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06/12/2014

A Ribeira de que me lembro bem

Elísio Augusto de Medeiros e Silva (in memoriam) 

Um dia desses, um cidadão me abordou na rua e perguntou: Você gosta muito da Ribeira?
– É claro que gosto, respondi surpreso.
– Eu sempre vejo suas matérias em “O Jornal de Hoje”... E ainda tem muito assunto para falar do bairro?
– Claro... Nem comecei ainda! Pesquisar fatos e datas da Ribeira, não importa quão longínquas ou mesmo próximas se apresentem as notícias, tem sido o objetivo principal dos meus artigos, disse ao cidadão. Não podemos permitir o esquecimento do passado histórico da Ribeira, pois seria uma espécie de expropriação coletiva do bairro, imposta aos antigos, acrescentei.
Desde a década de 1960, ainda menino de calças curtas, tive a sorte de conviver com a Ribeira. E comecei novamente a mesma história... Minha mãe iniciou sua vida pública como funcionária da Saúde dos Portos, onde tive a oportunidade de conhecer Dr. Feijó, José Leite, Olenine, Dr. Pelúsio. A Repartição funcionava na Rua Chile e tinha o seu quintal banhado pelo Rio Potengi, onde sempre estava ancorada uma lancha, que servia para as inspeções dos médicos sanitaristas, a bordo dos navios ancorados no Porto, vindos normalmente do Exterior. Foi nela que dei o meu primeiro passeio de lancha, no Potengi.
Recordo do Dr. Feijó chegando à Repartição com o motorista, em um Simca Presidente preto, sempre reluzente. Isso deve ter sido em 1965.
Lembro-me do médico, então recém-formado, Dr. Tarcísio, com o seu “Prefect 51”, um pequeno carro inglês.
Anos depois, a minha mãe foi trabalhar na Delegacia Fiscal, no imponente prédio da Esplanada Silva Jardim, cujo delegado na época era Abelardo Bezerra de Melo.
No outro lado da rua, estava localizada a Subsistência do Exército, quase um supermercado, na próspera Ribeira, que fervia de progresso. Ali fazíamos diversas compras.
O trem ainda circulava pela Rua Chile, trazendo mercadorias para o Porto, que à época tinha muito movimento.
Seu Epitácio, proprietário de importante empresa marítima, num jeep 1954, corria de uma a outra Repartição, fazendo os despachos marítimos necessários.
A Rua Chile, perto do Porto, cheirava aos couros de bode que secavam ao sol, aguardando o navio para embarque. Pertenciam à firma Martins Irmãos e destinavam-se à exportação.
Na Rua Frei Miguelinho, havia o escritório de Rui Paiva, pai de Hugo, sempre atarefado. Vizinho, Miguel Carrilho vendia farinha de trigo em grosso. Um pouco à frente, Mário Alcoforado com a sua niquelagem. Na Rua Chile, às vezes, os vagões de trem enchiam a rua. Só passavam as lambretas, muito em moda na época.
Em 1972, o Navio Hope compunha o quadro do Porto, realizando milhares de cirurgias na população.
Na Av. Duque de Caxias localizava-se o Banco do Povo, o Banco Real, e, na Av. Tavares de Lira, o Bandern e o Banco de Crédito Real de Minas Gerais. O Café Cova da Onça já não funcionava mais. Infelizmente, não o alcancei!
Na Av. Tavares de Lira ficava a Livraria e Papelaria Internacional do Sr. João Rodrigues, frente à Agência Pernambucana.
Ao lado, o Bar de Idalécio, frequentado por Dr. Roberto Freire, Leucio Medeiros, Oscar, Mozart Silva, Antônio Justino, Célio Capistrano e outros. Na época, o comércio de veículos usados era todo na Av. Tavares de Lira, onde ficava a Santos & Cia., revendedor Willys.
Um pouco à frente, o escritório da Usina Estivas, quase na beira do rio, no cais Tavares de Lira, onde o gerente Dr. Bandeira contabilizava o açúcar vendido.
Onde, atualmente, funciona a Ecocil funcionava a firma de Carlos Medeiros, sucedida por Leucio Augusto, ao lado da A. J. Medeiros.
Ali no bairro comprei a primeira carteira de cigarros americanos Phillip Morris a Chico Gororoba, um barbeiro que cortava cabelos na Rua Câmara Cascudo.
Lembro-me de alguns taxistas da praça da Av. Tavares de Lira, frente à Peixada Potengi: Chico Preto, Manuel e Adonias, com os seus Aero-Willys e Simca muito raros, à época.
Vocês lembram da Alfaiataria do Laércio, na Rua Dr. Barata, de J. L. Fonseca, do escritório da Algodoeira São Miguel, da loja de Habib Chalita, da loja de Severino Alves Bila, do cartório de Alínio Azevedo, de José das Canetas; do Carneirinho de Ouro, da Confeitaria Delícia, de Zé de Rubens alfaiate, das Tipografias Lira, Clima, Vitória e Santo Antônio, do Tabuleiro da Baiana, da Fábrica de Pré-moldados de Joaquim Victor de Hollanda, de Célio da Simca, da Livraria Ismael Pereira e da Importadora Omar Medeiros?




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