Crônica/artigo publicada ontem na Tribuna do Norte (de Natal/RN):
Minhas livrarias em Paris (I)
Não faz muito tempo, em três crônicas (“Minhas livrarias em Londres I,
II e III”), escrevi sobre as livrarias da capital do Reino Unido.
Chegou a vez de “passearmos”, dando continuidade ao que eu chamei
naquela ocasião de “turismo literário”, pelas livrarias da capital da
França, a agradabilíssima Paris, onde morei/estudei faz alguns anos.
Novamente lá estive, em rápida passagem de estudos, em abril deste ano,
com papel e caneta sempre à mão, tudo anotando, já imaginando escrever
este riscado.
Paris está repleta de livrarias. Bem mais do que
Londres, pelo menos no que toca a pequenos estabelecimentos. Constatei
isso já no entardecer do primeiro dia dessa última estada, ao subirmos,
cansados mas felizes, a rua Monsieur le Prince, em direção ao pequenino
Hotel Saint-Paul Rive-Gauche, no bairro de Saint-Germain-des-Prés.
Em razão disso, para dar um “norte” à coisa, vou restringir nosso
“passeio”, basicamente, a duas regiões na margem esquerda do rio Sena (a
“rive gauche”), o Quartier Latin e o referido bairro de
Saint-Germain-des-Prés, as áreas da cidade a mim mais familiares, eu já
confesso. Assim como em Londres, deixo outras regiões de Paris de lado
repetindo a lição de Ludwig Wittgenstein (1889-1951): “sobre o que não
se pode falar, melhor calar”. E levando em conta as minhas preferências,
misturando livrarias com o turismo mais geral (porque “turistar” apenas
em livrarias “ninguém merece”), faremos esse “tour” em duas ou três
crônicas, não cansando muito o leitor, eu espero.
Comecemos
pela região de Saint-Germain-des-Prés. Por ali, tenho duas livrarias (e
dois programinhas de turista, porque ninguém é de ferro) a sugerir.
Uma delas é a Livraria La Procure (na verdade, uma das lojas dessa
cadeia), que fica no número 3 da Rue Mézières (se for de metrô,
recomendo descer na estação Saint-Sulpice). Ela é especializada em
religião (especialmente no cristianismo), filosofia, política, história e
nas ciências humanas e sociais como um todo. Mas possui também um bom
acervo de livros de arte, guias de viagens e de ficção em geral. Em
termos de volume e qualidade de acervo, é a melhor pedida em
Saint-Germain-des-Prés. De quebra, na imediações da livraria, você pode
fazer duas visitas maravilhosas. Primeiramente, à Église Saint-Sulpice,
que fica a dois passos da La Procure. Da calçada da livraria dá para ver
a imponente fachada dessa igreja que é muito referida na literatura,
como, por exemplo, recentemente, no balado “The Da Vinci Code” (2003),
de Dan Brown (1964-). Sugiro, também, dar um pulo nos Jardins de
Luxemburgo, que, com seu Palácio e suas fontes, ficam umas duas quadras
mais para o sul. E ali, talvez, tomar um chocolate ou um café lendo um
“Livre de Poche” comprado na La Procure.
No mais, sinceramente,
se você está interessado em livros, desaconselho ir à gigantesca FENAC
da Rue de Rennes, que fica não muito longe da La Procure. Se outrora
essa FENAC possuía um enorme acervo livros (era assim em 2006, quando
estudei, bem pertinho de dali, na Alliance Française Paris), isso foi
substituído, certamente por motivos comerciais, por uma profusão de
coisitas de som, imagem e informática em geral. Se você gosta de
megalivrarias, tem coisa muito melhor, como veremos, lá para as bandas
do Quartier Latin. Pode crer em mim.
Já se você gosta de
livrarias pequeninas, tenho um ótima dica em Saint-Germain-des-Prés:
L’Ecume des Pages, que fica no número 174 boulevard Saint-Germain (metrô
Saint-Germain-des-Prés). Ela é pequenina, basicamente um só ambiente,
com um acervo diversificado (literatura em prosa e poesia, tanto
francesa como estrangeira, crítica literária, filosofia, história,
livros sobre arte e cinema e por aí vai), mas selecionadíssimo.
Entretanto, o melhor da L’Ecume des Pages, devo dizer, é a sua
vizinhança. Ele está colada ao Cafe de Flore (número 172 do Boulevard
Saint-Germain), a dois passos do Cafe Les Deux Magots (que fica número 6
da Place de Saint-Germain-des-Prés) e defronte à Brasserie Lipp (número
151 do Boulevard Saint-Germain). Reza a lenda que por ali passaram - e
sentaram, para um café ou para um porre - os surrealistas Andre Breton
(1896-1966) e Raymond Queneau (1903-1976), Jean-Paul Sartre (1905-1980) e
Simone de Beauvoir (1908-1986), James Joyce (1882-1941), Ernest
Hemingway (1899-1961), Jean Genet (1910-1986), Albert Camus (1913-1960) e
um sem número mais de outros intelectuais.
Com ou sem um livro
na mão, pare por ali, escolha um dos três estabelecimentos e sente.
Peça um café e veja a rua passar. Fizemos isso em uma manhã de
primavera. Eu mais que recomendo: eu exijo, eu imploro.
E após
esse café, sugiro uma curta caminhada em direção ao Quartier Latin,
percorrendo o Boulevard Saint-Germain. É isso que faremos, em busca de
mais livrarias, na semana que vem.
Marcelo Alves Dias de Souza
Procurador Regional da República
Doutor em Direito pelo King’s College London – KCL
Mestre em Direito pela PUC/SP
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