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19/09/2017

Jovens e   
     inesquecíveis

  "Passas sem ter teu vigia/ Catando  a
        poesia que entornas no chão".
                                   Chico Buarque

              Despertado e movido pelo sentimento de saudade e pela genialidade daqueles jovens que partiram cedo deste mundo: lembrados, lidos, ouvidos, declamados e  reconhecidamente considerados  como imortais, inesquecíveis.     
     Jovens compositores, cantores, poetas  que, de forma surpreendente, nos deixaram muito cedo; com uma peculiaridade muito reflexiva: no momento que atingiram seus apogeus, suas independências profissionais  e financeiras, momento ímpar e de glória na  vida de cada um. Muitos, na maioria pobres, de família humilde, que depois de atravessarem mares revoltos e de grandes tempestades, de cruzarem estradas perigosas e arredias, são ceifados do nosso meio, do nosso mundo, de maneira surpreendente e arrebatadora.
                                            
       Vejamos alguns deles:

    

        Noel de Medeiros Rosa (Noel Rosa – 1910-1937). Uma das maiores expressões da música brasileira: sambista, compositor, cantor, bandolinista e violonista. Teve uma importância fundamental na identificação e na propagação do samba no território brasileiro, principalmente na cidade do Rio de Janeiro. Foi autor de verdadeiras pérolas musicais, como: “Último desejo” (1937), “Pierrô apaixonado” (1935), “Conversa de botequim” (1935) e centenas de outras preciosidades que tanto enriquecem o amplo acervo musical brasileiro.
     Trocou os estudos da Medicina pelo aprendizado do samba e dos instrumentos musicais. Fez parte do Bando dos Tangarás (1929), ao lado de João de Barro (Braguinha), Almirante, Alvinho e Henrique Brito ( potiguar).                                         Teve com seu rival, o reconhecido compositor Wilson Batista, grandes e  envolventes polêmicas musicais -  quando gravou alguns dos seus grandes sucessos: “Feitiço da Vila” e “Palpite infeliz" - com  lucros e dividendos para a música popular brasileira.
         Faleceu aos 26 anos de tuberculose pulmonar, em sua residência, no bairro de Vila Izabel. Não deixou filhos. Seu corpo encontra-se sepultado no Cemitério do Caju na cidade do Rio de Janeiro.

     Morre hoje sem foguete
     Sem retrato
     Sem bilhete
     Sem luar, sem violão

     Da canção: Último desejo.

                                  ***

                                      
                                
        Adiléia Silva da Rocha – Dolores Duran (1930-1959 – Rio de Janeiro/RJ). Cantora, compositora de origem pobre e modesta. Desde criança, gostava de cantar e sonhava em ser famosa. Aos oito anos, contraiu uma febre reumática, que lhe deixou sequela cardíaca.
       Empolgada e influenciada pelos  amigos e com o sonho pessoal de ser cantora, inscreveu-se no programa de calouros de Ary Barroso, conquistando  o primeiro lugar, - o que lhe abriu o caminho para sua brilhante e rica carreira como cantora e compositora. Autora de belas páginas musicais, como: “A noite do meu bem”, “Fim de caso”, “A fia de Chico Brito”, em parceria com Chico Anysio.
      Em 1955, sofreu um infarto agudo do miocárdio, quando passou trinta dias internada no Hospital Miguel Couto/RJ.                
      Teve uma vida matrimonial muito tumultuada e irregular. Não consegui ter filhos, o que a fez decidir pela adoção de uma filha.
      No ano de 1959, após um cansativo show, ao chegar em casa, e, como de costume, após brincar com a filhinha, fala para sua auxiliar, Rita: “Não me acorde. Estou muito cansada. Vou dormir até morrer!”, disse brincando, e sorriu no momento". No quarto, não se sabe bem a hora exata, sofreu o segundo infarto, dessa vez, fulminante, com apenas 29 anos de idade. Encontra-se sepultada no Cemitério do Caju, no Rio de Janeiro/RJ.

  
      Ah! Como este bem demorou a chegar
     Eu já nem sei se terei no olhar           
     Toda ternura que quero lhe dar                
                                                                      
     Da canção:  A noite do meu bem

                                 ***


         Maysa Figueira Monjardim MatarazzoMaysa Matarazzo (São Paulo, 1936 – Niterói/RJ,1977). Cantora e compositora que encantou o Brasil com sua voz romântica e sensual. De uma postura impecável no palco, com interpretações dramáticas  e sentimentais. Seus lindos olhos cobriam e refletiam na plateia a magia de um céu azul deslumbrante de verão.
        Foi a grande intérprete de Dolores Duran em suas belas canções, como: “A noite do meu bem".
       Como compositora criou belas canções, como: “Meu mundo caiu”, “Tarde triste” e “Ouça”, seu grande sucesso.
       Teve uma vida muito tumultuada e cheia de problemas pessoais e profissionais, de temperamento agressivo e autoritário, sempre envolvida com a mistura  de álcool e de anfetaminas. Faleceu no auge da sua carreira artística/musical, aos 41 anos, vítima de acidente automobilístico, na Ponte Rio- Niterói.

    Ouça, vá viver a sua vida com outro
    bem    
    Que hoje eu já cansei                               
    De pra você não ser ninguém
                                                                    
    Da canção: Ouça


          Elis Regina de Carvalho Costa ( Elis Regina,1945-1982).Gaúcha de Porto Alegre/RS, começou a cantar aos onze anos de idade na Rádio Farroupilha.
         Em 1964, já se apresentava no eixo Rio-Sao Paulo, cantando no programa "Noite de Gala", na TV Rio. Participou no de 1965 como estreante no festival da Record, interpretando a música " Arrastão" de Edu Lobo e Vinicius de Moraes. Ganhadora dos prêmios Berimbau de Ouro e do troféu Roquette Pinto, como a melhor cantora do ano.
          Faleceu com apenas 36 anos, em São Paulo, no dia 19 de janeiro de 1982, decorrente do uso excessivo de cocaína e álcool.

           É de sonho e de pó
           O destino de um só
           Feito eu perdido em pensamentos
           Sobre o meu cavalo
           É de laço e de nó
           De gibeira o jiló
           Dessa vida cumprida a sol

           Da sua mais bela interpretação-
           canção: Romaria


                                 ***
                                                                


         Milton Carlos (São Paulo, novembro de 1954 – São Paulo, outubro de 1976).
        Jovem brilhante compositor e cantor, de voz efeminada. Irmão da compositora Isolda, autora de “Outra vez” – uma das mais belas poesias musicais da MPB, interpretada por Roberto Carlos.
        Autor de sucessos inesquecíveis, como: “Jogo de dama”, “Café Nice”, ”Samba quadrado” e muitos outros, distribuídos em seus dois únicos LPs.                                                       
       Morreu aos 22 anos, na noite de 21 de outubro de 1976, vítima de acidente automobilístico no trecho da Via Anhanguera/SP.

       Conheço as paredes                          
       Que guardavam segredos                         
       E ações que por si                               
       Não cobriam os seus medos                  
                                                                         
       Da canção: Jogo de damas

                                ***


        Luiz Gonzaga do Nascimento Júnior (Gonzaguinha, Rio de Janeiro, 1945 – Renascença/PR, 1991).
       Filho adotivo do cantor e compositor pernambucano Luiz Gonzaga, o Gonzagão. Compôs sua primeira canção aos 14 anos: “Lembranças da Primavera” (1961).                                         Do seu inesquecível e apreciável álbum musical destacam-se as seguintes canções: “Começaria tudo outra vez”, “Explode coração”, “Grito de alerta” e “O que é o que é?”.
      Faleceu aos 45 anos, no dia 29 de abril de 1991, vítima de acidente de carro, quando regressava de um show no Paraná, em uma rodovia no sudeste deste Estado.

      Há quem fale                                        
      Que a vida da gente                                
      É um nada no mundo                              
      É uma gota, é um tempo                            
      Que nem dá um segundo                                
                                                                       
      Da canção: O que é, o que é?

                               ***


       Jessé Florentino SantosJessé (Niterói/RJ,1952 – Ourinhos/PR, 1993).
       Cantor, compositor e músico, de formação evangélica e de origem pobre.  Passou boa parte da sua vida em Brasília/DF. Começou a cantar ainda criança na Igreja Presbiteriana Independente do Cruzeiro/DF, de propriedade do sei pai.
                                                       
Mudou-se para São Paulo, onde desempenhou sua rica e curta atividade artística musical. 
Vencedor do Festival MPB Shell, da Rede Globo de Televisão, em 1980, com a música “Porto Solidão” (Zeca Bahia e Ginko).
      Em 1983, ganhou todos os troféus no Festival da Organização Ibero-Americana (OTI), em Washington/EUA, como melhor intérprete, melhor canção e melhor arranjo, com a música “Estrelas de Papel”. A letra era uma homenagem ao genial Charles Chaplin, seu ídolo maior.
      Faleceu aos 41 anos (março de 1993), devido à acidente automobilístico, quando sofreu traumatismo cranioencefálico(TCE), momento em que se dirigia para a cidade de Terra Rica, no estado do Paraná, onde ia fazer um show.

       Ah! meu coração é um campo minado
       Muito cuidado, ele pode explodir            
       E se depois de tão dilacerado            
       For desarmado por quem há de vir
       
       Da canção: Campo minado

                               ***


       Pedro Soares Bezerra (Carlos Alexandre, NovaCruz/RN, junho de 1957 – Tangará/São José de Campeste/RN, janeiro de 1989).
      Em 1975, iniciou a sua carreira artística com o nome de Pedrinho. Dois anos depois (1977), foi rebatizado com o nome de Carlos Alexandre, com o apoio e o incentivo incansável do radialista e futuro político potiguar Carlos Alberto de Souza, que o levou para gravadora RGE.
      Aos vinte e um anos, alcançou o sucesso nacional destacando-se como o cantor norte-riograndense de maior representatividade no cenário musical “brega”.
     Morreu no dia 30 de janeiro de 1989, com apenas 31 anos, vítima de acidente automobilístico, entre São José de Campestre e Tangará/RN, quando retornava de um show em Pesqueira, em Pernambuco.[1] 
     Deixou mais de 200 composições gravadas. Ganhou 15 discos de ouro e um de platina, nos quais se destacaram: “Arma de Vingança”, “A Ciganinha”, “Canção do Paralítico”, com mais 100 000 de cópias e “Feiticeira”, com 250.000 cópias vendidas.

        Ela me apareceu                                  
        E com apenas um toque de sua
        magia
        Acabou com a tristeza                        
        Me trazendo alegria                               
                                                                      
       Da canção: Feiticeira

                               ***



      Altemar Dutra de Oliveira (Aimorés/MG, outubro de 1940 – Nova York/EUA, novembro de 1983).
     Muito jovem, a família mudou-se para Colantina, no Espírito Santo, onde teve início a sua carreira musical, quando ganhou o concurso de calouros na radio Difusora.
     No início de suas  apresentações, gostava de imitar cantores famosos, principalmente o seu ídolo maior, Orlando Silva.                                           
     Mudou-se para a cidade Vitória, onde passou a ser admirado e  bastante requisitado para cantar nas boates de luxo, momento que iria influenciar decisivamente em sua carreira.
     Deixa a cidade de Vitória com apenas 17 anos (1957) e desembarca na cidade Maravilhosa, à época Capital Federal. Logo, logo é contratado como crooner em boates e casas de shows. 
     Parceiro inseparável da famosa dupla de compositores: Evaldo Gouveia e Jair Amorim. Interpretou de forma inimitável seus grandes sucessos, como: “O Trovador”, “Sentimental demais”, “Brigas”, “Tudo de mim ” e muitos outros. Fez carreira internacional, sendo considerado um dos mais populares cantores estrangeiros nos EUA.
     Faleceu aos 41 anos, vítima de uma ruptura de um aneurisma cerebral em pleno palco, quando se apresentava na boate El Continente, em Nova York/EUA, onde residia com a sua família.

      Brigo eu                                            
      Você briga também                              
      Por coisas tão banais                              
      E o amor                                               
      Em momentos assim                          
      Morre um pouquinho mais                       

      Da canção: Brigas - Música que
      gostaria de ser lembrado quando
      morresse. 

      
                              ***


       Evaldo Braga (Campos dos Goytacazes/RJ, 26 maio de 1945 - Areal/RJ, 31 de janeiro de 1973). Dizia: "Infelizmente não tive a sorte de  conhecer os meus pais, mas sei o nome de ambos: Evaldo e Benedita Braga. Eles não podiam me sustentar e me abandonaram". Há também relato que Evaldo Braga é fruto de relacionamento extraconjugal. Sua mãe seria uma prostituta da cidade de Campos.                                     
       Não teve uma infância feliz, ocupando boa parte dela, nas ruas, chegando a ser internado no SAM ( Serviço de Amparo ao Menor - Funabem), atualmente Fundação Casa, onde conheceu e fez uma estreita amizade com o colega Dario Peito de Aço- o Dadá Maravilha - grande goleador do Atlético Mineiro e jogador da seleção brasileira.
      Em 1971 gravou o seu primeiro compacto -"Só Quero", com grande sucesso, vendendo mais de 150 mil cópias.
      Seu grande sucesso "Sorria, sorria"em parceria com Carmen Lúcia, marcou para sempre a sua imagem como o principal expoente da música black no brega.
      Faleceu aos 27 anos, no auge da sua curta carreira artística, vítima de acidente automobilístico na BR-3 ( atual BR-040), trecho próximo ao município de Três Rios, na divisa de Minas Gerais com o Estado do Rio de Janeiro, no dia 31 de janeiro de 1973.
      Seu corpo foi sepultado no Cemitério  São João Batista/ RJ, diante de uma forte e empolgante comoção popular.

         Sorria meu bem, sorria                         
         Da infelicidade que você procurou
         Sorria  meu bem, sorria
         Você hoje chora                               
         Por alguém que nunca lhe amor

         Da canção: Sorria, sorria          
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Colaboração do leitor Berilo de Castro.

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