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25/08/2014


Av. Duque de Caxias, Ribeira (1941) - à direita da foto prédio onde atualemnte funciona o Procon Estadual
Ribeira – Década de 1940

Elísio Augusto de Medeiros e Silva


Empresário, escritor e membro da AEILIJ


Relembro em um lampejo da memória, e inicio um passeio solitário, através de minhas recordações ribeirinhas. Lembro de coisas daquela época.

As ruas da Ribeira ainda vestem uma alma e são capazes de sentir e transmitir as lembranças dos sentimentos antigos.

Ainda me lembro parcialmente como era na década de 1940. Com o advento da Segunda Guerra, Natal passou a ser um cenário urbano bem diferente. Contudo, os moradores ainda se conheciam e cumprimentavam-se. O comércio era vibrante e havia intensa movimentação de estrangeiros, em função da guerra. O progresso do bairro era visível! Lojas modernas, casarões luxuosos e prédios imponentes na Avenida Duque de Caxias.

A Avenida Tavares de Lira, ainda calçada por paralelepípedos, era entrecortada por várias ruas até chegar ao seu cais. Os bondes elétricos a cruzavam e seguiam em direção à Avenida Junqueira Aires.

A cidade passou a ser violentada pelos rumores diários das fortalezas voadoras e nas nossas ruas cruzavam milhares de soldados em transbordo para as batalhas no norte da África e na Europa.

A Praça Augusto Severo com a estação ferroviária repleta de pessoas, que chegavam ou aguardavam a saída dos trens a vapor. A presença de homens famosos como Joel McCrea, Tyrone Power, Fredric March, Humphrey Bogart e outros astros era comum.

Hoje, as ruas do bairro são pobres de aparência, não muito movimentadas, mas mantém a sua história própria.

Naquela época, o rio Potengi tinha as águas limpas, despoluídas, onde se podia mergulhar em segurança, tomar banho, nadar, pescar...

Ali, o sol estacionava o seu fogo e parecia conhecer todos os frequentadores e moradores do bairro pelo nome.

Os bate-papos rápidos nas portas dos cafés, a conversa prolongada nos bares, e o trafegar incessante dos vendedores ambulantes de rua. Não existem mais.

A presença americana mudara os hábitos locais, os homens passaram a usar “slack” e, aos poucos, abandonaram a gravata e o paletó.

A brisa do Potengi refrescava a varanda do Grande Hotel nos dias de intenso calor. Como todos sabem, a Ribeira é o bairro mais quente de nossa capital.

À tardinha, o badalar dos sinos da Igreja do Bom Jesus chamava os fiéis à Praça José da Penha. A igreja, símbolo do bairro, elegante, esbelta, por muito tempo foi a mais procurada da capital para a realização de casamentos, batizados e primeiras comunhões.

À noite, depois do belíssimo pôr do sol, a lua surgia com seu brilho prateado, invadindo as ruas, becos e avenidas, para se banhar nas águas do Potengi.

Nas janelas das casas de família, as moças suspiravam à espera dos seus namorados, sob olhares vigilantes dos pais.

Na saída do Teatro Carlos Gomes, a lua observava a partida dos espectadores, parecendo aguardar os comentários do espetáculo teatral.

Depois das nove da noite, as famílias recolhiam as cadeiras das calçadas. As ruas desocupavam e todos procuravam o aconchego de suas casas.

Pelas ruas ficavam apenas os bêbados e notívagos, que se deliciavam com as cervejas geladas nos bares que permaneciam abertos.

Nos bares da Ribeira ouvia-se as músicas cantadas por Bing Crosby, Frank Sinatra, Louis Armstrong (...) que logo foram aceitas pela população local.

As noitadas de luxúria dos cabarés da Quinze de Novembro estavam apenas iniciando.

Pela madrugada, as ruas desertas do bairro ribeirinho começavam novamente a se povoar – eram os costumeiros vendedores matinais (leiteiros, padeiros, cuscuzeiros...) que começavam seu trabalho diário.

O bairro é protagonista de dezenas, centenas, milhares de histórias – algumas interessantes, outras nem tanto. Mas, com certeza, ali ainda se assiste diariamente um esplendoroso pôr do sol. Vale a pena conferir!

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