Manoel de Barros – o poeta onírico
Escutando as coisas boas que ainda circulam nas redes de
divulgação nacional, atento, me deparo com os comentários de filósofo,
educador, palestrante, escritor e pensador Mário Sérgio Cortella (1954) sobre o
poeta Manoel de Barros.
Afinal, quem foi e o que representou o poeta cuiabano para a poesia brasileira no século XX?
Manoel Wenceslau Leite de Barros (Manoel de Barros – 1916-2014)
nasceu em Cuiabá/MT, no ano de 1916. Em 1937, debutou na poesia com o livro
intitulado “Poemas Concebidos sem Pecados”. Em 1996, publicou a sua mais
conhecida obra, o Livro sobre Nada. Em 1986, o poeta Carlos Drummont de Andrade
o reconheceu como o maior poeta brasileiro vivo.
O filólogo Antonio Houaiss, assim se expressou sobre a
poesia de Barros: “A poesia de Manoel Barros é de uma enorme racionalidade. Suas visões oníricas num
primeiro instante logo se revelam muito reais, sem fugir a um substrato ético
muito profundo. Tenho por sua obra a mais alta admiração e muito amor”.
Somente em 1980 seu trabalho foi valorizado nacionalmente,
graças à divulgação e ao reconhecimento de suas obras pelo desenhista,
humorista, dramaturgo, poeta, escritor e jornalista Millôr Fernandes, quando o
poeta passou a receber vários prêmios literários, como o Jabuti, em 1987, com “O Guardador de Águas”;
seus livros passaram a ser publicados
e valorizados em outros países, como Portugal, Espanha e França.
O poeta faleceu aos 97 anos, na cidade
de Campo Grande/MS.
Transcrevo para o deleite dos leitores alguns pensamentos
criativos das suas geniais poesias que navegam entre o sonho e a racionalidade.
· Tudo que não invento é falso.
· Há muitas maneiras sérias
de não dizer nada, mas só a poesia é verdadeira.
· Tem mais presença em mim o que me falta.
·
Melhor
jeito que achei pra me conhecer foi fazendo o contrário.
·
O
meu amanhecer vai ser de noite.
·
Meu
avesso é mais visível do que um poste.
·
Sábio
é o que advinha.
· Não saio de dentro de mim nem pra pescar.
·
Aonde
eu não estou as palavras me acham.
·
Quero a palavra que sirva na boca dos
passarinhos.
·
Melhor para chegar a nada é descobrir a verdade.
·
O
artista é erro da natureza.
·
Beethoven
foi um erro perfeito.
·
Por
pudor sou impuro.
·
A
minha diferença é sempre menos.
· Não preciso do fim para chegar.
·
Do
lugar onde estou já fui embora.
·
Uso
a palavra para compor meus silêncios.
·
Tenho
em mim um atrazo de nascença.
·
Meu
quintal é maior do que o mundo.
·
Palavras
que me aceitam como sou – eu não aceito.
·
Tenho
“desapetite” para inventar coisas prestáveis.
·
Sobre
o nada eu tenho profundidades.
·
A
poesia está guardada nas palavras – é tudo
que eu sei.
·
Para
mim poderoso é aquele que descobre as insignificâncias (do mundo das coisas).
· Não posso mais saber quando amanheço ontem.
·
Meu
órgão de morrer me predomina.
·
A
minha independência tem algemas.
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