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18/11/2015

ANIVERSÁRIO DO GRANDE AMIGO

Com grande alegria a sociedade potiguar e, particularmente os macaibenses, celebram hoje o aniversário do seu grande intelectual e líder político VALÉRIO ALFREDO MESQUITA, homem de múltiplas atividades culturais na condição de Membro da Academia Norte-Rio-Grandense de Letras, da Academia de Letras de Macaíba e atual Presidente do Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Norte, com uma administração consagradora.
Ao tempo em que louvamos a sua efeméride, reproduzimos mais uma prova do seu talento:


RELEMBRANDO SOFIA

Valério Mesquita

Rua Voluntários da Pátria 722, Cidade Alta, Natal. Telefone: 2901. Era o endereço do casal Temístocles Duarte e Sofia de Andrade Duarte. Corria o ano de 1954. Eu chegara de Macaíba aos doze anos para estudar no Colégio Marista e neste lar me hospedei, trazido pelos meus pais. Sofiinha, assim chamada carinhosamente por todos, era a filha caçula de Dario Jordão de Andrade e Sofia Curcio de Andrade, filha de imigrantes italianos. Mas, em minha tia, pontificavam os traços iniludíveis dos ancestrais europeus, cuja juventude em Macaíba e Natal chamava a atenção pela beleza. Herdou, ainda, de sua mãe a coragem espartana, quando enfrentou a viuvez – ainda muito jovem – genitora de uma prole de seis filhos: Clóvis, Nair (minha mãe), Dario, Floriano, Nilda e a própria Sofiinha. Clóvis Jordão de Andrade foi funcionário federal da Alfândega em Recife, além de escritor e poeta com vários livros publicados. E Dario Jordão de Andrade destacou-se na magistratura como juiz de Direito e jurista de reconhecido valor no Rio Grande do Norte.
Do casamento com Temístocles, funcionário concursado do Fisco Estadual, nasceram Sililde e Ticiano Duarte. Emerge, agora, como uma saga da memória, a primeira residência à rua 13 de Maio, hoje Princesa Isabel. Ali próxima, a modesta mercearia de minha avó, pois, a família Andrade sempre foi unida e pacífica sob o comando seguro da sua matriarca. Mas, Sofiinha, era a líder inconteste dos irmãos. A sua palavra soava como a última em qualquer assunto, fosse familiar, político, religioso, comercial, etc. Recordo o seu desempenho pragmático e ostensivo quando saía às compras com a mana mais velha Nair.
Na “Nova Paris” de Nivaldo Bonifácio, avenida Rio Branco,  após a sessão de prova de perfumes, minha mãe, antes de escolher, por hábito consuetudinário, consultava a irmã: “Sofia, esse perfume parece o melhor. O que acha?”. Sofiinha, envolvente e itálica, gesticula e convence: “Nair, minha mana, é porque você não provou este”. Sob o olhar curioso de Nivaldo, a obediente Nair assentia docilmente.
Relembro Sofiinha, católica apostólica romana e sua fé fervorosa na Virgem Maria. Acompanhava-a no terço semanal do Patronato da Medalha Milagrosa, na Praça André de Albuquerque. Ela se destacava pelo espírito nato de liderar, opinar e persuadir. Sililde, Ticiano e eu não escapávamos de suas repreensões domésticas. Ali perto, na Voluntários da Pátria, a vizinhança amiga, a Padaria União de Avelino Teixeira Filho, e seu marketing aliciante: “impera pelo estoque, domina pelo trato e convence pelo preço”.
Por outro lado, testemunhei sua altiva disposição de luta e coragem espiritual na superação de obstáculos que ficaram em mim como radiosas manifestações do seu temperamento peninsular. A propósito dessa imagem recorrente, foi singular sua atitude de socorrer em Recife o irmão Clóvis, gravemente enfermo, tal qual uma rosa mística. O primogênito faleceu segurando as suas mãos samaritanas num momento trágico e emocional. Sofiinha me impressionava pela visão beatificadamente lírica da fé cristã, no exercício diuturno da recitação do terço e da condição humanitária de ser.
Outra postura de sua incomparável beleza de proceder era a dramática e quase teatral exibição de se confessar macaibense, como se quisesse provar uma verdade científica, universal e superior de sua cidadania. Isso, comovia a todos. O centenário do seu nascimento nos reúne e nos une em torno de sua memória. Foi, apenas, uma mulher simples, do lar, da gente, despretensiosa, mas líder e responsável pela integração democrática da família que irradiava luz rara e personalíssima.

(*) Escritor.

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