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29/09/2015



A Academia se abre. E isso se impõe

Lívio Oliveira [Advogado público e poeta - livioalvesoliveira@gmail.com]


O tempo é caracterizado pela inexorabilidade. As mudanças e as transformações se impõem. Não há muito o que ser feito. E há. Faz-se, refaz-se o mundo, até porque é necessário manter-se criando. Criar é pensar. E ser. É viver em essência. E pensamento requer ação. Ação requer planos. Planos buscam perpetuação do fazer. Tudo gira. A fila anda. Acontece que portas se fecham e se abrem enquanto o mundo e a mente humana descrevem suas circunvoluções e as superluas se posicionam sobre os nossos olhares curiosos que se jogam à escuridão da noite, em busca do sanguíneo e sensual satélite a nos advertir sobre nossas ancestralidades, nossas antiguidades e nossas possibilidades, limitadas ou nem tanto. 

A ideia da imortalidade – ou o apreço à mesma –, como maneira de fugir à mais poderosa das indesejadas personagens e prosseguir vivendo, convivendo com essas ancestrais questões, antigos vínculos humanos e permanentes tratativas em pensamento e obra, está sempre sendo cultivada na mente humana. Daí porque os símbolos fortíssimos dessa realidade se mantêm, firmando-se psíquica e culturalmente. Indivíduos e coletividades. Grupos que almejam essa espécie “salvacionista”. As academias de letras do mundo ocidental são assim. No mundo todo e aqui. São assim. Simbolizam vida eterna (ao menos se faz uma tentativa), muito mais da obra do que do homem ou da mulher que tomam assento nessa espécie de templo intelectual, associação, corporação, confraria, ou como mais se entenda sobre sua natureza. 

Não sou dos que torcem o nariz para as academias. Ao contrário. Antes, percebo-as com a naturalidade e o respeito de quem compreende a importância das instituições como alicerce das sociedades organizadas e enraizadas sob aspectos civilizatórios que se buscam perenes. As academias, em si, não são boas e nem más. Bons ou maus são os homens e mulheres que as compõem. Ali o que se mede são as biografias pessoais e as obras. É assim que deve ser, para que se mantenha a regra basilar do jogo. O jogo da arte literária e da história pessoal, medindo-se como isso pode contribuir com a posteridade. Ora, os maiores beneficiários que uma arregimentação de homens e mulheres podem ter são os homens e mulheres das gerações que lhes são contemporâneas e daquelas que estão por vir. Em suma: um lugar individual ocupado num lugar coletivo como uma academia de letras deve sempre trazer o que há de importante, elevado e digno, essencial à sociedade plural, não a um grupo estanque, vedado, impermeável, ou a um indivíduo egocêntrico, narcisicamente determinado a reinar sozinho.

Por saber disso, sinto-me reconfortado. Por saber e perceber e presenciar a realidade de que a Academia Norte-Rio-Grandense de Letras está seguindo no rumo correto do casamento com a sociedade culta e com os mais profundos amantes da arte literária, tendo, em evento muito recente, seu dinâmico presidente Diógenes da Cunha Lima anunciado, dentre muitas realizações e metas, lançamentos sequenciados e contínuos da “Revista da Academia”, anunciando também nova comenda da entidade – desta feita, para o entrosamento da arte literária com a arte jornalística, homenageando-se o imortal e saudoso jornalista Agnelo Alves. Também são anunciados diálogos e debates múltiplos entre escritores de várias gerações, com o calendário já sendo construído e com diretrizes sendo estabelecidas. Os intercâmbios literários servirão aos autores-intelectuais e a todos os interessados. Evidente que haverá sólido componente didático-pedagógico, com o chamamento das escolas. E é claro que isso tudo se aperfeiçoará. Há até a possibilidade da criação de um pequeno museu ou acervo que homenageie os patronos e acadêmicos. Acho isso tudo muito importante, como contribuição artística, cultural e histórica ao desenvolvimento do Estado do Rio Grande do Norte. 

Vejo a firme intenção e o trabalho criativo de muitos dos acadêmicos e colaboradores no sentido de que todas as metas sejam alcançadas com rigor. Espero, por tudo isso, que as portas da ANRL – nesses 80 anos quase completados e nos que lhe seguirão – se mantenham mesmo abertas, escancaradas, principalmente para as gerações que vêm impondo seus desejos pétreos de transformações reais. Que fiquem assim as portas, para que o novo ingresse (e vai ingressar) serenamente e a inteligência coletiva perene possa ser, ainda mais e fielmente, louvada e garantida, sob seus vários e ricos aspectos.

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