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06/04/2015

Quase zero é zero


Tomislav R. Femenick – Contador e mestre em economia.
Sócio efetivo do IHGRN.

Como contador tenho que trabalhar com números absolutos, portanto tenho que considerar os números com a representatividade que eles têm. Assim, “1” representa uma unidade de valor (um real de disponibilidade, uma máquina, de débitos com terceiros etc.). Em outras palavras: qualquer número deve ser entendido pelo ser valor absoluto, o valor próprio do algarismo.
Todavia, como economista tenho que me comportar de maneira diferente; nem sempre os números têm que ser vistos por esse prisma, principalmente quando eles são resultados de estatísticas. Nessas ocasiões tenho que olhar os números por outro ângulo, pelo seu valor relativo, pois ele é um valor posicional a uma outra grandeza.
A recente divulgação do PIB de 2014 na ordem de 0,1 foi uma paulada, o pior resultado para a economia nacional, desde 2009, ano do auge da crise econômica mundial, quando a marolinha que Lula dizia se transformou em tsunami. Porém acho que o resultado do ano passado foi pior ainda. Tudo é possível, levando em consideração o comportamento do governo de alterar dados e de adotar uma contabilidade criativa para mascarar resultados.
Ora, se em termos relativos quase zero pode ser considerado zero, dependendo da extensão decimal adotada e, ainda, o histórico de não rigor matemático dos atuais donos do poder, nada nos impede de suspeitarmos de que nosso crescimento foi negativo e não somente zero. Porém o mais importante é analisarmos como o governo está tratando do assunto. Adotar medidas para mudar o rumo é corretíssimo. Porém há que se considerar que medidas são essas. Até agora o ministro Levy (um estranho no ninho petista) somente anunciou medidas que tiram recursos dos trabalhadores, das empresas e dos investimentos, fugindo do âmago do problema que são os gastos crescentes com a manutenção da máquina governamental. No final do mandato FHC o executivo federal possui algo entre 70 e 80 mil funcionários, hoje são quase 230 mil; além de que os salários dos altos escalões subiram muito além dos índices inflacionários. Um exemplo típico é a proposta – que será discutida na próxima assembleia de acionistas – de um aumento de 13% para executivos da Petrobras, empresa que vive a maior crise de sua história.
Por outro lado, são tantos os funcionários, são tantos os cargos de mando que a máquina pública emperrou e não consegue andar, resultado da burocracia criada para justificar esses cargos. Sobrou para a iniciativa privada que tem que viver com tantas exigências e tantos procedimentos que tem que seguir. Há ainda o fato de que ninguém decide nada e o jogo de empurrar protela tudo.
Outro ponto a ser considerado é a enormidade de obras que foram iniciadas e que estão paralisadas ou quase parando. A transposição do Rio São Francisco, a Ferrovia Transnordestina, as linhas de transmissões dos parques eólicos são apenas alguns exemplos de investimentos que deveriam estar produzindo recursos, mas que, não concluídos, estão aumentando os custos.
Enquanto se contingencia os investimentos de interesse nacional, o governo federal continua gastando nossos impostos com projetos que beneficiar governos amigos. Não bastasse o perdão das dividas de ditadores africanos etc. e tal, agora quer investir R$ 60 milhões para reformar a usina térmica Rio Madeira e doa-la à Bolívia de Evo Morales. Nesse negócio dois aspectos têm que ser destacados. Primeiro, nós estamos vivendo uma crise energética sem precedentes e nada justifica gastarmos dinheiro para resolver problema de geração de energia dos outros, por mais hermanos que sejamos. Segundo, Evo Morales é aquele mesmo que mandou o exercito da Bolívia invadir as instalações da Petrobras.

 Aumentar juros, impostos, gasolina, conta de luz e outras medidas semelhantes são medidas fáceis de tomar. Difícil é conter os gastos do governo, que estão fora de qualquer controle.

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