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04/05/2015

São Romão no século XIX


João Felipe da Trindade (jfhipotenusa@gmail.com)
Matemático, sócio do IHGRN e do INRG.
Há muitos desencontros nas informações dessa localidade, que hoje recebe o nome de Fernando Pedroza. No próprio site da Prefeitura, encontramos a seguinte informação: Vila de São Romão era assim chamada devido a uma antiga moradora por nome Crináuria que doou a imagem de São Romão para a 1ª capela, que fica ao lado da estação ferroviária, que hoje funciona como armazém. Outros disparates aparecem em vários textos sobre Fernando Pedroza.

 Por isso, resolvi escrever algumas linhas sobre São Romão, usando principalmente registros da Igreja do século XIX. Meu interesse por São Romão vem do fato de alguns ascendentes meus terem vivido por lá.

Manoel Ferreira Nobre, em suas “Breves Notícias Sobre a Província do Rio Grande do Norte, não menciona São Romão, mesmo escrevendo sobre Angicos; Nestor dos Santos Lima quando escreveu, sobre o esse mesmo município, disse o que se segue sobre São Romão: novo e florescente povoado, a 10 km da Vila, sobre a estrada de Lages-Angicos, fica à margem direita do Rio de Angicos, tem grande número de casas e uma capela, recentemente construída e dedicada a São Romão. Tem escola rudimentar (1925) e feira semanal. Mais adiante, quando tratou da Fazenda São Romão, informou como pertencente a Joaquim Firmino Filho. Fala também sobre um serrote de mesmo nome.

Aluízio Alves, em “Angicos”, fala sobre o distrito de  Fernando Pedroza, a partir da construção da estrada de rodagem Lages-Santana do Matos: São Româo era, a esse tempo, uma extensa mata, propriedade de vários agricultores, entre os quais Fernando Pedroza, Joaquim Firmino e Miguel Trindade.

Minha avó, Maria Josefina Martins Ferreira, por exemplo, embora tenha nascido na Fazenda Cacimbas do Vianna, hoje localizada em Porto do Mangue, foi batizada em São Romão, como podemos ver do registro a seguir: Maria, filha legitima de Francisco Martins Ferreira, e Francisca de Paula Martins Ferreira, moradores nesta Freguesia, nasceu aos quatro de dezembro de mil oitocentos e setenta, e foi por mim solenemente batizada, no sítio São Romão, desta mesma Freguesia, aos 10 de agosto de mil oitocentos e setenta e um; foram padrinhos, o major José Martins Ferreira (avô paterno da batizada), por seu procurador Vicente Ferreira Xavier da Cruz, e Maria Ignácia Rosalinda Brasileira; Vigário Felis Alves de Souza. Dona Crináuria, citada acima, minha tia, era filha de Miguel Francisco da Trindade e Maria Josefina Martins Ferreira. Foi casada com Joaquim Firmino de Deus Gonçalves Filho.

Minha bisavó, Francisca de Paula Maria de Carvalho (nome de solteira), também foi batizada na mesma localidade da filha: Francisca, branca, filha legítima de Vicente Ferreira Xavier da Cruz e Maria Ignácia Rosalinda Brasileira, nasceu aos 13 de fevereiro de 1848, e foi batizada, no Sítio São Romão, aos 30 de março do mesmo ano, pelo Reverendo Felis Alves de Sousa, sendo padrinhos João Luis da Rocha, solteiro, e Izabel Francisca de Sousa, viúva, do que para constar mandei fazer este assento, em que me assino. Felis Alves de Sousa, Vigário Colado de Angicos.

Minha tia bisavó, Maria Ignácia Teixeira do Carmo (nome de solteira), também foi batizada em São Romão, como podemos ver do registro a seguir: Maria, branca, filha legítima de Vicente Ferreira (Xavier) da Cruz, e de sua mulher Maria Ignácia Rosalinda (Brasileira), naturais e moradores neste lugar, nasceu a 28 de fevereiro de 1846, e foi por mim solenemente batizada, no Sítio São Romão, a 17 de junho de mesmo ano, sendo eu mesmo padrinho, digo = Procuração que dei a José Thomas Pereira, e Rita Teixeira da Conceição; do que para constar, faço este assento, em que assino. Felis Alves de Sousa, Vigário Colado de Angicos. Maria Ignácia, quando casou com José Francisco Alves de Souza, passou a se assinar como Maria Ignácia Alves de Souza. Era a mãe do capitão J. da Penha, de José Anselmo e de Maria das Neves, esposa do jornalista Pedro Avelino.

A maioria dos registros que encontro da época, em São Romão, está ligado ao meu trisavô Vicente Ferreira Xavier da Cruz, e, por isso acredito que ele era o proprietário da Fazenda ou Sítio São Romão. Vejamos mais um registro de filho de Vicente: Manoel, branco, filho legítimo de Vicente Ferreira Xavier da Cruz e de sua mulher Maria Ignácia Rosalinda Brasileira, nasceu aos 21 de novembro de 1850, e foi por mim solenemente batizado, no Sítio São Romão, desta Freguesia, aos 10 de dezembro do mesmo ano, sendo padrinhos Nossa Senhora da Conceição e Hermenegildo Pinheiro de Vasconcellos, branco, casado, do que para constar fiz este assento, em que assino. Felis Alves de Sousa; Pouco tempo depois, Manoel, em 27 de janeiro de 1851, foi sepultado, tinha pouco mais 2 meses. No registro consta que seus pais eram moradores da Fazenda São Romão.

O registro mais antigo da Freguesia de Angicos, de um sacramento em São Romão, foi do casamento de Ignez, escrava de Vicente Ferreira Xavier da Cruz, com Manoel Antonio, no dia 30 de outubro de 1844, na presença de Joaquim Ignácio Pereira e João Luis da Rocha.

Aos dez de outubro de 1872, quem casava no Sítio São Romão, com dispensa de afinidade ilícita, e na presença de Francisco Martins Ferreira e Cosme Teixeira Xavier de Carvalho, era Marcolino de Freitas Gogó, com Vicência Maria da Conceição, ele do Assú e filho de Alexandre Nogueira da Silva e Ana Maria da Conceição, falecidos, e ela de São José de Angicos, e filha de José Teixeira Branquinho e Generosa Maria da Conceição. Essas testemunhas estavam ligadas ao meu trisavô Vicente Ferreira Xavier da Cruz: o tenente-cirurgião Francisco Martins Ferreira, meu bisavô, era genro dele, e Cosme Teixeira Xavier de Carvalho, meu tio bisavô, era filho.

Quando José da Penha falou: “Tabuleiros, onde minha infância perseguiu borboletas. O meu coração tem a dureza daquelas pedras. E com este rochedo de carne, hei de esmagar a oligarquia dominante”, talvez estivesse falando daquelas pedras que circundam São Romão, terra de sua mãe, Dona Maria Ignácia Alves de Souza.

Ass. de Vicente Ferreira Xavier da Cruz

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