadora goiana, por ter praticado abuso de poder religioso
durante a campanha, trouxe à discussão a não tão estranha relação das religiões
com o poder. Basta lembrar que, desde as mais antigas civilizações, há uma
simbiose entre as partes, da qual ambas tiram proveito. Foi assim na
Mesopotâmia, no Egito, na China, na Índia, na América pré-colombiana e nas
tribos da Terra Brasilis.
Entretanto, foi na Idade
Média e nos anos que lhe seguiram que essa situação aflorou, dando lugar
a inúmeras crises religiosas. Considere-se
que o homem
europeu típico
dessa época era um
místico por excelência,
que “reduzia
à religião tudo
quanto concernia às condições
de vida, quer
fossem políticas e materiais,
quer morais”
(CORVISIER, s.d.).
Nesse período
histórico, a Igreja Católica
tinha enorme poder temporal.
Se uma parte considerável
do clero se preocupava com a vida espiritual e declarava votos
de pobreza, uma outra
se dedicava inteiramente às lides mundanas. A igreja
era uma grande
proprietária de bens
materiais, o Papa
era um
príncipe que
tinha exércitos
e dirigia pessoalmente suas guerras; e reinava
sobre os reis.
O ponto inicial do movimento
contra a presença
da Igreja na vida
temporal foram as obras
de Erasmo de Rotterdam, principalmente seu livro “Elogio da Loucura”, editado em 1511, onde
dizia: “Sua Santidade
glorificada possui terras, cidades, domínios
e recebe impostos e taxas.
E é sobretudo para
defender e conservar
essa rica aquisição
que os pontífices
romanos costumam condenar
as almas (...) e, sem
piedade, empregam o ferro
e o fogo para
sustentar as suas
razões” (ROTTERDAM, 1971). Todavia, sua obra crítica foi mais
além e condenou o comportamento
da sociedade como
um todo.
Erasmo, que era
filho de um
padre, foi ele
mesmo padre,
secretário de bispo,
professor particular
e reitor; rejeitou ser
cardeal. Apesar
de criticar a Igreja,
ele não deu seu
apoio aos reformistas; na sua opinião bárbaros e fanáticos.
Os movimentos
de confrontação com o poder da igreja
viriam principalmente com Lutero, Calvino e a Igreja
Anglicana, todos
eles desposando ideias coincidentes com o pensamento
de Erasmo.
Martinho
Lutero, padre e doutor
em teologia,
iniciou o seu confronto com Roma, em 1517. Suas
pregações visavam a criação
de uma igreja nacional,
autônoma, a supressão do celibato, do luxo
e da usura. Advogava a manutenção da hierarquia
social e eclesiástica.
O movimento progrediu nos Estados alemães, conquistou a Suécia, a Dinamarca e parte da Suíça,
e penetrou na Boêmia, na Hungria, na
Transilvânia e na Lituânia. Porém o movimento se subdividiu, aparecendo as correntes dos “sacramentários”,
“anabatistas” e “menonitas”.
Calvino (Jean
Calvin), francês e doutor em Direito, deu
início ao seu movimento em Genebra, na Suíça, em 1541. Para
ele, o destino
de cada pessoa
era previamente traçado por Deus. A riqueza seria uma dessas demonstrações.
E quanto maior
fosse a riqueza maior
a graça divina.
Suas ideias se
propagaram nos Países-Baixos, na
Alemanha renana, na Boêmia, na Hungria,
na Polônia, na Inglaterra e na Escócia. Entretanto, seu
campo mais
fértil foi a França.
A reforma
inglesa teve várias facetas. A Igreja Católica,
além de possuir
grandes domínios,
impunha à Inglaterra um pesado imposto, o anatas.
Apesar disso, a reforma luterana não
encontrou ali apoio
expressivo. As constantes mudanças de orientação
religiosa do reino só se estabilizam em 1563, com a adoção pela Igreja Anglicana
de uma hierarquia e culto
de aparência católica
e um dogma
próximo ao calvinismo.
Uma das características da época foi
a intolerância religiosa.
Todos perseguiam e matavam seus contestadores. E não nos esquecemos da
Inquisição. E todos usavam em vão o nome de Cristo.
Que isso nos sirva de exemplo a não ser seguido.
Nenhum comentário:
Postar um comentário