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24/06/2020


Festa de São João Batista
Padre João Medeiros Filho

O culto a São João Batista é bastante difundido no Brasil. Doze dioceses (inclusive a arquieparquia dos ucranianos de rito maronita, em Curitiba) lhe são dedicadas. É titular de centenas de igrejas e capelas espalhadas pelo país. No período colonial era muito venerado (junto com os anjos e arcanjos) pelos jesuítas. Câmara Cascudo registra esse fato e explica a devoção ao Precursor do Senhor em várias localidades potiguares. Segundo o historiador, aqueles missionários catequisaram Arês e disso resulta o orago de São João naquela comunidade. Os sacerdotes da Companhia de Jesus alternavam os patronos das populações por eles evangelizadas. Por exemplo, em Extremoz, São Miguel foi escolhido como protetor. A freguesia de Assú, de acordo com Cascudo, foi a segunda a ser criada na Província e tem São João Batista como padroeiro. Em Jucurutu, cuja paróquia teve parte de seu território desmembrada do Assú, o patrono original era São Miguel. Naquela região, situam-se São Rafael e São Miguel, ambas próximas de Angicos, cuja denominação primitiva era “Curral dos Padres” (em alusão aos jesuítas, que não se intitulam frades). Mais adiante, em Apodi, erigiu-se um templo dedicado a São João Batista e Nossa Senhora da Conceição. A esta veneração dos discípulos de Inácio de Loyola ao Precursor do Messias acrescente-se a de Dom João VI, igualmente seu devoto.
Desde os primeiros séculos do cristianismo, celebra-se a festa do filho de Zacarias e Isabel. Trata-se do último profeta que precede a vinda do Salvador. Com ele encerra-se o Antigo Testamento. Seu nome significa “Deus é misericórdia” ou “dádiva divina”. Ainda hoje, sua natividade é uma das festas mais populares, especialmente no Nordeste, contando com folguedos e comidas típicas. Reza uma tradição – carecendo de comprovação histórica – que o seu nascimento foi anunciado por meio de uma grande fogueira, pois seu pai ficou mudo, durante a gravidez de Isabel, não podendo se comunicar por palavras. A sua vinda é um importante acontecimento na vida do Povo de Deus. O próprio Cristo o define como “o maior entre os nascidos de mulher” (Mt 11, 11).
Quando se admira alguém, manifesta-se o desejo de aprofundar o conhecimento. Tratando-se de pessoa simples, acessível e sem ares de superioridade, tem-se a sensação de que se está diante de uma pessoa especial. João Batista é uma dessas figuras carismáticas, marcadas de humildade. “É preciso que Ele cresça e eu diminua” (Lc 3, 30), manifestou-se assim a respeito do Salvador. Não desejava aparecer e, por isso, tornou-se asceta no deserto. Um versículo bíblico resume seu desprendimento: “Depois de mim vem Aquele, do qual nem mereço desamarrar as sandálias” (Mt 3, 11). Jamais colocou sua pessoa acima da mensagem. Para João o essencial é o Filho de Deus.
Preparou-se durante anos para pregar o “Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo” (Jo 1, 29). Existem aqueles que saem anunciando Cristo, ao sabor do primeiro entusiasmo, confundindo os ensinamentos do Mestre com seus próprios interesses e ideologia, sem profundidade e convicção. João convidou o povo do seu tempo a rever suas práticas e costumes. Denunciou os erros, a injustiça, corrupção, falta de ética dos governantes de seu tempo e a dissolução dos costumes. Arriscou a sua própria vida. Viveu o que afirmara Tertuliano: “Temer somente a Deus e nunca aos homens”. Ou, como descreve o evangelista: “Não temais aqueles que matam somente o corpo” (Lc 12, 4). Lucas narra a seu respeito: “Crescia e se fortalecia em espírito. Vivia nos lugares desertos, até o dia em que se apresentou publicamente a Israel” (Lc 1, 80). João começou sua atividade profética longe dos centros de decisão e poder. Mostra-nos como deve ser a atitude do seguidor de Jesus, sobretudo no Brasil de hoje, onde se zomba do Povo de Deus e há tanta degradação de valores. Seu exemplo de coragem e despojamento permaneça vivo entre nós, especialmente na Igreja cuja missão é pregar a Palavra de Deus! Como ele, Monsenhor Lucas Batista Neto – que hoje aniversaria e cuja primeira paróquia tinha São João Batista como orago – seja por ele abençoado!

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