Páginas
▼
31/03/2017
30/03/2017
O
ÚLTIMO ALCAIDE
Valério
Mesquita
Quando
assisti a reprise do programa “Memória Viva” da TV Universitária que nos
devolveu o estadista Dix-Huit Rosado, entrevistado por Carlos Lyra e Dorian
Jorge Freire, não contive a emoção ao revê-lo e ouvi-lo. Procurei uma crônica
que escrevera logo após o seu encantamento e decidi republicá-la. Só para
relembra-lo e constatar a falta que faz ao mundo político de hoje um homem do
seu nível e preparo intelectual.
Dix-Huit, da saga política dos
Rosado foi um samurai que edificou o país de Mossoró ao lado de outros
obreiros, irmãos na argila e no sangue. De longe sempre acompanhei a trajetória
da família Rosado emblemática, carismática, atávica, mágica. Quando faziam
política juntos representaram o santo mistério da unidade. O tempo implacável
com as suas angústias, dividiu a família, plantando-lhe as sementes da
discórdia. Sofridos, abatidos por tragédias, os irmãos se dividiram e sucumbiram
ao peso medonho do insensato jogo do Poder e da política perversa -
amor e perdição.
Mossoró,
hoje é um país confederado. Um país de sobrinhos e primos beligerantes que
desbotaram o rosado para a cor rubra e negra do próprio ofício desagregador.
Fragilizou-se igualmente a Roma, quando dividiu o império para ser destruído
depois pelos bárbaros. E o destino quase sempre trágico das oligarquias
benéficas. Desde Dix-Sept, Mossoró teve tempos idos e vividos, consumados com
tanta generosidade e autenticidade de espírito, com tanta sensação de perfazer
a ventura da vida com grandeza e respeito interior, que hoje, morto Dix-Huit,
não tenho como deixar de proclamar que os Rosado eram felizes e não sabiam.
Dix-Huit era o perfil do
burgo-mestre com raízes telúricas e emocionais, daqueles que tem a cara do seu
município e de sua gente. Dispunha de iniludível capacidade
de reinventar o fluxo virtual da sua atividade, assumindo os contornos de um
lirismo político inaugural que contrastava com a politicagem dominante na cidade.
Evidentemente, que outros fatores
também contribuíram para a queda desse mundo político semi-desaparecido. E
preciso que se devolva a Mossoró o sentido e o rumor do humano, da civilidade,
da paisagem e do tempo. A recomposição dos gestos e dos exemplos do passado,
voltando-se a resgatar a Mossoró libertária, lutando, resistindo sempre, com
paz e amor, portanto, ao som das mesmas canções eternas. Dix-Huit, mas do que
um estadista: Um alcaide. Um exemplo.
(*)
Escritor.
29/03/2017
É HOJE A FESTA DOS NOSSOS 115 ANOS
O INSTITUTO HISTÓRICO E GEOGRÁFICO DO RIO GRANDE DO NORTE CONTA COM A PRESENÇA DA SOCIEDADE NORTE-RIOGRANDENSE PARA COMEMORAR OS SEUS 115 ANOS DE GLÓRIA E HOMENAGEAR OS MÁRTIRES POTIGUARES DA REVOLUÇÃO PERNAMBUCANA DE 1817.
|
23/03/2017
C O N V I T E - DIA 27
| ||
O IHGRN SE MODERNIZA
ESTIMADOS ASSOCIADOS E PESQUISADORES, ESTUDANTES E COMUNIDADE POTIGUAR, o INSTITUTO HISTÓRICO E GEOGRÁFICO DO RIO GRANDE DO NORTE, NO ENSEJO DOS SEUS 115 ANOS ESTÁ EM TRABALHOS DE MODERNIZAÇÃO.
AS FOTOS MOSTRAM A MONTAGEM DAS ESTANTES DESLIZANTES PARA UM NECESSÁRIO E ADEQUADO ACONDICIONAMENTO DO SEU ACERVO DOCUMENTAL, FOTOGRÁFICO E DE OBRAS IMPRESSAS, AS QUAIS ANTERIORMENTE ESTAVAM EM ESTANTES ABERTAS, SEM ILUMINAÇÃO E AREJAMENTO, OCASIONANDO O ESTRAGO EM PARTE DO ACERVO.
AGORA TODO ESSE MATERIAL DE GRANDE IMPORTÂNCIA HISTÓRICA SERÁ DEVIDAMENTE CONSERVADO EM LUGAR ADEQUADO À DISPOSIÇÃO DOS USUÁRIOS.
O PRÓXIMO PASSO SERÁ A CATALOGAÇÃO DO ACERVO E DIGITALIZAÇÃO DE DOCUMENTOS PARA FUTURAMENTE DISPONIBILIZÁ-LO POR MEIO VIRTUAL.
O PRESIDENTE ORMUZ SIMONETTI LUTA PARA ENTREGAR O EQUIPAMENTO ATÉ O PRÓXIMO DIA 29, DATA DA COMEMORAÇÃO DOS 115 ANOS.
CONVITE PARA A SOLENIDADE DOS 115 ANOS
21/03/2017
|
15/03/2017
ARQUIVOS
Valério Mesquita*
01) Rebuscando papéis,
certo dia, fui achar uma carta que remeti ao jornalista e poeta maior Sanderson
Negreiros, datada de 21 de novembro de 1971. Eterno capataz dos mistérios
circundantes, o poeta utilizava os seus “Quadrantes” para captar o humanismo
asmático. Para tanto, tinha profunda e oxigenada “respiração filosófica”. Sou
seu leitor e eleitor de suas emoções. Vez por outra, me empolgava com a cosmologia
dos seus sentimentos e lhe escrevia. Ai vai uma cartinha de 46 anos que o poeta
de “Lances Exatos” recebeu sobre um assunto ainda bem atual:
“Lendo
a sua última crônica sobre os fariseus da maledicência, deduzi, com pesar, que
a grandeza de alma, nesses dias decadentes, não é contagiosa. Aqui,
parafraseando Shakespeare, é o exílio e longe a liberdade.
A
hidrofobia deixou de ser um caso veterinário para se tornar um problema
psiquiátrico de muita gente. E ninguém mais do que você se acha saciado da
expressão claramente perceptível dos homens e das coisas. Por isso, entre agir
e ser imbecil nessa terra, é preferível, permanecer na regra três. O bom é ser
místico. Místico na arte, na vida e na natureza. Buscar nas profundezas da vida
ou nas solenidades da dor, a verdade blindada: crêr no invisível para não se
suicidar no palpável. O visível encerra vícios redibitórios. Viver encarcerado
na vontade hesitante de ao invés de ser herói da própria vida, ser o espectador
do próprio drama.
Resta
assumir aquele compromisso com o imponderável de que você sempre falou. Para
que a maledicências ou o ódio dos homens não puxem o tapete de alguém, o
remédio é não tomar as feições das circunstâncias. Nesses tempos agitados a
intenção deve equilibrar-se a coragem. O importante é repetir e repetir sempre
que “o amor pode ler o que se acha escrito nas mais remotas estrelas”, no dizer
de Wilde.
E
por último a dolorosa constatação: Edmar Letreiro aplaudido pelo povo e Baracho
cultuado como santo. Daí se conclui que nos desencontros do mundo toda
celebridade quando não é célere é celerada”.”
02) Preocupado em preencher os meus ócios com a
matéria meritória de pesquisar o
inusitado, o folclórico e até mesmo o bizarro, deparei-me com
uma preciosidade rara
em matéria associativa. Pela Lei n° 6.469, de 15 de
setembro de 1993, foi reconhecida de Utilidade Pública pela Assembleia
Legislativa do Rio Grande do Norte a Associação dos Doentes da Coluna e
Reumatismo de Nova Cruz, referendada pelo ex-governador Vivaldo Costa, com toda
certeza, um “colunático” benemérito.
Desejo dizer que nada tenho contra a respeitável e
samaritana entidade. Até porque dela podem fazer parte amigos eméritos e
queridos como os novacruzenses famosos Diógenes da Cunha Lima, Luiz Eduardo
Carneiro Costa, Leonardo e Cassiano Arruda Câmara e tantos outros. Mas, o que
me chamou a atenção foi imaginar que numa cidade do interior existam tantos
doentes da coluna e do reumatismo que ensejem a reunião de todos em uma
colunável corporação.
Daí, eu passei a divagar, caso a moda pegue, no
surgimento de inúmeras associações congêneres em defesa do corpo humano, por
outros municípios afora. A “Associação dos Portadores de Chulé e Pé de Atleta”,
por exemplo, a “Associação dos Carecas e Portadores de Caspa e Seborreia”, a
“Associação dos Deficientes Penianos”, a “Associação dos Loucos de Todo o
Gênero”, enfim, somos um país democrático, reivindicatório e corporativo.
Se os profissionais da medicina se corporatizaram em
Clínicas, Institutos, Hospitais, porque não os doentes, os pacientes, em
revide, não possam se unificar? Afinal, a nossa constituição é a mais
corporativista de todas!
O ex-presidente FHC padecia de terríveis dores de
coluna. Iguais àquelas sofridas por João Batista Figueiredo curado em São Paulo por um fisioterapeuta
japonês. O então deputado federal Carlos Alberto de Souza à época, também
recebeu massagens e mensagens ao lado do ex-presidente, do competente nissei/paulista.
Daí, não censuro os reumáticos, os doentes da
coluna, de lumbago da altiva Nova Cruz e nem de Macaíba. Eles também são filhos
de Deus. E devem servir de exemplo nesses tempos ruins de SUS e de saúde
nacional sucateada.
Doentes de todos os quadrantes, uni-vos!
(*) Escritor
14/03/2017
Para repousar, rede de deitar
14/03/2017
Mobiliário & objetos
texto Gustavo Sobral e ilustração Arthur Seabra
A patente declarada é ser herança indígena. Peça do mobiliário
brasileiro, foi ficando mansa ao repouso dos ventos nas varandas e
terraços, nos alpendres, formando curva armada entre as pilastras,
segura nos armadores, para contemplação e sossego, seja sentado,
deitado, atravessado. Dizem que à noite, nela os casais se fazem um só e
são capazes de gerar terceiros, é o milagre da multiplicação que também
está na rede. Portátil desde sempre, os índios não foram bobos que
nada, fizeram uma cama para levar a qualquer lugar, basta enrolar e
fazer uma trouxa.
É possível de pendurar em qualquer canto. Já se viu muito
caminhoneiro pela estrada, quando há parada para descanso, armá-la na
sombra da carroceria. Antigas do tempo das ocas preenchiam o vão do
espaço e nela se deitava todo mundo, balançavam os mais velhos e os
meninos. E assim foi ficando. Um conhecido tinha por hábito, que não
herdou dos barões e do rei Dom João VI, de andar de rede conduzido por
dois carregadores. Privilegio do uso de quem lhe fazia as vontades.
Dizia à mulher, quero andar de rede, e lá se ia realizado o capricho.
A arquiteta ibrasileira (de origem italiana) Lina Bo Bardi quando
conheceu a rede tomou-se encanto: era além de cama, cadeira, certa que o
que povo confia e leva adiante no tempo é a verdadeira sabedoria do
conforto no uso. Feita de tecido, corda, os materiais são diversos,
para explicar a sua composição basta se dizer assim: é como um grande
lençol que se estica para deitar. Nas pontas, os chamados punhos, que é
onde está a estrutura para pendurar ou amarrar, seja numa pilastra, que
lhe dará sustento, porque é feita para ser pendurada, seja onde for.
É um móvel extremamente utilitário, mas como o homem é bicho que não
vive sem enfeite, para ela foram feitas as varandas, que são bordados
que se prendem às suas margens laterais, tramas desenhadas e compostas
pelas rendeiras. O sertanejo pobre também dela se aproveitou para
sepultura. O defunto se enterra com sua rede. Nela adormecido no sono
eterno, por ela é levado para a cova (rasa) quando se transpassa uma
vara entre os punhos para armá-la conduzida por dois serventes do
destino último na solidariedade derradeira da vida.
DIA DA POESIA
GOVERNO
DO ESTADO DO RN
FUNDAÇÃO
JOSÉ AUGUSTO
UNIÃO
BRASILEIRA DE ESCRITORES
14
DE MARÇO – DIA DA POESIA
Homenageando os poetas
do RN:
.
Ferreira Itajubá 140 anos de nascimento
. Jorge Fernandes 130 anos de
nascimento
PROGRAMAÇÃO
Teatro
de Cultura Popular – TCP
15h
– Poesia Contemporânea
(Nonato
Gurgel-UFRN, Camila – UFRN e Ana de
Santana)
16h
– Diálogos entre Jorge e Ferreira Itajubá
(Maria
Lucia Garcia e Tarcísio Gurgel)
17h
– Leitura Dramática de Jorge Fernandes
(Paulo
Jorge Dumaresk)
Jardins
do TCP
17h
– abertura da Feira de Sebos
17h30
– Performace do poeta Plinio Sanderson
Teatro
de Cultura Popular – TCP
18h
– Sarau Lítero-Musical
(Coordenação
do poeta Eduardo Gosson, presidente da União Brasileira
de Escritores-UBE/RN, que contará com participação especial do professor,
poeta, músico e ex-presidente da UBE/RN Roberto
Lima de Souza que está preparando um CD com poetas potiguares musicados)
19h
– Show de Geraldinho Azevedo
Taberna
Racine Santos:
20h
– Exposição Itajubá e Jorge
(curadoria
Novenil Barros)
Revista Carcará (áudio-visual potiguar)
Editor
Rodrigo Rammer
.lançamento
do Edital Boi de Prata (R$ 300.000,00 para a produção de 04 documentários)
Homenagem
ao cineasta Ribeiro Junior
Lançamento
da Folha Poética (Aluízio Matias)
Poetas
e acadêmicos Lívio Oliveira e Jarbas Martins recitarão 03 poemas
cada um
The
end
|
13/03/2017
10/03/2017
|
H O J E
ACADEMIA DE LETRAS JURÍDICAS DO RIO
GRANDE DO NORTE
A L E J U R N
COMUNICAÇÃO Natal, 03 de fevereiro de 2017
Estimado Confrade,
Comunicamos que no
próximo dia 10 do mês março próximo vindouro, no período de 9 às 17 horas
estaremos recebendo os votos para a eleição do novo (a) acadêmico (a) para a
cadeira nº 03 – Patrono ALVAMAR FURTADO DE MENDONÇA, para a qual se inscreveram dois candidatos:
FRANCISCO HONÓRIO DE MEDEIROS FILHO e ISABEL HELENA MARINHO.
Por oportuno, informamos que o voto poderá
ser sufragado por correspondência, nos termos do Regimento Interno vigente,
desde que entregue à Comissão Eleitoral dentro do prazo do processo de votação
ou pelo processo eletrônico aos cuidados do Presidente da Comissão Eleitoral
JURANDYR NAVARRO DA COSTA, através do endereço: alejurn2007@gmail.com
Qualquer
dúvida poderá ser esclarecida através do telefone 3232-2890.
Respeitosamente
________________________________
LÚCIO TEIXEIRA DOS SANTOS
Presidente da ALEJURN
09/03/2017
BAR
GATO PRETO E PENSÃO DA ESPERANÇA
Valério Mesquita*
Mesquita.valerio@gmail.com
01) Na chamada "Cinco
Bocas", território humano e sentimental de Macaíba, não existe mais o bar
"Gato Preto", que tem suas origens nos primórdios da
"civilização". Foram mais de cem anos de história viva, de pastores
da terra, das nuvens, das estrelas, queimando vigílias na província submersa.
Chão sagrado de antepassados, povoado de rostos ocultos, de figuras pálidas por
longas noites assombradas. Nele vislumbro os vultos inaugurais de Zé Solon,
Alberto Silva, Chico Cajueiro, Lula Ramos, Jorge Chocalheiro, Zé Pelado, Manoel
Sabino, Chico de Dulce, Banga, Sinval Duarte, Manoel Pixilinga, Jorge de Papo,
Odilon Benício, entre tantos outros que desapareceram vítimas do tempo, esse
astrólogo arbitrário. As “Cinco Bocas” ferinas, são cinco ruas que deságuam
como um rio noturno na intimidade simples dos lençóis de minha terra. Rua do
Cajueiro, rua do Benjamim, beco de seu Alfredo, beco do Mercado e rua da Cruz.
Esse pedaço de chão no centro de Macaíba carrega a saga lírica, popular e
mística de muitos obreiros que gastavam saliva diariamente no pórtico de suas
entranhas, de suas calçadas. O "Gato Preto", sempre foi o antigo
desterro de mim mesmo, da infância perdida mas petrificada no silêncio de suas
paredes. Mas, o que importa é que por onde andei eu carreguei o seu andor.
Mesmo deformado fisicamente, o seu espírito vive. Basta contemplá-lo e
deixar-se envolver na sua atmosfera densa, no centro de Macaíba. Era um bar,
com todos os seus habitantes. Figuras opacas, empíricas, etílicas. Todos
reduzidos a humanidade comum. Todos crentes de que a verdade e a vida nunca
estão num único sonho mas em muitos. Era o nosso “Grande Ponto” que tombou e
morreu como o de Natal. Tanto ontem quanto hoje, caracterizou-se como um
cenário profuso e difuso, tecido de conversas banais, de palavras soltas,
malandras, boatos, chafurdos soprados pelo errante vento da esquina. Tudo
coisas fugidias: prateleiras, garrafas solitárias e eternas, sinucas, bilhares.
Todos os seus notívagos caminheiros são incertos, dispersos e derradeiros. Aí
de nós se não fosse o mistério do nome, do 13, do “Gato Preto”. Por que “Gato
Preto”? Não sei. As coisas misteriosas são fascinantes.
02) Na primavera política
do início dos anos sessenta no Rio Grande do Norte, pontificava na província
submersa de Macaíba, a imbatível Pensão da Esperança. Nasceu no fragor das
lutas eleitorais e foi a nau catarineta do aluizismo. Nela singrava o mar
encapelado da política macaibense, a capitã de longo curso e minha prima
Graziela Mesquita. Bacurau de cinco estrelas, Grazi era uma das dissidências
dos Mesquita. Situada à rua de Nossa Senhora da Conceição, a Pensão da
Esperança, era também o Porto Seguro das caravanas, das manifestações
aluizistas e quem fosse arara jamais seria hóspede. Graziela solteirona
invicta, mas parecia uma matrona romana. Andava nas pontas dos pés, como se
fosse desabar de frente. Pesava-lhe muito o imenso busto-arbusto. Elétrica,
vibrante, frenética e fanática, era simpática com todos os seguidores da causa.
Nesses tempos trepidantes tivemos uma relação política difícil mas respeitosa.
Isso influiu, para que, mas tarde, tornássemos correligionários, até a sua
morte. A Pensão da Esperança era o termômetro político da cidade mas também o
alvo possível das manifestações hostis do dinartismo radical. De quando em vez,
ocorriam "atentados à bomba" no recinto, obra de alguns
ativistas sorrateiros para perturbar o sossego de Graziela e testar o seu
prestígio. Mas, nem era preciso. Como um raio, riscava à porta o delegado de polícia
para as necessárias averiguações e prisão dos culpados. Grazi era intocável, um
patrimônio tombado e vivo da cruzada da esperança. Outro enfoque político digno
de nota, era a sua fiel ala-moça, treinada para cantar as canções de Aluízio. "Cigano
feiticeiro, teu feitiço, ai meu Deus, eu faço tudo, tudo pelo governo seu e o
eleitor o que deve fazer? É virar cigano e votar com você". Isso sem
falar na canção principal que dizia que "Aluízio Alves veio do sertão,
lá do Cabugi...". Assim se passou uma página folclórica, melódica,
ingenuamente dramática e humana da vida política de Macaíba, que teve na Pensão
da Esperança o oxigênio natural desse mundo frágil e encantado. O seu antigo
endereço desapareceu com a sua proprietária, só restando a memória visual e
auditiva da reconstituição dos gestos, das verdes bandeiras pandas ao vento, do
ruído da multidão, da silhueta de Graziela, tudo como uma saudade suspensa no
ar, mas renovada todas as vezes que passo pela calçada.
(*) Escritor.