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14/03/2018

 

 
   
Marcelo Alves

 
A maior do mundo
Tudo na cidade de Dubai é gigante: a ilha artificial em forma de palmeira, um hotel que se diz sete estrelas e por aí vai. Quase tudo que é – ou se diz – o “maior do mundo” está em Dubai: o mais alto edifício do mundo (o Burj Khalifa), o maior shopping center do mundo (o Dubai Mall) e por aí também vai. 

E olhem que, dos Emirados Árabes Unidos, federação/país do qual também fazem parte Abu Dhabi, Sharjah, Ajman, Umm al-Quwain, Ras al-Khaimah e Fujairah, o emirado de Dubai não é nem o maior, nem o mais rico e nem o mais importante. Essa posição, para quem não sabe, cabe a Abu Dhabi, cujo território corresponde a mais de 85% do que são os Emirados Árabes Unidos. E é nesse território que está o petróleo. O dinheiro, portanto. E muito. 

Comparada à capital (dos Emirados Árabes Unidos) Abu Dhabi e mais ainda se comparada a Istambul e às cidades da Índia, de onde tínhamos acabado de chegar, achei Dubai “fake”. É essa a palavra mesmo. Tudo muito grande, tudo muito limpo, tudo muito organizado, mas artificial. Uma mistura de Miami e Las Vegas, só que muito mais cara. Excetuo aqui os bairros de Deira e Bur Dubai, nos quais você pode encontrar a Dubai histórica, do comércio com a Pérsia/Irã, com seu Creek (uma espécie de canal/rio que separa os dois bairros antigos) e seus barcos e seus velhos bazares, por onde deliciosamente nos perdemos. Em Deira, entre outras coisas, visitamos o Gold Souq (ou Mercado do Ouro). Atravessamos o Creek num minúsculo barquinho, chamado de “abra”, que faz as vezes de táxi aquático. Já em Bur Dubai, antes de passearmos pelo microbairro histórico “Bastakia Quarter”, jantamos no também histórico restaurante Bait al Wankeel, às margens do Creek, cujo prédio, informa o meu guia “Lonely planet: Dubai e Abu Dhabi”, “de 1935, foi escritório da marinha mercante e é um dos mais antigos de Dubai (...)”. Um achado. Mas parece que o turista médio não se perde por ali. Infelizmente. 

Como não poderia deixar de ser, Dubai também tem – ou diz ter, já que desconfio sobremaneira dessas afirmações – a “maior livraria do mundo”. Localizada no Dubai Mall (não esqueçam: “o maior shopping center do mundo”), chama-se “Books Kinokuniya Dubai” e faz parte de uma rede de livrarias japonesas de mesmo nome. A maior rede de livrarias do Japão, por sinal, com mais de oitenta lojas espalhadas por aquele país e pelo mundo. 

Segundo o site “Visite o Dubai”, do Departamento de Turismo desse emirado, versão português de Portugal, “com uma coleção de mais de um milhão de livros, a Kinokuniya é uma gigantesca livraria que ocupa 6317 metros quadrados no The Dubai Mall. Prateleiras e prateleiras oferecem preciosidades de todos os gêneros, com obras em seis línguas diferentes. Trabalhos impressos em Inglês, Árabe, Japonês, Alemão, Francês e Chinês que proporcionam iluminação cultural à Baixa do Dubai. Para além disto, existem eventos e workshops para os mais pequenos”. 

Bom, estive lá e confirmo: muitíssimo bem localizada, em frente à entrada da estação de metrô que fica dentro do Dubai Mall, a tal Books Kinokuniya é realmente gigante (embora tenha sido ainda maior na sua antiga localização no mesmo shopping). É muito bonita, naquela profusão de cores que sempre me acalma (para não perder o costume, tirei um bocado de fotos). É mais organizada ainda, com quase tudo no lugar. Os vendedores são muito prestativos, talvez até demais, já que nada melhor do que garimpar livros, sem ajuda, por prateleiras sem fim. O acervo, já dá para intuir, é enorme, variado e excelente. Tem de quase tudo, entre livros, revistas e outras bugigangas relacionadas ao estudo e à leitura. Eu mesmo comprei duas preciosidades livrescas: uma intitulada “Novel Destinations: Literaty Landmarks from Jane Austen's Bath to Ernest Hemingway's Key West” (escrito por Shannon Mckenna Schmidt e Joni Rendon e publicado pela National Geographic Society, 2009); a outra, “Modern Book Collecting” (autoria de Robert A. Wilson e publicado pela Skyhorse Publishing, 2010). 

Mas vai aqui o grande defeito dessa excelente livraria: tudo lá é muito caro, como de praxe em Dubai. E não estou aqui comparando com a Índia, de onde tínhamos acabado de chegar. Comparo com os livros novos em dólar ou euro, que achamos nos comércios de livros americanos ou europeus. Para se ter uma ideia, na Books Kinokuniya Dubai, nos livros editados no EUA e na Europa, por cima do tradicional preço da contracapa, é sempre posta uma nova etiqueta, com novo código de barras e preço, desta vez em Dirham, a moeda dos Emirados Árabes Unidos. E convertendo de volta para o dólar, o euro ou mesmo para o real, fica sempre muito mais caro. 

Injustamente tido por amarrado – me reconheço econômico, apenas –, eu comprei aqueles livros com dó. Somente porque eles eram muito do meu agrado – afinal, tem coisa melhor do que fazer turismo literário e colecionar livros? – e não os tinha jamais visto ou mesmo deles ouvido falar. Não me arrependo, claro. Mas que doeu na alma do bolso, doeu. 

Marcelo Alves Dias de Souza 
Procurador Regional da República 
Doutor em Direito (PhD in Law) pelo King’s College London – KCL 
Mestre em Direito pela PUC/SP

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