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30/04/2018


O POETA E O CAIS – Berilo de Castro

O POETA E O CAIS – 
O poeta e escritor Nei Leandro de Castro, sempre que volta a Natal, nas suas boas vindas da cidade do Rio de Janeiro, se une aos seus velhos e inesquecíveis amigos, com os quais procura revisitar e reviver aqueles lugares que jamais esquecera quando da sua permanência na cidade dos Reis Magos. A memória exige e reclama.
O início de sua peregrinação se dá pela rua Professor Zuza, casa de número 254, uma de suas primeiras paradas, quando deixou a sua cidade berço: Caicó. Lembra com sorrisos das embustices  exageradas dos seus personagens inesquecíveis: Galego Assis, de Pedro Bala, do primo Itamar; da mercearia de seu Matias, com suas gostosas e irresistíveis cocadas.
Volta no tempo e se deslumbra com o rio Potengi;  recorda das travessias de barco para a praia da Redinha; revive os seus momentos da infância feliz, quando ia pescar nos navios velhos, nos quebra-mares do outro lado do rio; das incursões nos  desconhecidos braços d’água  da Gamboa do Jaguaribe. Relembra a caça aos caranguejos nas marés altas, quando eles deixam suas locas e ficam de bobeira na superfície do manquezal. Volta ao Mercado da Redinha para saborear a iguaria famosa e inigualável: ginga com tapioca, acompanhada de uma geladinha, no bar de Dalila, em papos infindáveis com o fraterno amigo, Castilho.
Nessas suas andanças, revisita o centenário Estádio Juvenal Lamartine, onde como jovem atleta atuou no time juvenil do América FC, treinado por Lelé Galvão e Lu. Dizia: estou recarregando a bateria e enchendo a alma de boas e inesquecíveis recordações.
Em um desses felizes reencontros se vê na localidade da Ponta do Morcego, Praia do Meio, no bar Cais 43, recanto deslumbrante de boêmios, de paisagem indescritível do mar com a cidade. O poeta, entre um drinque e outro, na solidão da noite, tendo como testemunha a sua fiel e enamorada parceira – a lua –, escreveu em um guardanapo de papel o poema SAUDADE DE PEDRA:
         Nesta saudade de pedra
         Eu, exilado de mim
         Plantei solidão, colhi dálias, lírios e
         jasmins
         Sobre as águas vinha a lua
         Lá das bandas da Redinha
         Deu-lhe as flores,
         Perguntei se ela queria ser minha
         Em silêncio ela se foi
         Nua, bela, branca, em paz
         Só me restou mais um drinque
         À beira do caos do cais.
O  poema ficou exposto no mural daquela casa noturna, admirado, documentado e declamado pelos seus frequentadores boêmios. Um deles, Vicente Neto, um poeta musical bissexto. Cantor amador, amante da boa música. De uma voz encantadora. Ao ler e reler o poema, ficou encantado e lhe veio de imediato a inspiração de musicá-lo. Colocou melodia e a sua admirável voz transformando o poema “Saudade de pedra”, em uma belíssima Canção.
Composição: Saudade de pedra (do poema de Nei Leandro de Castro) – Música/Intérprete: Vicente Neto – 2010
Berilo de Castro – Médico e Escritor
As opiniões contidas nos artigos/crônicas são de responsabilidade dos colaboradores

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