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30/03/2017

O ÚLTIMO ALCAIDE

Valério Mesquita

Quando assisti a reprise do programa “Memória Viva” da TV Universitária que nos devolveu o estadista Dix-Huit Rosado, entrevistado por Carlos Lyra e Dorian Jorge Freire, não contive a emoção ao revê-lo e ouvi-lo. Procurei uma crônica que escrevera logo após o seu encantamento e decidi republicá-la. Só para relembra-lo e constatar a falta que faz ao mundo político de hoje um homem do seu nível e preparo intelectual.
Dix-Huit, da saga política dos Rosado foi um samurai que edificou o país de Mossoró ao lado de outros obreiros, irmãos na argila e no sangue. De longe sempre acompanhei a trajetória da família Rosado emblemática, carismática, atávica, mágica. Quando faziam política juntos representaram o santo mistério da unidade. O tempo implacável com as suas angústias, dividiu a família, plantando-lhe as sementes da discórdia. Sofridos, abatidos por tragédias, os irmãos se dividiram e sucumbiram ao peso medonho do insensato jogo do Poder e da política perversa - amor e perdição.
Mossoró, hoje é um país confederado. Um país de sobrinhos e primos beligerantes que desbotaram o rosado para a cor rubra e negra do próprio ofício desagregador. Fragilizou-se igualmente a Roma, quando dividiu o império para ser destruído depois pelos bárbaros. E o destino quase sempre trágico das oligarquias benéficas. Desde Dix-Sept, Mossoró teve tempos idos e vividos, consumados com tanta generosidade e autenticidade de espírito, com tanta sensação de perfazer a ventura da vida com grandeza e respeito interior, que hoje, morto Dix-Huit, não tenho como deixar de proclamar que os Rosado eram felizes e não sabiam.
Dix-Huit era o perfil do burgo-mestre com raízes telúricas e emocionais, daqueles que tem a cara do seu município e de sua gente. Dispunha de iniludível capacidade de reinventar o fluxo virtual da sua atividade, assumindo os contornos de um lirismo político inaugural que contrastava com a politicagem dominante na cidade.
Evidentemente, que outros fatores também contribuíram para a queda desse mundo político semi-desaparecido. E preciso que se devolva a Mossoró o sentido e o rumor do humano, da civilidade, da paisagem e do tempo. A recomposição dos gestos e dos exemplos do passado, voltando-se a resgatar a Mossoró libertária, lutando, resistindo sempre, com paz e amor, portanto, ao som das mesmas canções eternas. Dix­-Huit, mas do que um estadista: Um alcaide. Um exemplo.


(*) Escritor.

29/03/2017

É HOJE A FESTA DOS NOSSOS 115 ANOS

O INSTITUTO HISTÓRICO E GEOGRÁFICO DO RIO GRANDE DO NORTE CONTA COM A PRESENÇA DA SOCIEDADE NORTE-RIOGRANDENSE PARA COMEMORAR OS SEUS 115 ANOS DE GLÓRIA E HOMENAGEAR OS MÁRTIRES POTIGUARES DA REVOLUÇÃO PERNAMBUCANA DE 1817.

Também será agraciado com o título de Sócio Benemérito o Empresário ANTÔNIO GENTIL

 
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Marcelo Alves

 


Minhas livrarias em Nova York (III)


Completando nossa série de artigos sobre os comércios de livros da ilha de Manhattan, hoje trataremos de alguns estabelecimentos localizados nas regiões apelidadas de “midtown” e “uptown” Nova York. 

Vou começar suavemente, por “midtown”, com duas dicas de livrarias “especiais” que ficam muito próximas do hotel onde nos hospedamos, o “The Tuscany – A St Giles Signature Hotel” (120 East 39th Street), bem pertinho do Grand Central Terminal, hotel que, por sinal, recomendo deveras. A primeira delas é a pequenina livraria da “New York Public Library”, que fica no número 476 da 5ª Avenue (metrô 5ª Avenue ou 42ª Street/Bryant Park). A segunda é também a pequenina livraria da “Morgan Library & Museum”, que se acha no número 225 da Madison Avenue (metrô 5ª Avenue ou 33ª Street). Para além da visita às duas famosas bibliotecas, sobre as quais escreverei qualquer dia desses, a ida a essas pequenas livrarias vale muito a pena para quem se interessa por coisas e livros sobre livros. 

Muito próximo dessas duas “dicas” fica a livraria que muito provavelmente é a maior de Manhattan (tirando, claro, a “Strand Bookstore”, que, além de ser livraria e sebo ao mesmo tempo, é “hors concours”): a badalada “Barnes & Noble” do número 555 da 5ª Avenida (metrô Grand Central 42ª Street ou 47-50ª Streets Rockefeller Center). A “Barnes & Noble”, como muitos devem saber, é a maior rede varejista de livrarias nos Estados Unidos da América, com mais de seiscentas lojas espalhadas por cinquenta estados da Federação. Vende, além de livros dos mais variados temas e estilos, revistas, jornais, DVDs, “e-books”, jogos eletrônicos, utensílios de leitura (entre eles, o NOOK, seu “e-reader”), brinquedos e mil e uma outras coisas do gênero. De praxe, em cada loja da “Barnes & Noble” há uma cafeteria com produtos “Starbucks”, o que, digo logo, é “mais que bom”. A loja da 5ª Avenida, com seus vários andares, aberta de domingo a domingo, até as 21 horas, tem tudo isso de sobra. Várias poltronas e cadeiras estão espalhadas pela loja, e você pode, confortavelmente, sem que ninguém o incomode, ler a vontade, não importa o que. Se você vai comprar algo, embora acabe sempre comprando, isso é outra história. 

Bem pertinho dessa gigante “Barnes & Noble”, vou sugerir para vocês o que considerei um tesouro achado inesperadamente: a livraria do “The Center for Fiction”, que fica no número 17 East da 47ª Street, precisamente entre a 5ª e a Madison Avenues (metrô Grand Central 42ª Street ou 47-50ª Streets Rockefeller Center). “The Center for Fiction” é uma instituição, talvez a única nos Estados Unidos, dedicada exclusivamente à arte da ficção. O mais interessante é que ela é uma sucessora da outrora importantíssima “Mercantile Library”, fundada em 1821, e que, por volta de 1870, antes da criação da “New York Public Library”, era a quarta maior biblioteca dos EUA, atrás somente da “Library of Congress”, da “Boston Public Library” e da “Harvard University Library”. Nessa pequena e simpática “bookshop”, que é também um sebo, comprei livros usados baratíssimos, capas dura e mole, por coisa de três e dois dólares, respectivamente. De graça mesmo. 

No mais, ainda naquele “miolão turístico e de business, cheio de tudo, lojas, escritórios, teatros, cinemas e restaurantes”, como define Nelson Mota (em “Nova York é aqui: Manhattan de cabo a rabo”, editora Objetiva, 1997) o burburinho de “midtown”, há uma loja da “Midtown Comics”, livraria especializada em quadrinhos que, embora não seja esse tema minha praia, acho que vale a pena visitar. Fica no número 200 West da 40ª Street, na “confusão” do Times Square, sendo facílimo de chegar por qualquer das várias estações de metrô da 42ª Street. 

Por derradeiro, já em “uptown”, para além do Central Park, numa pitoresca região da cidade, chamada “Morningside Heigths”, onde fica a prestigiada e belíssima Columbia University, tenho duas livrarias para recomendar. Uma delas é a própria “Columbia University Bookstore”, também uma “Barnes & Noble” (aqui cultura e capitalismo andam juntos), que fica no número 2922 da Broadway Avenue (metrô 116 Street – Columbia University). Embora seja uma livraria voltada para fins acadêmicos, ela, ao contrário da livraria da New York University (sobre a qual falamos no artigo da semana passada), tem um bom acervo de livros técnicos em geral, incluindo de direito. Recordo-me de haver ali comprado dois livros sobre legislação e interpretação, “Legislation and Statutory Interpretation” (de William N. Eskridge Jr., Philip P. Frickey e Elizabeth Garret, Fundation Press, 2006) e “Legislation: Statutory Interpretation 20 Questions” (de Kent Greenawalt, Fundation Press, 1999), sendo que, para meu desgosto, o último deles, quando cheguei em casa descobri, eu já possuía. 

A outra livraria fica bem pertinho, na mesma Broadway Avenue, no número 2915 (metrô 116 St – Columbia University), e chama-se “Book Culture”. Pequenina, charmosa e “pet friendly” (tenho até uma foto com um enorme cão branco que “decorava” o local). Soube depois, pelo Facebook, que é uma livraria de famosos, incluindo astros do cinema. Não encontramos ninguém badalado, confesso, e olhem que ficamos um bom tempo vagando, abasbacados, pelas redondezas. 

Marcelo Alves Dias de Souza
Procurador Regional da República
Doutor em Direito pelo King’s College London – KCL
Mestre em Direito pela PUC/SP

23/03/2017

C O N V I T E - DIA 27


Marcelo Alves
22 de março às 12:22
 
Amigos,

É com muito orgulho que anuncio o lançamento do documentário "Pedro Jorge: uma vida pela justiça", produzido pela Procuradoria Regional da República da 5ª Região (PRR5), em parceria com a Universidade Católica de Pernambuco (Unicap). O trabalho é um média-metragem sobre o assassinato do procurador da República Pedro Jorge de Melo e Silva, responsável pela denúncia dos envolvidos no chamado "Escândalo da Mandioca", grande esquema de corrupção que aconteceu no interior do estado de Pernambuco, no início da década de 1980.

O "teaser" (que é um "trailer" reduzido) do documentário está disponível no link abaixo:
https://youtu.be/xX7sLyKF8cA

O filme terá uma sessão especial de lançamento na noite da próxima segunda-feira, 27 de março, no Cinema São Luiz, uma das salas de exibição mais tradicionais do Recife. O evento contará com a presença da família de Pedro Jorge, de diversas autoridades e do público em geral, que terá acesso a 300 ingressos gratuitos distribuídos uma hora antes da exibição.

O documentário foi produzido sem orçamento próprio, apenas com os recursos humanos e materiais disponíveis na PRR5 e na Unicap. O principal objetivo desse trabalho é contribuir para a preservação da memória institucional, resgatando um importante episódio na história do Ministério Público Federal.
Amigos,

É com muito orgulho que anuncio o lançamento do documentário "Pedro Jorge: uma vida pela j...

O IHGRN SE MODERNIZA


ESTIMADOS ASSOCIADOS E PESQUISADORES, ESTUDANTES E COMUNIDADE POTIGUAR, o INSTITUTO HISTÓRICO E GEOGRÁFICO DO RIO GRANDE DO NORTE, NO ENSEJO DOS SEUS 115 ANOS ESTÁ EM TRABALHOS DE MODERNIZAÇÃO.


 AS FOTOS MOSTRAM A MONTAGEM DAS ESTANTES DESLIZANTES PARA UM NECESSÁRIO E ADEQUADO ACONDICIONAMENTO DO SEU ACERVO DOCUMENTAL, FOTOGRÁFICO E DE OBRAS IMPRESSAS, AS QUAIS ANTERIORMENTE ESTAVAM EM ESTANTES ABERTAS, SEM ILUMINAÇÃO E AREJAMENTO, OCASIONANDO O ESTRAGO EM PARTE DO ACERVO.


 AGORA TODO ESSE MATERIAL DE GRANDE IMPORTÂNCIA HISTÓRICA SERÁ DEVIDAMENTE CONSERVADO EM LUGAR ADEQUADO À DISPOSIÇÃO DOS USUÁRIOS.


 O PRÓXIMO PASSO SERÁ A CATALOGAÇÃO DO ACERVO E DIGITALIZAÇÃO DE DOCUMENTOS PARA FUTURAMENTE DISPONIBILIZÁ-LO POR MEIO VIRTUAL.


O PRESIDENTE ORMUZ SIMONETTI LUTA PARA ENTREGAR O EQUIPAMENTO ATÉ O PRÓXIMO DIA 29, DATA DA COMEMORAÇÃO DOS 115 ANOS.


CONVITE PARA A SOLENIDADE DOS 115 ANOS


21/03/2017



   
Marcelo Alves
 

Minhas livrarias em Nova York (II)
 

Na semana passada conversamos aqui sobre algumas livrarias e sebos da região mais ao sul da ilha de Manhattan, também chamada de “downtown” Nova York. 

Hoje, partindo do coração do Greenwich Village, iremos um pouquinho mais para o norte, mas ainda em “downtown”, para tratarmos de livrarias que se acham ao derredor da animada Union Square. Por aquelas bandas, que é uma região agradabilíssima, bastante central e movimentada, cheia de restaurantes e de lojas, por onde passam várias linhas de metrô, tenho pelo menos quatro dicas de comércios de livros.
 

A primeira delas é a pequenina “Alabaster Bookshop”. Fica ao sul da Praça da União, no número 122 da 4ª Avenue, entre as 12ª e 13ª Streets (metrô Union Square), precisamente onde outrora existiu o histórico “book row” de Nova York, que chegou a ter quarenta e oito comércios de livros em pleno funcionamento. Vende livros usados e raros. É, portanto, basicamente, um sebo. Mas é muito bom. Foi lá que encontrei um livro que procurava em inglês fazia tempo (claro que poderia tê-lo comprado pela Internet, via Amazon, mas não teria a mesma graça): “Animal Liberation”, do filósofo australiano Peter Singer (1946-), uma obra que, publicada em 1975, foi seminal no que toca ao tratamento que devemos dar aos nossos amigos não-humanos. Minha edição é de 1977, da Avon Books, em papel-jornal, mas está novinha.
 

Bem pertinho dali, no mesmo quarteirão, no número 828 da Broadway Avenue, esquina com 12ª Street (metrô Union Square), fica o que eu considero o melhor e maior comércio de livros novos e usados de Nova York: a “Strand Bookstore”. Gigante. Quatro andares de livros ou, como a própria livraria define em suas sacolas de compras, “18 miles of books”. Foi fundada em 1927 por Benjamin Bass, no já desaparecido “book row” da 4ª Avenue, do qual é a última sobrevivente, para vender livros usados. Mudou para o atual endereço em 1957. Em 1988 passou a vender também livros novos. Em 2000 começou a vender livros pela Internet. Possui ainda alguns pequenos quiosques espalhados pela cidade. Pelo que sei, ela continua sendo uma empresa familiar, gerida por Fred e Nancy Bass, respectivamente filho e neta do fundador. Como certa vez disse Katia Zero, no seu “Guia de New York” (edição de 1998 da Makron Books), que me foi muito útil nas primeiras vezes em que estive na “Big Apple”: “Escolha o livro onde for e venha comprá-lo aqui. O maior depósito de livros de segunda mão dos Estados Unidos. Dezoito milhas de prateleiras abrigam mais de dois milhões de volumes usados, review copies, os tais volumes dados aos jornalistas que escrevem críticas etc. Dos enormes volumes de arte e decoração até brochuras encontra-se aqui com 30 a 50% de desconto. Até mapas e guias do ano têm descontos. Preciosos volumes da biblioteca de Delfim Neto foram, em parte, comprados aqui”. Desta última vez em Nova York, estivemos várias vezes na “Strand”. Nem dá para precisar aqui o que comprei. Mas só na minha frente agora tenho títulos como “A History of American Law” (de Lawrence M. Friedman, Simon & Schuster Inc., 1985), “Great Decisions of the U.S. Supreme Court” (editado por Maureen Harrison e Steve Gilbert, Barnes & Noble Books, 2003), “American on Trial: Inside the Legal Battles that Transformed our Nation” (de Alan M. Dershowitz, Warner Books, 2004), “The American Judicial Tradition: Profiles of Leading American Judges” (de G. Edward White, Oxford University Press, 2007) e “The Handy Supreme Court Answer Book” (de David L. Hudson Jr., Visible Ink Press, 2008). Todos grandões e novinhos, o mais barato custando seis dólares, o mais caro treze. Voltaria lá, na “Strand”, tanto quanto possível.
 

Do lado oposto da praça (refiro-me à Union Square), ao norte, vizinho a um grande pet shop (“Petco Animal Supplies”), fica mais uma loja da “Barnes & Noble”. O endereço preciso é 33 East 17ª Street (metrô Union Square). Como de estilo com as “B&N”, ela é enorme. E se você procura por livros novos, num ambiente superorganizado – tudo o que a “Strand” não é –, e por um bom café, esse é o lugar.
 

Por fim, mais para cima, já nas abas da “midtown”, a dois passos do Madison Square Park e do curioso Flatiron Building (o “ferro de engomar”), no número 1133 da Broadway Avenue (metrô 28ª Street Broadway ou 23ª Street), temos a famosa “Rizzoli Bookstore”, que – especializada em arte, arquitetura, design, fotografia, culinária, línguas e literatura – por mais de cinquenta anos tem estado na vanguarda das livrarias independentes de Nova York. É verdade que esta é uma nova loja, que substitui a saudosa loja da 57ª Street. Mas esta nova “Rizzoli”, ainda chique e sofisticada, tem o seu charme.
 

E Isso sem falar que a “Rizzoli” fica muito pertinho do Eataly NYC Flatiron, onde podemos dar uma parada para uma boa massa e, sobretudo, alguns bons vinhos.
 

Marcelo Alves Dias de Souza 
Procurador Regional da República 
Doutor em Direito pelo King’s College London – KCL 
Mestre em Direito pela PUC/SP

15/03/2017

ARQUIVOS

Valério Mesquita*

01) Rebuscando papéis, certo dia, fui achar uma carta que remeti ao jornalista e poeta maior Sanderson Negreiros, datada de 21 de novembro de 1971. Eterno capataz dos mistérios circundantes, o poeta utilizava os seus “Quadrantes” para captar o humanismo asmático. Para tanto, tinha profunda e oxigenada “respiração filosófica”. Sou seu leitor e eleitor de suas emoções. Vez por outra, me empolgava com a cosmologia dos seus sentimentos e lhe escrevia. Ai vai uma cartinha de 46 anos que o poeta de “Lances Exatos” recebeu sobre um assunto ainda bem atual:
“Lendo a sua última crônica sobre os fariseus da maledicência, deduzi, com pesar, que a grandeza de alma, nesses dias decadentes, não é contagiosa. Aqui, parafraseando Shakespeare, é o exílio e longe a liberdade.
A hidrofobia deixou de ser um caso veterinário para se tornar um problema psiquiátrico de muita gente. E ninguém mais do que você se acha saciado da expressão claramente perceptível dos homens e das coisas. Por isso, entre agir e ser imbecil nessa terra, é preferível, permanecer na regra três. O bom é ser místico. Místico na arte, na vida e na natureza. Buscar nas profundezas da vida ou nas solenidades da dor, a verdade blindada: crêr no invisível para não se suicidar no palpável. O visível encerra vícios redibitórios. Viver encarcerado na vontade hesitante de ao invés de ser herói da própria vida, ser o espectador do próprio drama.
Resta assumir aquele compromisso com o imponderável de que você sempre falou. Para que a maledicências ou o ódio dos homens não puxem o tapete de alguém, o remédio é não tomar as feições das circunstâncias. Nesses tempos agitados a intenção deve equilibrar-se a coragem. O importante é repetir e repetir sempre que “o amor pode ler o que se acha escrito nas mais remotas estrelas”, no dizer de Wilde.
E por último a dolorosa constatação: Edmar Letreiro aplaudido pelo povo e Baracho cultuado como santo. Daí se conclui que nos desencontros do mundo toda celebridade quando não é célere é celerada”.”
02) Preocupado em preencher os meus ócios com a matéria meritória de  pesquisar o inusitado, o folclórico e até mesmo o bizarro, deparei-me  com  uma  preciosidade  rara  em  matéria  associativa. Pela Lei n° 6.469, de 15 de setembro de 1993, foi reconhecida de Utilidade Pública pela Assembleia Legislativa do Rio Grande do Norte a Associação dos Doentes da Coluna e Reumatismo de Nova Cruz, referendada pelo ex-governador Vivaldo Costa, com toda certeza, um “colunático” benemérito.
Desejo dizer que nada tenho contra a respeitável e samaritana entidade. Até porque dela podem fazer parte amigos eméritos e queridos como os novacruzenses famosos Diógenes da Cunha Lima, Luiz Eduardo Carneiro Costa, Leonardo e Cassiano Arruda Câmara e tantos outros. Mas, o que me chamou a atenção foi imaginar que numa cidade do interior existam tantos doentes da coluna e do reumatismo que ensejem a reunião de todos em uma colunável corporação.
Daí, eu passei a divagar, caso a moda pegue, no surgimento de inúmeras associações congêneres em defesa do corpo humano, por outros municípios afora. A “Associação dos Portadores de Chulé e Pé de Atleta”, por exemplo, a “Associação dos Carecas e Portadores de Caspa e Seborreia”, a “Associação dos Deficientes Penianos”, a “Associação dos Loucos de Todo o Gênero”, enfim, somos um país democrático, reivindicatório e corporativo.
Se os profissionais da medicina se corporatizaram em Clínicas, Institutos, Hospitais, porque não os doentes, os pacientes, em revide, não possam se unificar? Afinal, a nossa constituição é a mais corporativista de todas!
O ex-presidente FHC padecia de terríveis dores de coluna. Iguais àquelas sofridas por João Batista Figueiredo curado em São Paulo por um fisioterapeuta japonês. O então deputado federal Carlos Alberto de Souza à época, também recebeu massagens e mensagens ao lado do ex-presidente, do competente nissei/paulista.
Daí, não censuro os reumáticos, os doentes da coluna, de lumbago da altiva Nova Cruz e nem de Macaíba. Eles também são filhos de Deus. E devem servir de exemplo nesses tempos ruins de SUS e de saúde nacional sucateada.
Doentes de todos os quadrantes, uni-vos!

(*) Escritor

14/03/2017


Para repousar, rede de deitar

14/03/2017




Mobiliário & objetos
texto Gustavo Sobral e ilustração Arthur Seabra

A patente declarada é ser herança indígena. Peça do mobiliário brasileiro, foi ficando mansa ao repouso dos ventos nas varandas e terraços, nos alpendres, formando curva armada entre as pilastras, segura nos armadores, para contemplação e sossego, seja sentado, deitado, atravessado. Dizem que à noite, nela os casais se fazem um só e são capazes de gerar terceiros, é o milagre da multiplicação que também está na rede. Portátil desde sempre, os índios não foram bobos que nada, fizeram uma cama para levar a qualquer lugar, basta enrolar e fazer uma trouxa.

É possível de pendurar em qualquer canto. Já se viu muito caminhoneiro pela estrada, quando há parada para descanso, armá-la na sombra da carroceria. Antigas do tempo das ocas preenchiam o vão do espaço e nela se deitava todo mundo, balançavam os mais velhos e os meninos. E assim foi ficando. Um conhecido tinha por hábito, que não herdou dos barões e do rei Dom João VI, de andar de rede conduzido por dois carregadores. Privilegio do uso de quem lhe fazia as vontades. Dizia à mulher, quero andar de rede, e lá se ia realizado o capricho.

A arquiteta ibrasileira (de origem italiana) Lina Bo Bardi quando conheceu a rede tomou-se encanto: era além de cama, cadeira, certa que o que povo confia e leva adiante no tempo é a verdadeira sabedoria do conforto no uso.  Feita de tecido, corda, os materiais são diversos, para explicar a sua composição basta se dizer assim: é como um grande lençol que se estica para deitar.  Nas pontas, os chamados punhos, que é onde está a estrutura para pendurar ou amarrar, seja numa pilastra, que lhe dará sustento, porque é feita para ser pendurada, seja onde for.


É um móvel extremamente utilitário, mas como o homem é bicho que não vive sem enfeite, para ela foram feitas as varandas, que são bordados que se prendem às suas margens laterais, tramas desenhadas e compostas pelas rendeiras. O sertanejo pobre também dela se aproveitou para sepultura. O defunto se enterra com sua rede. Nela adormecido no sono eterno, por ela é levado para a cova (rasa) quando se transpassa uma vara entre os punhos para armá-la conduzida por dois serventes do destino último na solidariedade derradeira da vida.

DIA DA POESIA




GOVERNO DO ESTADO DO RN
FUNDAÇÃO JOSÉ AUGUSTO
UNIÃO BRASILEIRA DE ESCRITORES
14 DE MARÇO – DIA DA POESIA
                       Homenageando os poetas do RN:
. Ferreira Itajubá 140 anos de nascimento
                . Jorge Fernandes 130 anos de nascimento
PROGRAMAÇÃO
Teatro de Cultura Popular – TCP
15h – Poesia Contemporânea
(Nonato Gurgel-UFRN, Camila – UFRN  e Ana de Santana)
16h – Diálogos entre Jorge e Ferreira Itajubá
(Maria Lucia Garcia e Tarcísio Gurgel)
17h – Leitura Dramática de Jorge Fernandes
(Paulo Jorge Dumaresk)
Jardins do TCP
17h – abertura da Feira de Sebos
17h30 – Performace do poeta Plinio Sanderson
  Teatro de Cultura Popular – TCP
18h – Sarau Lítero-Musical
(Coordenação do poeta Eduardo Gosson, presidente da União Brasileira de Escritores-UBE/RN, que contará com participação especial do professor, poeta,  músico e ex-presidente da UBE/RN Roberto Lima de Souza que está preparando um CD com poetas potiguares musicados)
19h – Show de Geraldinho Azevedo
Taberna Racine Santos:
20h – Exposição Itajubá e Jorge
(curadoria Novenil Barros)
Revista Carcará (áudio-visual potiguar)
Editor Rodrigo Rammer
.lançamento do Edital Boi de Prata (R$ 300.000,00 para a produção de 04 documentários)
Homenagem ao cineasta Ribeiro Junior
Lançamento da Folha Poética (Aluízio Matias)
Poetas e acadêmicos Lívio  Oliveira e Jarbas Martins recitarão 03 poemas cada um
The end


 
   
Marcelo Alves

 


Minhas livrarias em Nova York (I)

Estive em Nova York no final do ano passado. Coisa de uma semana, no mês de outubro, andando para cima e para baixo na ilha de Manhattan, o mais antigo, densamente povoado (para lá de um milhão e meio de habitantes ali apertados) e badalado dos cinco grandes “distritos” (ou “boroughs”, como eles chamam por lá) da cidade. Apesar de composta de outros quatro distritos (Bronx, Brooklyn, Queens e Staten Island), com uma população total estimada de cerca de nove milhões habitantes (e vinte milhões na sua região metropolitana), definitivamente Nova York é, para o turista, Manhattan. 

Mais uma vez fiz a minha peregrinação de turista com caneta, papel e celular na mão visitando, propositadamente, a partir de um estudo prévio, mas sem a ajuda de qualquer guia especializado (que procurei, mas estranhamente não achei), os comércios de livros da cidade (leia-se: da ilha Manhattan). E em Nova York são muitos os comércios de livros, embora não tanto como em Paris ou mesmo em Londres, ou, pelo menos, não no mesmo estilo de pequenas e antigas livrarias quase uma a cada esquina. Tudo em Nova York parecer ser (ou pretende ser) grande. 

E aqui vai o meu “roteiro livresco” de Nova York, misturado com umas dicas de turismo geral, uma vez que ninguém merece ir a “Big Apple” para ficar enfurnado apenas em sebos e livrarias. Para facilitar a nossa vida, organizei as coisas partindo do sul para o norte, de “downtown” para “uptown” ou, trocando em miúdos, de baixo para cima, levando em conta os já conhecidos mapas de Manhattan. 

Assim, a minha primeira sugestão de livraria fica no bairro/região de Tribeca, ao sul, em Downtown, perto da City Hall, do World Trade Center, de Wall Street e mesmo da Ponte do Brooklyn e do Seaport Historic District, atrações que valem muito a pena, todas elas, visitar. Chama-se “The Mysterious Bookshop” e fica no número 58 da Warren Street (usando o metrô, sugiro descer nas estações Chambers Street ou City Hall). Seu forte é a literatura policial ou detetivesca. Afirma-se uma das mais antigas livrarias especializadas do EUA, com mais de três décadas no mercado. Deve ser mesmo. Vendendo livros novos e usados, capas duras e livros de bolso, edições raras, ficção e ensaios, para quem gosta do gênero policial/detetivesco (o meu caso), é um verdadeiro achado. Para ser ter uma ideia, ali comprei três tesouros: “Murder Ink: the Mistery Reader’s Companion” (Workman Publishing, 1977), de Dilys Winn; “Novel Verdicts: a Guide to Courtroon Fiction” (The Scarecrow Press, 1999), de Jon L. Breen; e “The Detective as Historian: History and Art in Historical Crime Fiction” (Bowling Green State University Popular Press, 2000), editado por Ray B. Browne e Lawrence A. Kreiser Jr.. 

De quebra, bem pertinho, na mesma Warren Street, no número 97, tem-se uma loja da “Barnes & Noble”, gigante cadeia de livros, espalhada por todos os Estados Unidos da América, sobre a qual vou falar mais detidamente quando tratar das livrarias de Midtown (mas já adianto que há uma enorme “Barnes & Noble” por ali, bem na quinta avenida). Por enquanto, informo que a “Barnes & Noble” da Warren Street fica colada em uma “Bed, Bath & Beyond”, excelente loja de produtos de casa onde as mulheres podem ficar (se não estão interessadas em livros, evidentemente), enquanto se explora a(s) livraria(s). Mas sem cartões de crédito, claro. 

Já um pouco mais ao norte (mas ainda em Downtown), na região de Greenwich Village (que, girando em torno da Washington Square, é cheia de história e agradabilíssima para andar a pé), sugiro dar uma passada, embora rápida, na “New York University – NYU Bookstore”, que fica no número 726 da Broadway Avenue (metrô 8ª Street – NYU ou Astor Place). Digo rápida porque ela é direcionada apenas para cursos, apostilas e livros didáticos para os estudantes da NYU, além dos souvenires de estilo (moletons, camisetas, canetas, canecos etc.), o que, confesso, me decepcionou deveras. Mas pode ser que você se interesse por algo. 

Entretanto, ali bem pertinho, dei de cara com uma livraria/sebo que achei uma joia: a “Mercer Street Books and Records”, que fica no número 206 da tal Mercer Street (metrô Broadway-Lafayette Street ou Bleecker Street). É pequenina mas bem variada. Os preços são excelentes. Foi ali que eu comprei, por um dólar e algo, uma edição de 1960, da Bantam Books, da peça “O vento será a tua herança” (“Inherit the Wind”), de Jerome Lawrence (1915-2004) e Robert E. Lee (1918-1994), que inclusive já usei e citei por aqui. 

Por fim, antes de terminar este nosso primeiro dia de peregrinação pela livrarias de Nova York, já que a fome bateu, tenho duas sugestões de livrarias que misturam livros com comidas e bebidas. Tudo ainda muito próximo, na região de NoLita (North of Little Italy), que fica ao sul do East Village. Uma delas é a “McNally Jackson Books”, misto de livraria e bistrô muito interessante, que fica no número 52 da Prince Street (metrô Prince Street, Spring Street ou Broadway-Lafayette Street). Ótima livraria independente, com dois andares e um café. Foi um achado. Procurávamos uma tal “Delicatessen” (54 Prince Street). Achamos os dois. A outra é a “Housing Works Bookstore Café”, que fica no número 126 da Crosby Street (metrô Prince Street ou Broadway-Lafayette Street) e é até mais badalada que “McNally Jackson”. Na verdade, pelo que vi, a “Housing Works”, em Downtown, já virou até ponto turístico. 

Bom, por enquanto, dito isso, encerro apenas dizendo: leiam e comam bem. 

Marcelo Alves Dias de Souza
Procurador Regional da República
Doutor em Direito pelo King’s College London – KCL
Mestre em Direito pela PUC/SP

10/03/2017

 
   
Marcelo Alves

 

Idiomas e direito

Uma das coisas mais prazerosas para quem gosta de livros e de leitura é estudar novos idiomas. Eu pelo menos gosto bastante. E isso se torna ainda mais prazeroso se você mistura o estudo do novo idioma com uma temática que seja do seu interesse profissional ou pessoal. Talvez por isso seja hoje moda, mundo afora, nas principais escolas de idiomas da Europa e dos Estados Unidos da América, cursos como “inglês e turismo”, “francês e culinária”, “italiano e arte” e por aí vai. 

De minha parte, hoje, vou dar algumas dicas de livros que fomentam esse estudo interdisciplinar de idiomas, especificamente misturados com o direito, área do conhecimento que, acredito (dizem por aí), é a minha especialidade (se não por conhecimento profundo, pelo menos por “tempo de serviço”). 

E vou começar pela língua ou idioma que, afora o português, tenho maior familiaridade: o inglês. Para quem quer estudar inglês por intermédio do direito, recomendo logo um livro que adquiri já faz mais de 25 anos, quando ainda estudante na UFRN: “English for Law” (Macmillan Publishers, 1991), de autoria de Allison Riley. Voltado para o inglês e o direito britânicos, esse livro, em termos de conteúdo, estrutura e didática, é fantástico. De igual qualidade, talvez até um pouco mais profundo, é “English Law and Language: an Introduction for Student of English” (Cassell Publishers, 1992), de Frances Russell e Christine Locke, livro que também adquiri, lembro-me bem, ainda nos tempos de bacharelado. Excelente ainda é “English for Legal Studies”, também focado no direito britânico, mas curiosamente publicado na Itália (Zanichelli Editore, 1993), de Hugo Bowles e Peter Douglas. E encerro este grupo de livros vinculados ao direito britânico com “Legal English” (Routledge-Cavendish, 2009), de Rupert Haigh, obra que, pelo seu conteúdo aprofundado, voltado para a prática do direito, é também recomendado para aqueles cuja língua materna é o próprio inglês. 

Antes de tratar de outros idiomas, tenho uma sugestão para quem prefere focar no direito e no inglês dos EUA: “American Legal English: Using Language in Legal Contexts” (The University of Michigan Press, 2006), de Debra S. Lee, Charles Hall e Marsha Hurley, livro declaradamente vocacionado ao estudo acadêmico e profissional do inglês jurídico. No mais, ainda recomendo um livro/curso que pretende, passando ao largo do direito público interno e voltando-se para o direito privado, ensinar um inglês jurídico neutro ou internacional (não voltado nem para o direito inglês nem para o americano especificamente): “International Legal English: a Course for Classroom or Self-Study Use” (Cambridge University Press, 2006), de autoria de Amy Krois-Lindner e da equipe da TransLegal. Na verdade, este livro é antes de tudo direcionado para a realização/obtenção do denominado “International Legal English Certificate (ILEC)”, podendo, todavia, ser perfeitamente utilizado como um curso de inglês jurídico nos moldes dos outros acima citados. 

Para quem quer estudar espanhol junto com direito, também tenho algumas boas dicas. Começo com o excelente “De ley: Manual de español jurídico” (Sociedad General Española de Libreria – SGEL, 2012), de Carme Carbó Marro e Miguel Ángel Mora Sánchez, que vem com um CD-ROM que ajuda bastante no aprendizado. Também muito bom é “Lenguaje Jurídico” (Sociedad General Española de Libreria – SGEL, 1997), de Blanca Aguirre Beltran e Margarita Hernando de Larramendi, que faz parte da coleção “El Español por Profesiones” da SGEL. Excelente, bastante denso e abrangente, voltado também para o falante de espanhol como língua materna, é “El español jurídico” (Editorial Ariel, 2002), de Enrique Alcaraz Varó e Brian Hughes. Aliás, Enrique Alcaraz Varó é também autor de um denso “El inglés jurídico: textos y documentos” (Editorial Ariel, 2000), escrito em espanhol com o fim de ensinar o inglês jurídico da Ilha Britânica. Neste caso, o cidadão aprende – ou estuda, pelo menos – direito, inglês e espanhol de uma tacada só. 

Já para o estudo do francês jurídico tenho duas sugestões. Primeiramente, o excelente “Le français juridique” (Hachette, 2003), de Michel Soignet, que faz parte do esforço na renomada editora (Hachette) e da “Chambre de Commerce et d’Industrie de Paris” para fomentar o francês como língua estrangeira. Com o mesmo fim, também muito bom, temos “Le français du droit” (CLE International, 2001), de J.-L. Penfornis, que faz parte da coleção “Français langue étrangère” da editora CLE. Não coincidentemente, já que foi isso o que me levou a escrever este riscado, por esses dias estive lendo “Le français juridique” e, ajunto logo que, se não aprendi o suficiente, me diverti muitíssimo. 

Dando um ponto final às dicas de hoje, para o estudo do italiano e do direito, recomendo: “Una lingua in Pretura: il linguagio del diritto” (Universita per Stranieri di Siena – Bonacci Editore, 1996), cujo conteúdo é de autoria de Stefania Semplici, Laura Sprugnoli e Donatella Troncarelli, e que, excelente, é o único para o italiano que eu conheço. Desculpem: ou é ele ou nada. 

Bom, antes de terminar, uma observação. Embora cada um desses livros tenha suas características específicas, no geral todos eles guardam uma metodologia em comum. As suas unidades ou capítulos apresentam, passo a passo, o conteúdo da ciência do direito: as fontes do direito, a organização do Estado, a Constituição, o sistema judicial, o direito processual, o direito penal, a disciplina dos contratos e dos direitos reais e assim por diante. E com isso intercalado – ou mesmo misturado –, suave e agradavelmente, vêm as lições do idioma tratado, de vocabulário (geral e técnico), estrutura da língua, gramática, habilidades de leitura e compreensão etc., coisas que, normalmente estudadas nos cursos de línguas e nas gramáticas clássicas, não são tão fáceis e agradáveis de aprender. 

Por fim, antes que alguém me pergunte, registro que possuo todos esses livros que citei. Posso até emprestá-los. Mas por no máximo quinze minutos. 

Marcelo Alves Dias de Souza
Procurador Regional da República
Doutor em Direito (PhD in Law) pelo King’s College London – KCL
Mestre em Direito pela PUC/SP

H O J E



ACADEMIA DE LETRAS JURÍDICAS DO RIO GRANDE DO NORTE
A L E J U R N

COMUNICAÇÃO                                            Natal, 03 de fevereiro de 2017

Estimado Confrade,

            Comunicamos que no próximo dia 10 do mês março próximo vindouro, no período de 9 às 17 horas estaremos recebendo os votos para a eleição do novo (a) acadêmico (a) para a cadeira nº 03 – Patrono ALVAMAR FURTADO DE MENDONÇA,  para a qual se inscreveram dois candidatos: FRANCISCO HONÓRIO DE MEDEIROS FILHO e ISABEL HELENA MARINHO.
Por oportuno, informamos que o voto poderá ser sufragado por correspondência, nos termos do Regimento Interno vigente, desde que entregue à Comissão Eleitoral dentro do prazo do processo de votação ou pelo processo eletrônico aos cuidados do Presidente da Comissão Eleitoral JURANDYR NAVARRO DA COSTA, através do endereço: alejurn2007@gmail.com


Qualquer dúvida poderá ser esclarecida através do telefone 3232-2890.

Respeitosamente

________________________________
LÚCIO TEIXEIRA DOS SANTOS

Presidente da ALEJURN

09/03/2017

BAR GATO PRETO E PENSÃO DA ESPERANÇA

Valério Mesquita*
Mesquita.valerio@gmail.com

01) Na chamada "Cinco Bocas", território humano e sentimental de Macaíba, não existe mais o bar "Gato Preto", que tem suas origens nos primórdios da "civilização". Foram mais de cem anos de história viva, de pastores da terra, das nuvens, das estrelas, queimando vigílias na província submersa. Chão sagrado de antepassados, povoado de rostos ocultos, de figuras pálidas por longas noites assombradas. Nele vislumbro os vultos inaugurais de Zé Solon, Alberto Silva, Chico Cajueiro, Lula Ramos, Jorge Chocalheiro, Zé Pelado, Manoel Sabino, Chico de Dulce, Banga, Sinval Duarte, Manoel Pixilinga, Jorge de Papo, Odilon Benício, entre tantos outros que desapareceram vítimas do tempo, esse astrólogo arbitrário. As “Cinco Bocas” ferinas, são cinco ruas que deságuam como um rio noturno na intimidade simples dos lençóis de minha terra. Rua do Cajueiro, rua do Benjamim, beco de seu Alfredo, beco do Mercado e rua da Cruz. Esse pedaço de chão no centro de Macaíba carrega a saga lírica, popular e mística de muitos obreiros que gastavam saliva diariamente no pórtico de suas entranhas, de suas calçadas. O "Gato Preto", sempre foi o antigo desterro de mim mesmo, da infância perdida mas petrificada no silêncio de suas paredes. Mas, o que importa é que por onde andei eu carreguei o seu andor. Mesmo deformado fisicamente, o seu espírito vive. Basta contemplá-lo e deixar-se envolver na sua atmosfera densa, no centro de Macaíba. Era um bar, com todos os seus habitantes. Figuras opacas, empíricas, etílicas. Todos reduzidos a humanidade comum. Todos crentes de que a verdade e a vida nunca estão num único sonho mas em muitos. Era o nosso “Grande Ponto” que tombou e morreu como o de Natal. Tanto ontem quanto hoje, caracterizou-se como um cenário profuso e difuso, tecido de conversas banais, de palavras soltas, malandras, boatos, chafurdos soprados pelo errante vento da esquina. Tudo coisas fugidias: prateleiras, garrafas solitárias e eternas, sinucas, bilhares. Todos os seus notívagos caminheiros são incertos, dispersos e derradeiros. Aí de nós se não fosse o mistério do nome, do 13, do “Gato Preto”. Por que “Gato Preto”? Não sei. As coisas misteriosas são fascinantes.
02) Na primavera política do início dos anos sessenta no Rio Grande do Norte, pontificava na província submersa de Macaíba, a imbatível Pensão da Esperança. Nasceu no fragor das lutas eleitorais e foi a nau catarineta do aluizismo. Nela singrava o mar encapelado da política macaibense, a capitã de longo curso e minha prima Graziela Mesquita. Bacurau de cinco estrelas, Grazi era uma das dissidências dos Mesquita. Situada à rua de Nossa Senhora da Conceição, a Pensão da Esperança, era também o Porto Seguro das caravanas, das manifestações aluizistas e quem fosse arara jamais seria hóspede. Graziela solteirona invicta, mas parecia uma matrona romana. Andava nas pontas dos pés, como se fosse desabar de frente. Pesava-lhe muito o imenso busto-arbusto. Elétrica, vibrante, frenética e fanática, era simpática com todos os seguidores da causa. Nesses tempos trepidantes tivemos uma relação política difícil mas respeitosa. Isso influiu, para que, mas tarde, tornássemos correligionários, até a sua morte. A Pensão da Esperança era o termômetro político da cidade mas também o alvo possível das manifestações hostis do dinartismo radical. De quando em vez, ocorriam "atentados à bomba" no recinto, obra de alguns ativistas sorrateiros para perturbar o sossego de Graziela e testar o seu prestígio. Mas, nem era preciso. Como um raio, riscava à porta o delegado de polícia para as necessárias averiguações e prisão dos culpados. Grazi era intocável, um patrimônio tombado e vivo da cruzada da esperança. Outro enfoque político digno de nota, era a sua fiel ala-moça, treinada para cantar as canções de Aluízio. "Cigano feiticeiro, teu feitiço, ai meu Deus, eu faço tudo, tudo pelo governo seu e o eleitor o que deve fazer? É virar cigano e votar com você". Isso sem falar na canção principal que dizia que "Aluízio Alves veio do sertão, lá do Cabugi...". Assim se passou uma página folclórica, melódica, ingenuamente dramática e humana da vida política de Macaíba, que teve na Pensão da Esperança o oxigênio natural desse mundo frágil e encantado. O seu antigo endereço desapareceu com a sua proprietária, só restando a memória visual e auditiva da reconstituição dos gestos, das verdes bandeiras pandas ao vento, do ruído da multidão, da silhueta de Graziela, tudo como uma saudade suspensa no ar, mas renovada todas as vezes que passo pela calçada.

(*) Escritor.