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29/12/2017

A casa do Rio Vermelho


texto Gustavo Sobral e ilustração Arthur Seabra

A casa de Jorge Amado e Zélia Gattai


A casa do Rio Vermelho foi o começo de uma nova vida e de muitas histórias de vida. Jorge e Zélia habitaram e planejaram cada lugar naquela casa comprada em Salvador/BA, no bairro do Rio Vermelho. Projeto do arquiteto Gildebert Chaves e pitacos de amigos, como o próximo Carybé, revelaram a composição final da casa. O que se passou durante toda uma vida de amor e filhos desde a compra, e eram os anos 1960, está sedimentado na casa.

Jorge na varanda escrevendo seus romances, que ganharam o mundo e todas as línguas, cada um com seu sabor. Gabriela veio a cravo e a canela, Dona Flor quituteira de muitos costados, esposa de dois maridos, um vivo, outro morto, um sério, outro Vadinho. E Cacau, e Capitães de Areia. Muitas histórias, tantos personagens, e tanta vida e verdade que todos eles descem e sobem Salvador todos os dias no imaginário do povo, porque é dele que foram feitos.

Uma casa para a vida simples e rica do casal, que ali recebia gente de todo canto e que lá se hospedava sem regalo. Portas estiveram sempre abertas, janelas escancaradas para a vida, porque de outra forma não receberia o espírito do baiano, aquele que nunca hesita e sempre convida, a casa é sua, sempre cheia.

Vinicius de Moraes certa vez cantando para as crianças e inventando canções, Zélia ali calada com o gravador, e assim nasceu o álbum Arca de Noé. Uma casa que também hospedou, mais de uma vez, um poeta conhecido e ovacionado de toda gente, o chileno Pablo Neruda, e sua Matilde.

Dos detalhes: o portão de ferro é desenho de Carybé; os azulejos executados por Udo Knoff; Mário Cravo projetou o lago do jardim; os móveis, desenho do arquiteto Lew Smarchewski; e a porta de entrada é do gravador Hansen Bahia. Jenner Augusto ficou com as outras. Mais, na casa, muita comida e crença baianas, um amor e uma vida a dois, Jorge e Zélia, semeada, vivida, registrada numa casa tão sonhada e realizada, porque feita de nada mais do que muita vida, a casa do Rio Vermelho.

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