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15/03/2017

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Valério Mesquita*

01) Rebuscando papéis, certo dia, fui achar uma carta que remeti ao jornalista e poeta maior Sanderson Negreiros, datada de 21 de novembro de 1971. Eterno capataz dos mistérios circundantes, o poeta utilizava os seus “Quadrantes” para captar o humanismo asmático. Para tanto, tinha profunda e oxigenada “respiração filosófica”. Sou seu leitor e eleitor de suas emoções. Vez por outra, me empolgava com a cosmologia dos seus sentimentos e lhe escrevia. Ai vai uma cartinha de 46 anos que o poeta de “Lances Exatos” recebeu sobre um assunto ainda bem atual:
“Lendo a sua última crônica sobre os fariseus da maledicência, deduzi, com pesar, que a grandeza de alma, nesses dias decadentes, não é contagiosa. Aqui, parafraseando Shakespeare, é o exílio e longe a liberdade.
A hidrofobia deixou de ser um caso veterinário para se tornar um problema psiquiátrico de muita gente. E ninguém mais do que você se acha saciado da expressão claramente perceptível dos homens e das coisas. Por isso, entre agir e ser imbecil nessa terra, é preferível, permanecer na regra três. O bom é ser místico. Místico na arte, na vida e na natureza. Buscar nas profundezas da vida ou nas solenidades da dor, a verdade blindada: crêr no invisível para não se suicidar no palpável. O visível encerra vícios redibitórios. Viver encarcerado na vontade hesitante de ao invés de ser herói da própria vida, ser o espectador do próprio drama.
Resta assumir aquele compromisso com o imponderável de que você sempre falou. Para que a maledicências ou o ódio dos homens não puxem o tapete de alguém, o remédio é não tomar as feições das circunstâncias. Nesses tempos agitados a intenção deve equilibrar-se a coragem. O importante é repetir e repetir sempre que “o amor pode ler o que se acha escrito nas mais remotas estrelas”, no dizer de Wilde.
E por último a dolorosa constatação: Edmar Letreiro aplaudido pelo povo e Baracho cultuado como santo. Daí se conclui que nos desencontros do mundo toda celebridade quando não é célere é celerada”.”
02) Preocupado em preencher os meus ócios com a matéria meritória de  pesquisar o inusitado, o folclórico e até mesmo o bizarro, deparei-me  com  uma  preciosidade  rara  em  matéria  associativa. Pela Lei n° 6.469, de 15 de setembro de 1993, foi reconhecida de Utilidade Pública pela Assembleia Legislativa do Rio Grande do Norte a Associação dos Doentes da Coluna e Reumatismo de Nova Cruz, referendada pelo ex-governador Vivaldo Costa, com toda certeza, um “colunático” benemérito.
Desejo dizer que nada tenho contra a respeitável e samaritana entidade. Até porque dela podem fazer parte amigos eméritos e queridos como os novacruzenses famosos Diógenes da Cunha Lima, Luiz Eduardo Carneiro Costa, Leonardo e Cassiano Arruda Câmara e tantos outros. Mas, o que me chamou a atenção foi imaginar que numa cidade do interior existam tantos doentes da coluna e do reumatismo que ensejem a reunião de todos em uma colunável corporação.
Daí, eu passei a divagar, caso a moda pegue, no surgimento de inúmeras associações congêneres em defesa do corpo humano, por outros municípios afora. A “Associação dos Portadores de Chulé e Pé de Atleta”, por exemplo, a “Associação dos Carecas e Portadores de Caspa e Seborreia”, a “Associação dos Deficientes Penianos”, a “Associação dos Loucos de Todo o Gênero”, enfim, somos um país democrático, reivindicatório e corporativo.
Se os profissionais da medicina se corporatizaram em Clínicas, Institutos, Hospitais, porque não os doentes, os pacientes, em revide, não possam se unificar? Afinal, a nossa constituição é a mais corporativista de todas!
O ex-presidente FHC padecia de terríveis dores de coluna. Iguais àquelas sofridas por João Batista Figueiredo curado em São Paulo por um fisioterapeuta japonês. O então deputado federal Carlos Alberto de Souza à época, também recebeu massagens e mensagens ao lado do ex-presidente, do competente nissei/paulista.
Daí, não censuro os reumáticos, os doentes da coluna, de lumbago da altiva Nova Cruz e nem de Macaíba. Eles também são filhos de Deus. E devem servir de exemplo nesses tempos ruins de SUS e de saúde nacional sucateada.
Doentes de todos os quadrantes, uni-vos!

(*) Escritor

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