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21/03/2015

JN



PROFESSORA ALBERTINA GUILHERME

Jurandyr Navarro
Do Conselho Estadual de Cultura




Evoco, nesta página, a passagem pelos saudosos corredores do Atheneu Norte-Rio-Grandense, entre as décadas de 1940/50, quando funcionava no antigo prédio, da chamada cidade alta, de nossa Capítal.

Nesse regresso ao passado revejo imagens dos mestres que ensinaram com dedicação e inteligência, a  gerações estudiosas, dentre os quais destaco, em plano elevado, a docente Albertina Guilherme.

Por essa data, o velho educandário, o primeiro do ensino público, detinha a exclusividade em possuir o curso colegial: clássico e científico, preparatórios aos bancos universitários. E foi, por esses distantes dias, o ingresso da professora em referência, lecionando Filosofia, ela a primeira diplomada a ser lente na mencionada cadeira, desempenhando, a contento, o magistério pela capacidade aferida na sala de aula.

Ciência abstrata por natureza, a filosofia, haurida em berço grego, cultiva a retidão do juízo formulado. A lógica, por ela direcionada, conduz o espirito humano à pesquisa da verdade e o silogismo, por sua vez, induz à cultura da razão, revelando, uma espécie de ginástica mental, o mistério do vazio imaginário.

No conceito aristotélico, segundo autores, a filosofia é a mais elevada, a mais execelente, a mais divina, das ciências dedutivas, por conceder princípios a todas elas.

Foi, a professora Bertha Guilherme, a primeira docente, no nosso Estado, a ensinar essa complexa disciplina, à época somente ministrada nos salões dos Seminários católicos, matéria auxiliar da Teologia e da Teodicéia.

Discípulo seu que fui, ao lado de colegas inesquecíveis, recordo método por ela utilizado para o melhor aprendizado, na forma de arguições  intercaladas pela verbalização de debates, ensejando aulas movimentadas e estimulantes, cujos resultados eram apresentados, via trabalhos elaborados, mensalmente, independentes das conhecidas e obrigatórias provas parciais trianuais.

A simpatia da sua personalidade a todos conquistava, razão de ter sido escolhida Paraninfa, da turma de 1950, por aclamação.

Nessa personalidade marcante ostentava ideais elevados, na sua dinâmica vida intelectual e social. Além do magistério, tinha ela obrigações outras tais a religiosa, pertencente que era da “Juventude Feminina Católica”, órgão de vanguarda moralista, dirigida pelo saudoso padre Luiz Monte, à época consagrado intelectual, conhecido pelo binômio invejável de santo e sábio e idealizador da Escola de Serviço Social, posteriormente, depois de edificada, sob a criteriosa direção do seu irmão, então sacerdote Nivaldo Monte.

A seu tempo, Eugênio Delacroix expressava: “Acalentamos grandes ideais na juventude. Felizes daqueles que o conseguiram”.

A professora Bertha Guilherme pertencia a esse corpo de escol! Desse proceder o seu ativo espírito alteou-se aos cimos estrelados dessas aspirações sentimentais. A movimentada atividade exercitadas afastava a lassidão, doença psicológica de almas desanimadas, destituídas de projetos ambiciosos, por acalentarem vontade fraca, temerosas de enfrentarem a trilha semeada de espinhos, no encalço dos almejados propósitos.

Ao contrário, a educadora em tela, direcionsava o seu trabalho na razão de ordem temporal, qual pássaro madrugador, antecedendo o clarão da aurora, antes do repicar do sino do campanário.

Era uma mulher de ação dotada de espírito operoso. Para ela, toda vitória alcançada era prelúdio de outra seguida vitória.

Eloquente a sua participação intelectual, do seu tempo, ao ponto de ser homenageada com a criação de uma Arcádia literária, intitulada Academia de Letras “Bertha Guilherme”, tributo raro nos anais culturais da nossa terra.

As elevadas concepções espirituais entoam a sinfonia do bem, da verdade e do belo, incluindo a riqueza imagística da idealização criadora.

Discipula de Platão, enxergava mais a realidade subjetiva, do que a exibida no sentido objetivo, explicitando, em linguagem filosófica, nas aulas magnas do saudoso Atheneu.

Pertencia a uma tradicional família natalense, amante dos bons costumes, seus membros atuaram em ocupação de relevo na esfera sócio-cultural. A irmã, Lourdes Guilherme, tinha formação superior em Música, tendo sido Regente de Orquestras. O irmão, Joaquim, exerceu com competência a função de cirurgião dentista e era admirável causer. O genitor, Theodorico, líder católico, dirigiu, por largo espaço de tempo, “A Irmandade do Bom Senhor dos Passos” e fora, também, adepto da Maçonaria, exercendo posição marcante, tendo, com o passar do tempo, silenciosamente se afastado, em definitivo.

Bertha Guilherme muito ainda teria realizado, não fosse a ação nefasta de uma doença insidiosa, responsável pela antecipação de anos de sua proveitosa existência no início de sua maturidade.

O prematuro falecimento consternou, não somente o círculo do seu relacionamento, mas, também, a sociedade em geral, que a tinha em alta conta e conselheira das grandes causas sociais






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