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05/07/2014

CONVERSA




O fim do papo “olho a olho”

Elísio Augusto de Medeiros e Silva

Empresário, escritor e membro da AEILIJ
elisio@mercomix.com.br


A arte da conversação, considerado por muitos uma invenção francesa, anda em baixa nos restaurantes e barzinhos.
No início desse ano foram contabilizados, pelas operadoras de telefonia, mais de 200 milhões de aparelhos celulares habilitados. O Brasil é o quarto País do Mundo a oferecer lucros às empresas de telefonia móvel.
No passado, nos lugares públicos, as conversas rolavam soltas, demoradas, com assuntos sérios e graves, ou superficiais, divertidos e hilários.
Nos últimos tempos, esse convívio caloroso entre as pessoas baseado no jogo de palavras e frases parece estar em declínio. Hoje em todos os locais existem pessoas atentas ao celular.
O primeiro culpado é o telefone celular e seus aliados, tablets, smartphones, que têm suas presenças certas nas mesas das casas de pasto, ao lado dos pratos e talheres. São conversas discretas, em tom baixo, que os demais não compartilham.
Alguns não largam seus aparelhos nem na hora de comer. Não sei como conseguem conciliar as duas coisas ao mesmo tempo.
Vivemos uma completa mudança de hábitos. As pessoas se transformaram numa espécie de confidentes desses aparelhos eletrônicos, secretários de suas tecnologias – com eles a postos nas mãos ou nos ouvidos em conversas demoradas, das quais as outras pessoas não participam.
Quando não estão falando, estão lendo ou respondendo textos, alheios a tudo que acontece ao seu redor. Por celulares as pessoas se comunicam sem se falarem pessoalmente. Muitos se orgulham de possuir mais de mil amigos nas redes sociais.
Às vezes, temos a impressão de que essas pessoas superatarefadas desejariam estar em outro lugar que não fosse em nossa companhia.
Sentimo-nos intrusos pelos olhares que nos dão. Muitos não conseguem se desconectar do aparelho. As pessoas mal se falam e quase não se escutam, ultra-atarefadas no manuseio de seus aparelhos de comunicação. As solidões são amenizadas sem ser necessário o contato visual.
O segundo culpado pelo esvaziamento das mesas dos restaurantes é a proibição de não poder fumar em lugares públicos – essa “sadia” proibição esvazia as mesas de forma intensa e constante.
Os fumantes procuram o refúgio dos chamados “fumódromos” de instante em instante. Vocês nem imaginam quantas amizades iniciam nesses lugares abertos e arejados.
E, nesse entra e sai constante dos “fumantes”, vemos que as mesas reduzem bastante o número de ocupantes – às vezes, uma ou duas pessoas que ficam sozinhas, de olhares vagos e sem ter com quem conversar. É a decadência da conversação. Aí, não tem outra saída mesmo a não ser usar o celular. Interagir é a palavra da vez!

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