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24/05/2017

Discurso do Dia Municipal da Cultura

25/05/2017



(foto Boi de Reis, por Conceição Cruz)

Discurso pronunciado no Dia Municipal da Cultura, Câmara Municipal, Ceará-Mirim, 23 de maio de 2017, por Gustavo Sobral, advogado, jornalista e escritor. Membro da ACLA, sócio efetivo do IHGRN.

Boi de Reis, Pastoril, Cabocolinhos. Congo de Guerra. Os folguedos, suas cores, brilhos, suas danças, cordões, vestimentas. Soa flauta, soa percussão. O bailado característico e representativo brilha Ceará-Mirim nas suas mais autênticas manifestações. Casario, sobrados, o mercado, casas de porta e janela, as fachadas, os detalhes, é o passado presente na arquitetura, o próprio desenho da cidade e a sua história. Museu, biblioteca, fundação e estação cultural, uma banda de música, uma academia de letras e de artes. Magdalena e Juvenal Antunes, Adelle de Oliveira, Nilo Pereira, Bartolomeu Correia de Melo, Pedro Simões Neto, literatura viva e memória. E a história.

A história que conta o historiador maior, Luís da Câmara Cascudo: o Rio Grande do Norte nasce em Ceará-Mirim. Pois foi no Rio Baquipe ou Pequeno, o Ceará-Mirim, no século XVI, que desceu a armada do capitão-mor João de Barros, e assim começa o Rio Grande do Norte. Não bastasse ser o princípio de tudo, vieram seus bueiros, seus engenhos, e o mais doce açúcar, que escreveu história e famílias e a opulência econômica deste Estado. Veio o trem, a praça com coreto, a matriz. Fizeram da vila, cidade.  Cidade a que Nilo Pereira profetizou em Manhã da Criação

“O cenário é prodigioso. Bem aos pés da velha igreja e do alto de suas torres nobres uma cidade parou no tempo; mas ao longe esplende o vale, como que mostrando ao homem os paradoxos da natureza. Saúdo a cidade parada, que é um sonho de grandeza vivida; e pergunto porque, havendo a riqueza tão ao alcance das mãos, tão perto uma velha cidade se mantém estacionária quase morta. Não procuro explicar o fato: aquela hora era antes de tudo, de recolhimento. E eu medito no destino das coisas. Sou apenas um homem restituído ao passado, à sua terra da infância. O que tenho diante de mim é o cenário mágico de quem nunca desprezou as sugestões de sua Massangana; e, por isso, fixo os meus olhos na casa-grande do Guaporé, que está encravada na moldura verde-cinza daquela manhã do Gênesis”.


Nilo Pereira anunciava, só a cultura salva. Cultura é aquilo que deve ser cultivado, que nasce da terra. Cultivar é fazer permanecer, é plantar, germinar, colher, e depois plantar, e germinar e colher, e assim sucessivamente e para todo sempre. Cultura é comunhão.  É dever e tarefa de um, é dever e tarefa de todos. Cultura é identidade. Mestre Tião Oleiro, Sinhazinha Magdalena, Adelle de Oliveira, Pedro Simões Neto foram semente e exemplo que deixaram a tarefa de cultuar e cultivar. Cultivar o que está ai, diante da porta, visto da janela, brotando do vale, são os folguedos, os poemas, os contos, lendas, memórias e a história, as instituições culturais, é o que somos, e somos todos nós e cada um, passado, presente e futuro. E assim o memorialista do Guaporé insurge à cidade, clama: acorda Ceará-Mirim, surge et embula. Cresce, se desenvolve, o seu esplendor é a cultura.
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