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07/03/2015

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A   D I P L O M A C I A   E   O   C E N Á R I O    I N T E R N A C I O N A L  

Gileno Guanabara, sócio efetivo do IHGRN
 
                Não fui, nem sou diplomata. Sou apenas um observador sul-americano e posso ser contrariado. O Brasil sofre um déficit de projetos estruturantes vinculados ao futuro, a fim de superar suas crises: vias navegáveis e trafegáveis de uso intensivo, pelo não mais exclusivo uso do automóvel; economia hídrica; uso diferenciado da energia; políticas de ocupação urbana e de produção rural; política educacional permanente nos campos elementar, acadêmico e profissional. Do ponto de vista social, as políticas compensatórias dispensam populismo e as mudanças necessitam de resultados de longo prazo.
Há carência nos conceitos diplomáticos do Brasil, diante do cenário internacional. No plano regional estamos cercados de governos nacional/populistas, de pressões ocasionais que não apontam à distensão, nem à democracia. Frente a extensa fronteira, o narcotráfico é agente de troca. A frágil economia do Paraguai. A fronteira rota e contaminada da Bolívia. A situação da Venezuela, por depender exclusivamente das exportações de petróleo, a queda mundial dos preços do barril evidenciou a fragilidade de suas instituições políticas, com repercussões no continente.
A intervenção brasileira em questões de menor interesse, em disputas menos significativas de seus propósitos – o projeto belicista do Irã; o isolacionismo da Coréia do Norte, por exemplo - não contribuiu para o resguardo diplomático que a cautela recomenda. A Ásia e o Oriente Médio tornam-se cada vez mais um labirinto complexo, onde o confronto entre etnias e culturas aparentadas e excludentes, fronteiras artificiais, armamentismo, preconceitos religiosos e subornáveis governantes, fundamentaram intervenções militares fraticidas e o liberou geral do terrorismo. A negação dos direitos da mulher ou a proposta de negociação em conflito ideologizado, com apelo a recurso a manus militari, constituem uma mesma instância, destroem a História secular daquela civilização.
Mais recentemente, a recusa ao pedido de clemência feito através da chancelaria do Itamaraty, para evitar o fuzilamento de brasileiro acusado de tráfico internacional de drogas, na Indonésia, fez a Chefe de Governo deixar de receber o embaixador nomeado, acirrando a crise diplomática com a Indonésia. O mesmo ocorreu antes, em questões internas do Paraguai, quando da cassação do ex-presidente José Lugo, provocando o afastamento daquele país do Mercosul. A crise decorrente da ocupação de empresa brasileira em território boliviano, ou o refúgio de desafeto político de Evo Morales, na Embaixada do Brasil em La Paz, sua fuga e abrigo no Brasil, a quem não se concedeu a condição de asilado, contraria a tradição diplomática.
 Com relação aos Estados Unidos, face o intercâmbio constante e o significado da balança comercial, em que pesem as propostas políticas do governo Obama – crescimento da economia; afastamento militar do Iraque; reatamento com Cuba; reconhecimento da imigração latino-americana – a rota da diplomacia brasileira se firmou na direção da África, do Oriente Médio, de Cuba e de reaproximação com a China. Da primeira, ditaduras, corrupção, guerras tribais/coloniais permanentes e diminuto saldo comercial; do segundo, equidistância com a cultura brasileira e isolacionismo para com seus vizinhos árabes; do terceiro, envolto ao fim da solidariedade com a extinção da URSS, negociando secretamente a abertura de relações com os EUA, infenso as inovações, à cata de investimentos.
 Com relação à China, a desproporcionalidade da balança comercial, para o lado de cá, desfavorável pela distância geográfica e pelo baixo custo operacional de sua mão de obra e outros custos de produção. Daí a propensão do colosso comunista de engessar o mercado consumidor mundial, face a explosão de sua economia, societária da alta tecnologia dos países capitalistas, a par de preços não competitivos que favorecem a prática do açambarcamento das comodities, que interessam a sua expansão, a preços que sabe impor no mercado. A China virou capitalista.
A crise que assolou Portugal, Espanha e Itália fez da Grécia a bola da vez. Inexiste uma formulação apta para a solução do impasse. A vitória do Partido Syriza, por si só não satisfaz, em que pese a afoiteza do governo recém eleito. Os credores europeus anuíram a novo prazo, para cumprimento dos acordos e a assentada das reformas e reajustes da economia. A despreocupar-se com a crise, numa visão inocentemente concebida, iria provocar crise na Zona do Euro. Precioso lembrar que Portugal, Itália e Espanha vivenciaram imbróglio igual, mas, apesar de seus efeitos, pouco aconteceu de mais substancial, salvo a exclusão da cena política do ultra conservador, Silvio Berlusconi e a sua Bunga Bunga. As instituições da Europa permanecem funcionando. Agora, cabe à Grécia a parte maior das tarefas.
Considere-se a situação da Alemanha governada por um partido conservador. São setenta anos passados desde o fim da Segunda Guerra Mundial que a devastou, com a derrota do nazismo. A Alemanha se refez. Atualmente se comporta com autoridade fiadora da Europa. Pela estabilidade de sua economia, dados respeitáveis revelam índices sociais invejáveis de renda. A economia alemã impõe-se aos demais países e suas demandas econômicas. A Inglaterra dos Trabalhistas foca o debate na disputa monetária para com a Zona do Euro, em especial para com a economia alemã. De uma Alemanha que se contrapõe ao exclusivismo mercantil dos Estados Unidos na região, ao vácuo de parceiros confiáveis. O exercício da tributação como forma de financiamento do Bem estar social: com taxas de desemprego reduzidas, enquanto a previdência social, sem corrupção, não transfere ônus a seus beneficiários. Não é por acaso que, pactuando taxas ínfimas de inflação e níveis de crescimento per capita, as finanças alemãs hajam contribuído para amenizar o aperto da Euro Zona. Em tudo vê-se a importância do seu sistema político-eleitoral representativo, mais transparente e democrático. Não se assistem crises periódicas entre os poderes da República. Contrapondo-se à presença revisitada de Putin na Ucrânia, a indiscutível liderança de Ângela Merkel.
Verdade é que a crise interna da Rússia, agravada pela guerra na Ucrânia, tem a ver com a sofrência do preço de petróleo, com efeitos devastadores nos países exportadores. Não se diga de uma guerra exclusiva para encobrir o entulho acumulado desde a queda do antigo regime. Pode até ser que a intervenção russa na Ucrânia atual sirva para recogitar a ideia de refazimento de antigas fronteiras. Não convence, porém, dizer que não há interesses econômicos no conflito. Na diplomacia e na política as pantomimas não duram por muito tempo.

                 

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