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31/07/2018
RESSURGIR DAS CINZAS
ODE A FACULDADE DE DIREITO DA RIBEIRA
Carlos Roberto de Miranda Gomes, escritor*
Num tempo, longe, se concretizava o sonho de uma Faculdade de Direito em Natal – esforço de algumas figuras singulares, dentre as quais Onofre Lopes e Otto de Brito Guerra.
Com o passar dos anos, a Faculdade fez-se respeitada e abrigou projetos e movimentos reconhecidos pela sociedade potiguar.
Nos anos de chumbo foi referência para as soluções difíceis de um período de trevas, guardando fidelidade aos princípios sagrados do Estado Democrático de Direito.
Atingida a maioridade, viu-se procurada pela mocidade e foi obrigada a procurar maior espaço, outro chão e o encontrou. Contudo, não esperava que ficasse no esquecimento a velha Casa do Saber.
Mas foi o que aconteceu. Perdida num bairro em decadência, ficou sozinha e os vândalos destruíram parte do seu corpo, mas não o seu espírito, que agora luta para retornar à vida plena – ressurgir das cinzas.
Estamos nessa cruzada e conclamamos seus ex-alunos e ex-professores para um somatório de forças. VENCEREMOS!
A LUTA JÁ COMEÇOU:
MINISTÉRIO DA CULTURA
INSTITUTO DO PATRIMÔNIO HISTÓRICO E ARTÍSTICO NACIONAL - IPHAN
Divisão Técnica do IPHAN-RN
Superintendência do IPHAN no Estado do Rio Grande do Norte!
Relatório Nº 0622307/2018
Assunto: Vistoria na edificação localizada na Praça Augusto Severo, 261, Ribeira, Natal/RN.
Processo: 01421.000206/2018-89
1. Venho informar sobre a vistoria realizada em 30 de julho de 2018 às 9horas, no Grupo Escolar
Augusto Severo (GEAS), solicitada pela reitora da UFRN, Ângela Maria Paiva Cruz em reunião ocorrida em 24 de julho de 2018 às 14horas, para dirimir dúvidas sobre o Auto de Infração A00002.2018.RN sei (0597254) e as possíveis soluções para os problemas apresentados.
2. A vistoria foi acompanhada pelos servidores do IPHAN/RN Randrik Fernandes, Engenheiro Civil e por Ivanildo Soares da Silva, Técnico I- Engenheiro Civil. Representando a UFRN, foram os Arquiteto Sileno Cirne, Chefe da Segurança José de Anchieta de Freitas e o Engenheiro do Setor de Manutenção, Evaldo Cabral. Além destes, compareceram a vistoria, o representante da OAB, Advogado Juan Almeida e o Prof. Carlos Roberto de Miranda Gomes, Assessor da Presidência do IHGRN.
3. A vistoria teve início no horário agendado. Os servidores da UFRN foram acompanhados pela equipe de segurança, que adentrou ao prédio e fez uma vistoria inicial para certificar a não presença de moradores de rua.
4. A equipe da IPHAN/RN iniciou o diálogo, informando que fez um levantamento das solicitações de intervenções da UFRN para aquela edificação e muitos destas não tinham sido executadas, e que estas podem ser utilizados para compor a listagens de serviços emergenciais a serem executados.
Continuou reforçando a existência do Auto de Infração e seus prazos, assim como a possibilidade de formalização do termo de compromisso.
5. A equipe de UFRN explicou sobre a dificuldade gerencial na execução dos serviços já
autorizados pelo IPHAN, informou que iria realizá-las agora e questionou sobre a possibilidade de execução de fechamento do muro com tapume de madeira e instalação de concertina metálica na parte superior.
6. A equipe do IPHAN/RN respondeu que, pelas experiências vividas em centros históricos, todo e qualquer serviço de fechamento que seja implementado no prédio não terá eficiência sem a implantação de um sistema de segurança, principalmente com presença de vigilantes e que neste caso poderia ser utilizado infraestruturas provisórias como containers ou guaritas móveis para servir de base para os vigilantes.
7. O representante do IHGRN ressaltou sobre a importância da edificação para a história da cidade e da necessidade de acelerar o processo de licitação dos projetos e da obra e que a UFRN intervenha urgentemente na edificação visando diminuir seu processo de degradação e o estado de abandono.
8. A equipe da UFRN informou que irá planejar a melhor forma de prover uma infraestrutura mínima para os vigilantes e que irá realizar a limpeza interna e externa da edificação.
9. Quanto a cobertura, a UFRN informou que não tinha condições no momento de executá-la mesmo sendo provisória, a não ser que fizesse através de licitação, o que demoraria mais tempo para executá-la.
10. Foi esclarecido entre a UFRN e IPHAN/RN que as lajes desta edificação encontram muito degradadas e que necessitam de urgente escoramento de madeira.
11. Por fim, foi reforçado pelos representantes do IPHAN/RN, que a UFRN tem a possibilidade de solicitar a formalização do termo de compromisso e que todas as informações necessárias constam no Auto de Infração.
Atenciosamente,
(assinado automaticamente por)
RANDRIK FERNANDES DE SOUZA
Engenheiro Civil - SIAPE 2995909
Fiscal do IPHAN/RN
29/07/2018
O CUNHADO DE LILIU – Berilo de Castro
O CUNHADO DE LILIU –
Adail Loiola Barata (Liliu) figura
folclórica, muito conhecida que marcou época em Natal das décadas de
1950 e 60. Homem de média estatura, de boa conversa, sempre alegre,
óculos caídos no nariz, verve privilegiada e um tanto
relaxado com suas vestimentas.
Nunca levou a sério a responsabilidade com o
trabalho formal. Mesmo assim, sempre se deu muito bem com a vida que
levava, devido aos bons dotes e a sorte que possuía como um grande e
inveterado apostador.
Apostava e ganhava em tudo que era jogo.
Apostava e ganhava até em jogo de biloca. Presença contumaz nos
Estádios de futebol, salões de sinuca, rinhas de gala de raça e de
canários brigadores. Fino e esperto jogador de sinuca.
Exímio gozador.
Gostava ( talvez tenha sido o primeiro ) de a
usar a palavra “maracatu”, empregada para aquelas pessoas relegadas,
que só merecem desprezo; sem importância, sem nenhuma expressão e
valor.
Guardo a sua lembrança na memória, nos jogos
no Estádio Juvenal Lamartine, quando faturou muito dinheiro apostando
no time do Alecrim FC, nas conquistas dos títulos de 1963/64.
Nunca dividiu com ninguém os seus ganhos. Era sovina, um verdadeiro mão de vaca.
Essas figuras nem sempre conseguem levar para
sempre os seus planos e viver perenemente como desejam. “Como tudo na
vida acontece”, — já dizia o cancioneiro popular –, a vida sempre lhes
apresentam surpresas, algumas não muito boas.
E assim aconteceu com o nosso grande e
sortudo apostador. Entrou em sua vida, a figura de um cunhado. No
começo, tudo as mil maravilhas: bem empregado, boa moradia, ganhando
bem, sempre perguntando se o cunhado estava precisando
de alguma coisa, pois estava pronto para ajudar.
Gabava-se Liliu, com um largo e infindável
sorriso, que a sua irmã tinha acertado na milhar. Fora premiada com o
cartão da sorte. Benza Deus!
O tempo foi passando, e o golpe do cunhado
foi se manifestando: deixou o emprego, se achando muito cansado. Dizia
que sentia muita dor nas costas e que o trabalho estava acabando a sua
coluna, já se pronunciando, quem sabe, uma
bela hérnia de disco lombar, dizia ele.
Abandonou o emprego. A casa começou a cair: o
dinheiro desapareceu, o aluguel ficou atrasado ( e muito atrasado ).
Perdeu a moradia. Saída imediata. Morar com quem? Lógico, com o
cunhado querido. O que que não agradou em nada o
avarento apostador. Mas, cunhado é cunhado!
O novo morador, hóspede familiar, tinha
hábitos que fugia muito da rotina do cunhado. Passava o dia todo em casa
de ventilador ligado; dormia tarde vendo televisão e, ainda por cima,
não desligava o aparelho, o qual passava a
noite toda ligado. A conta de energia começou a subir. Acordava tarde,
já na hora que o cunhado vinha chegando, suado e cansado na busca de
provimentos para o lar.
O cunhado bocejando, ainda com cara se sono, não dava nem um bom dia e perguntava:
— Seu Liliu, trouxe o jornal? De cara fechada, respondia Liliu: Touxe! Qual? A República! Não gosto, só leio a Tribuna.
Na hora do almoço era o primeiro a sentar à
mesa, sem camisa, e na cabeceira, lugar por respeito reservado somente
para o dono da casa. Muito exigente, comia muito e rápido. Era também o
primeiro a pedir a sobremesa:
— Tem doce seu Liliu? Tem! Respondia Liliu.
Qual? Bananada Potiguar! Não gosto, só como goiabada cascão Cica.
Enquanto isso, ficava palitando e chupando os dentes. Liliu suava frio e
os óculos já não se sustentavam sobre o nariz.
Às 3 horas da tarde, depois da sesta profunda e demorada, sentava à mesa, já perguntando pelo lanche:
— Tem abacatada com uma torradinha quentinha com queijo de Minas?
Não, só tem mariola. Não conheço, não me cheira bem, não faz parte do meu cardápio. Embrulha o meu estômago.
No jantar, era novamente o primeiro a chegar a
mesa: tem uma sopinha de legumes com frango desfiado e uma
torradinha com manteiga Itacolomy? Não, só pão com mortadela e manteiga
de lata grande, misturada com banha de porco.
— Não como nada disso, me dá azia. Puxa! Meu
cunhado tá ganhando pouco. Não era essa a impressão que eu tinha do meu
meu querido paizão.
Moral da história: Liliu enfezado e p. da
vida, explodiu! Disse não! Mandou o mala, o folgado e o exigente
cunhado, pentear macaco, procurar e juntar batata podre na feira, uma
lavagem de roupa, passar o tempo se divertindo enxugando
barras de gelo com a língua e, ainda ir olhar se ele (Liliu) estava na
esquina.
E num grito de liberdade, com os óculos
espedaçados no chão, esbravejou: desapareça da minha vida e da minha
casa, já! Não volte mais nunca seu MARACATU PALOMBETA!!!
Berilo de Castro –
Escritor
As opiniões contidas nos artigos são de responsabilidade dos colaboradores
27/07/2018
HOMENAGEM
NADIR MEIRA GARCIA
Valério Mesquita*
Mesquita.valerio@gmail.com
Naquele dia frio e chuvoso de agosto de 2008, a Praça das Flores,
amanhecera mais triste. Havia falecido a mais antiga inquilina do seu jardim:
Nadir Meira Garcia. O casarão na confluência das ruas Dionísio Filgueira e
Joaquim Manoel estava sombrio e silencioso. O frontispício e os interiores da
casa me restituíam o casal: Enock e Nadir, numa doce e suave empatia com o
passado que aproxima as pessoas na distância do tempo e permite magicamente a
confraternização de gerações cronologicamente afastadas. Foi aí, nessa visão,
que estabeleci a simbiose perfeita com o nosso passado em Macaíba, lá no sítio
do dr. Enock, a residência urbana da família na minha meninice, ao lado dos
primos Roosevelt, Franklin, Wallace, Ana e Enoquinho.
A intercorrespondência íntima das duas memórias reveladas, faz-me captar
sinais ainda perceptíveis, rumores audíveis, movimentos distintos, brotados do
fundo da vida social, política e familiar de Macaíba dos anos quarenta e cinquenta
– que apesar de conhecidos e gastos com a morte de Nadir parece sepultar a
última herdeira desse universo desaparecido.
Mesmo aos noventa anos de idade, ela ainda detinha a energia dos
cristais, o senso agudo de observação das coisas ao seu redor. Lembro-me do seu
estilo informal de receber e acolher as pessoas, o brilho intenso dos olhos que
lembrava os da sua mãe Amélia Násia Mesquita Meira, minha tia, símbolo
admirável de fidelidade, caráter e honradez. Dela, a filha herdou a tenacidade
e a autenticidade de ser.
O que impressionava em Nadir era o lado político arrebatado, decidido e
determinado. Quando se envolvia, a política virava paixão avassaladora, pois
não sabia cultivar a neutralidade. Ainda tremulam na fachada daquela casa, como
um milagre de transfiguração, as imensas bandeiras de suas crenças partidárias,
pois não tinha medo de assumir a sua identidade coletiva. A idade avançada não
lhe trouxe melancolia nem o desinteresse pelos problemas da vida e dos filhos.
Buscava sempre o estímulo e o alento para desencadear o movimento da maturidade
de viver os netos e reviver os sonhos encantados que sonhou com o seu Enock.
Por tudo isso, não é demais reconhecer que Nadir desempenhou um papel
importante na educação dos filhos e ao lado do marido no desbravamento dos
caminhos da política, da advocacia, da administração pública e da vida do lar.
Posto-me, novamente, diante da casa da Praça das Flores na certeza de que
o passado não passa. O vento forte e monolítico finge permitir que tudo leva e lava.
Os meus olhos de vidente retrospectivo passeiam nos corredores, revendo antigas
cenas, cristaleiras, porcelanas, armários, lustres e conversas soltas de
antigas vigílias. Ali, ainda vejo Nadir e Enock cercados de filhos e netos, apascentando
o tempo e cultivando as flores.
(*) Escritor
23/07/2018
Para dormir, cama de lona
Para dormir, cama de lona
A família numerosa e a multidão de imigrantes europeus que chegaram às cidades brasileiras no tempo do ontem foram salvos pela tal cama de lona. Talvez inventada junto a praticidade, era o quebra-galho na casa das avós e tias quando havia mais um para dormir e cama não havia.
Bastava alguém dizer tragam lá aquela pinoia, e alguém ia arranjar nos guardados a cama de lona para alguém dormir. Bastava armá-la abrindo-lhe as bandas em que se fechava e estava pronta para nela deitarem. Podia ser abrigada assim na sala, no vão do corredor, no canto de algum dos quartos, e manhã cedo, quando a casa acordava, bastava desarma-la e por de volta no lugar. Escondida após missão cumprida.
Como toda cama que preste feita de cabeceira e peseira no entanto indistintas, pois cama de lona não é artigo de luxo, nem é preciso destas demarcações para dormidas furtivas e eventuais. Quem dera fosse somente utilizada para o proposito que se fez.
Deixou de ser temporária para muitos que desceram no porto de Santos e subindo pela estrada de ferro foram bater na casa do imigrante onde eram recepcionados até ganhar destino e a vida no Brasil, nelas dormindo como único abrigo, e assim, sendo cama foi casa.
Sua inspiração é a simplicidade de ser para todos, no ascético mobiliário que nasceu da carência das guerras, portanto, sem adorno, enfeite ou fausto, e assim veio pela utilidade e praticidade instalando o uso, virou peça necessária para camping, padiola para socorrer feridos, maca para os enfermos, e tomou outros designativos pela própria matéria que a constitui a armação em que se estrutura a lona, por isso também cama dobrável, de armar, elástica, de campanha e tantas quantas forem também as formas dela se nomear.
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22/07/2018
O IHGRN É UMA FESTA PERMANENTE
O INSTITUTO HISTÓRICO E GEOGRÁFICO
DO RIO GRANDE DO NORTE CONTINUA
DE PORTAS ABERTAS PARA VISITAÇÃO
TURISTAS E ESCOLAS SEMPRE PROCURAM A
CASA DA MEMÓRIA
TURISTAS VISITAM O IHGRN
REGISTRAM SUAS PRESENÇAS
ADMIRAM NOSSAS RELÍQUIAS
SAEM ADMIRADOS
ELOGIAM NOSSO ACERVO
20/07/2018
QUINTA CULTURAL DO IHGRN (Palestra e festa)
PRESENÇA
DE 3 EX-PRESIDENTES DO AMÉRICA F.C.
JUSSIER SANTOS – FERNANDO NESI E HERMANO MORAIS
DE UM GRANDE NÚMERO DE PARTICIPANTES
DAS CONFRARIAS DE NATAL,
ESPECIALMENTE OS DO CAFÉ AVENIDA.
PRESENÇA
DE MAGISTRADOS, MEMBROS DO MINISTÉRIO
PÚBLICO, PROFESSORES, ADVOGADOS,
MUITOS ESCRITORES, POETAS, MEMBROS DE
OUTRAS ACADEMIAS DE LETRAS,
ROTARIANOS, BOÊMIOS, FAMILIARES
(COMANDADOS PELO GRANDE ARQUITETO
MOACYR GOMES DA COSTA) E AMIGOS DO
ESCRITOR.
FLAGRANTES DA PALESTRA E
DA FESTA
Joventina e José Gomes Filho
O escritor e o jovem Pedro Simões Filho
O Salão Nobre do IHGRN lotado
O escritor e o Desembargador Federal Ivan Lira de Carvalho
Carlos e Guga
Professora Karoline (IPDT) e o escritor
O escritor com o Desembargador Aderson
Pausa para o cafezinho Santa Clara (Três Corações),
que fez a cortezia e abrilhantou a festa
E a fila continua grande
Fila dos amigos, protegidos por tendas para prevenir a chuva
Fila dos amigos
Ao fundo um grupo de membros da
Confraria do Café Avenida
A família Gomes, comandada pelo
Patriarca Arquiteto Moacyr Gomes
Patriarca Arquiteto Moacyr Gomes
O PAX
CLUB E SEUS HABITANTES
Valério
Mesquita*
O Pax Club de Macaíba reinou durante várias gerações, desde
o inicio dos anos cinquenta, construído pelo prefeito Luís Cúrcio Marinho. A
sua história merece um livro separadamente, evocando fatos, personagens, eventos,
tudo, enfim, que serviu densamente para projetar a história social de Macaíba.
A começar pelos nomes zoológicos e folclóricos dos garçons: Luís Bicho Feio,
Tota Passarinho, João Cabeção, Antônio Paulino, Geraldo de Doca, os cobradores
Vagareza, Chico Duzentos e Paulo Bofão, entre outros, reverenciados com humor e
saudade de um tempo que não volta mais. Um fenômeno (econômico, talvez), que
precisa ser melhor estudado acabou com a vida social dos municípios de médio
porte como Mossoró, Ceará-Mirim, Macaíba, Caicó, Currais Novos, Açu,
exceptuando-se apenas as festas anuais das padroeiras, vaquejadas, que não
significam realmente atividade social clubística, efetivamente organizada.
Até Natal mesmo sucumbiu e o chamado “Café Society”
que foi imortalizado pelos cronistas sociais do passado e os sodalícios não
existem mais. O tempo e os costumes mudaram tudo. Ficaram para a história, Gil
Braz, Fred Ayres, Jota Pifa, Paulo Macedo, Adalberto Rodrigues e mulheres
colunistas. O imenso Titanic, com todas as very
important persons, naufragou com os capitães Ibrahim Sued, Jachinto de
Thormes, etc. Que universo multifacetário reside em um clube social que abriga
frequentadores de todos os matizes, boêmios e loucos, anjos e anarquistas,
matrizes e meretrizes, mocinhos e bandidos, palhaços e mascarados?
O velho Pax teve o seu apogeu e decadência. Mas sobreviveu
graças aos seus devotados diretores e sócios, que se expuseram por um ideal ilusório
de associação, sob a égide do paletó e gravata, do bolero e do samba, da semipenumbra
que escandalizava a paróquia e alimentava a homilia dominical da santa missa. E
os flashes desse tempo me chegam nitidamente. Da jovem Carmita, míope, que,
desfilando em passarela na “Festa das Flores”, caminhou demais e foi cair sobre
a mesa da comissão julgadora; do carnaval de 60, onde a lança-perfume ardente e
vibrante de Plácido Saraiva atingia com jatos queimantes os bumbuns, suados e
frondosos, das damas da sociedade, quase registrando vitimas a lamentar; do saudoso
Emídio Pereira Filho, proferindo pontualíssimas palestras todos os anos sobre a
poetisa Auta de Souza e o aeronauta Augusto Severo, através do serviço de amplificadora
diretamente do “sodalício tradicional e elegante” da cidade; das confusões, das
brigas, do porre homérico de lança-perfume de Chiquinho Ribeiro, que o fez
desabar no rio Jundiaí; das festas juninas, quadrilhas estilizadas; do programa
“Data querida” que registrava aniversários e namoricos através do “serviço de
divulgação da Associação Pax Club, a voz de Macaíba”, e que tantos equívocos e
problemas acarretou, como o do motorista Zé Cearense, que quase apanhava da
valente mulher por causa de uma falsa “oferenda musical com muito amor e carinho”,
enviada por uma meretriz.
São quase sessenta anos de história do Pax Club, do parque
governador José Varela. Há muita coisa a contar sobre ele e os seus complexos
habitantes. Relembrando agora, vai atiçar a memória de muitos que direta ou
indiretamente passaram pela sua portaria, mesmo já tudo tendo sido prescrito e
proscrito da hoje turbulenta Macaíba.
(*) Escritor
18/07/2018
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