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28/07/2019





O Coronel Mota
Tomislav R. Femenick – Metre em economia, com extensão em sociologia – Do Instituto Histórico e Geográfico do RN

O coronel Vicente Ferreira da Mota, coronel da guarda nacional, nasceu em Apodi, em 1848, no lugar Córrego das Missões de São João Batista. Ele era filho de Antonio da Mota Ferreira e Isabel Francisca da Cunha. Segundo Raimundo Nonato (1964) “descendia de velhos troncos e de tradicional gente daquela Ribeira”. Aos cuidados do padre Antonio Joaquim Rodrigues, o vigário de Santa Luzia, foi levado para Mossoró, onde se educou e se dedicou às atividades do comércio.
De Mossoró foi para Aracati, onde abriu um negócio e se casou com Maria Ferreira da Cunha. Quando esta faleceu, casou com a sua cunhada, Filomena Ferreira da Cunha e se mudou para Martins, lugar onde nasceram quase todos os seus filhos. De Martins, Vicente Ferreira da Mota voltou para Mossoró, onde continuou se dedicando ao comércio. Era o titular de uma empresa do ramo de tecidos, louça, bebida etc. Não se tem conhecimento ao certo da data em que se estabeleceu em Mossoró como comerciante, isso porque a atividade não era de todo regulamentada na Província. Segundo Obery Rodrigues (2001), os seus negócios tiveram início antes de 1900. O nascimento do seu filho mais novo, Luiz Ferreira Cunha da Mota – mais tarde o padre e monsenhor Mota –, em 1897, em Mossoró, comprova o fato de que sua ida para Mossoró é anterior à passagem do século XIX para o XX.
 Rapidamente se integrou à vida da cidade, onde já tinha residido e praticado o comércio quando jovem. No dia 30 de setembro de 1904 se faz presente na sessão solene da Intendência Municipal, convocada para comemorar a inauguração da Estátua da Liberdade, localizada na Praça da Redenção. Quatro anos depois, em 1908, foi eleito intendente e reeleito em 1911. Em 1922, fez parte da comissão que organizou as festividades que tiveram lugar em Mossoró, para comemorar o centenário da independência do Brasil (ROSADO, 1976).
Em 1917, a razão social de sua empresa passou a ser Vicente da Mota & Cia., cujos sócios eram o próprio Cel. Mota, seu filho Francisco Vicente Cunha da Mota, Miguel Faustino do Monte, seu genro José Rodrigues de Lima, casado com sua filha Maria da Mota Lima, e Antonio Epaminondas de Medeiros. Em 1925, Miguel Faustino se afastou da sociedade, assumindo o seu lugar Henrique Maciel de Lima e Genipo de Miranda Fernandes, este último casado com Maria Helena da Mota Fernandes, uma das suas netas. A Casa Mota ocupava quatro prédios conjugados, dois que davam para a Rua Cel. Vicente Saboia e dois direcionados à Rua Idalino Oliveira. Nesse ano seu estabelecimento, além de comercializar com tecidos, louça e bebidas, vendia também alimentos enlatados, calçados, farinha de trigo, ferragens, material para trabalho na lavoura e na pecuária, querosene e combustível em lata etc. Vendia por atacado e a varejo. (RODRIGUES, 2001).
À época do ataque de Lampião à Mossoró, em 1927, o Cel. Mota, então com 79 anos de idade, dirigia a Associação Comercial da cidade. Antes do ataque, solicitou ao Presidente do Estado que fossem remetidos para Mossoró setenta fuzis e respectiva munição. Quando as armas chegaram, as distribuiu entre as pessoas que se apresentaram para compor a força de defesa. Após o ataque e o consequente fracasso do cangaceiro, o Cel. Mota encaminhou petição a diversas autoridades (presidente da República, senadores e deputados), instituições e órgãos de imprensa do Rio de Janeiro, sugerindo que a perseguição a Lampião fosse feita pelo governo federal, único capaz de realizar tal tarefa. A sua empresa, a Vicente da Mota & Cia., contribuiu financeiramente para cobrir as despesas com a defesa da cidade, contribuição se prolongou alguns meses após o ataque do bando, na forma de manutenção do Esquadrão de Cavalaria que ficou aquartelado em Mossoró, na expectativa de uma nova ofensiva por parte de Lampião (SILVA, 1965).     
            Vicente Ferreira da Mota, coronel da Guarda Nacional, e sua esposa Filomena Ferreira Cunha da Mota tiveram quatro filhos: Francisco Vicente Cunha da Mota, Vicente Ferreira Filho (Ferreirinha), Maria da Cunha Mota e Luiz Ferreira Cunha da Mota, este último, mais tarde, o padre, prefeito e monsenhor. Dois deles, Francisco Vicente Cunha da Mota e Padre Mota, e dois netos, Vicente da Mota Neto e Francisco Vicente de Miranda Mota (filhos de Francisco Vicente Cunha da Mota), ocuparam o cargo de prefeito da cidade de Mossoró, enquanto que ele mesmo foi intendente em duas legislaturas. Faleceu em Mossoró, no dia 20 de janeiro de 1942.

Tribuna do Norte. Natal, 25 jul. 2019


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