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15/05/2014

JN




CELESTINO PIMENTEL


Jurandyr Navarro

Relembro o Atheneu Norte Rio-grandense dos anos 40, no seu antigo prédio da avenida Junqueira Aires, da subida da Ribeira. Evoco emocionado esse tempo da minha mocidade.
Educandário criado em 1834, o primeiro ou segundo do Brasil, por lá passou um sucessão de gerações. Mestres-escolas, docentes outros, funcionários e estudantes deram vida àquela escola de humanidades.
De época em época, pontificavam em suas salas de aulas artífices da sabedoria magisterial, dentre esse corpo docente houve, também, nomes que se destacaram na direção do seu destino.
Um deles foi Celestino Pimentel, professor dos mais ilustres e ilustrados.
Autores aludem que os primórdios da escola pública são consignados desde a batalha de Maratona, Grécia, quando a cidade de Trezena hospedou velhos e crianças, sob a ameaça dos Persas, ocasião em que os Trezenenses alimentaram e pagaram os salários dos mestres educadores, fato narrado por Plutarco, no livro “Vida de Temístocles”. Séculos depois, Políbio, historiador, censura Roma por ainda negar a instrução às crianças, uma medida já antiga utilizada pelos gregos. Tal iniciativa helena é gravada em inscrições referentes à estatização da escola. Havia legislação atinente à educação das crianças, por parte do poder público. Em Roma o educador inicial era o chamado pater familae.
Relatos históricos da época assinalam ter sido Espúrio Carvílio o pioneiro em abrir uma escola em Roma.
Dessas raízes, alteou-se a frondosa árvore da Escola Pública até os nossos dias.   O Atheneu, no Rio Grande do Norte, do Brasil, recebeu essa herança bendita, abençoada através dos séculos, em abnegação e trabalho.
O velho educandário hospedou durante anos um verdadeiro símbolo principalmente nos anos 30/40 que se chamou Celestino Pimentel, cujo nome incorporou-se à sua existência.
 Vocacionado para a instrução pública, o conhecido educador lecionava o idioma inglês. Na sala de aula pontificada a sua pedagogia conservadora, tipo lorde britânico, ensinando uma língua enviesada para a época, suscitando a curiosidade geral dos alunos. Nesse tempo, um dos nossos colegas, chegando em casa foi indagado pelo pai, se o inglês era difícil, respondeu: “muito difícil, papai. Basta dizer ao senhor que as palavras dessa língua tem três significados. Por exemplo: o professor disse uma palavra que se escreve five, pronuncia-se  faive e quer dizer cinco!”
Todavia, tais dificuldades de começo eram resolvidas pela didática compreensiva do mestre experimentado neste mister.
Celestino Pimentel, pela sua capacidade, credenciou-se a ocupar um cargo importante,  conferido pelo poder público: - o de tradutor oficial da língua inglesa do Estado. E nessa investidura, de grave responsabilidade, permaneceu por longos anos.
Era ele conceituado docente, porém, denotava um perfil bem característico diverso do usual da sala de aula. Vocacionado se apresentava mais pra dirigir do que para lecionar, embora se apresentasse um professor dos melhores.
O lugar de Diretor de estabelecimento escolar preenchia os requisitos de sua personalidade, cuja empatia era portadora de liderança. Tinha ele mais qualidades para o pragmatismo das ações. O desempenho irrepreensível no posto de comando, a política educativa junto ao alunado e a sintonia bem correspondida ao lado dos colegas professores, constituía-se no trinômio plausível a uma salutar administração.
Reunindo esses requisitos positivos, o seu nome foi, progressivamente, aclamado, durante anos, para a direção do velho Atheneu. E sob o seu criterioso comando o vetusto educandário, famoso se tornou na historia da instrução pública do Rio Grande do Norte.
Lembro-me de alguns componentes da sua diretoria, os executores dos chamado serviços burocráticos, que era composto por figuras importantes da nossa sociedade de então. Todos eles, competentes e cumpridores dos seus deveres funcionais.
Chamavam-se Emídio Fagundes, maçom ilustre da época; Sérgio Santiago, secretário e escritor de livros sobre o Espiritismo e outros assuntos; Elesbão de Macedo, inspetor de alunos, vocacionado para a Política, tendo, depois, sido eleito Vereador.
O professor Celestino marcou época na direção do Atheneu. O biótipo lembrava o estrangeiro anglo-saxônico, de tez corada, alvo, aquilino, dolicocéfalo e de gestos nobres.
 Recordo que ele se apresentava um docente e dirigente incansável. Dava expediente diário, o dia todo, no velho educandário. Nas horas vagas gostava de fumar charuto, de cheiro suave. De costume, portava terno azul, de paletó e gravada e era temível nas provas orais do final do ano, provas complementares dos exames escritos parciais.
Recordo-me que em períodos de férias regulamentares convidava professores para dar Cursos de Férias. Num desses cursos a cargo do professor Antônio Fagundes, houve uma palestra do padre Luiz Monte, Professor de Latim e Matemática, que discorreu sobre o tema, “Formação Moral e Cívica da Mocidade”, realizado se me não engano, na Associação dos Professores, prédio localizado na avenida Rio Banco, desta Capital. De outra feita, a palestra ficou sob responsabilidade do professor Clementino Câmara, intitulada “Caldeamento de Raças; o mestiço, o mulato e o cafuzo, depois do descobrimento do Brasil”.
Noutra data, o palestrante foi o professor Israel Nazareno, que teceu comentários sobre “o Idioma Nacional e a nova ortografia”.
Era assim Celestino Pimentel, trabalhando sem alarde, mas, sempre atuante e delegando tarefas educacionais a outros colegas de magistério, contanto que o aluno não ficasse esquecido.
Raramente era visto sentado no seu birô da sala da Diretoria. A sua constante era o atendimento com o professor, o funcionário e o aluno.
Homem de simplicidade a toda prova, no seio da família, na Diretoria, na sala de aula, e na sociedade. O recato também era outro atributo da sua personalidade marcante.
Nesse tempo, recordo alguns professores, quando Celestino Pimentel era diretor: Albertina Guilherme (Filosofia); Clementino Câmara (Historia do Brasil); Padre Luiz Monte (Latim, e Matemática); Hostílio Dantas (Desenho); Alvamar Furtado (Geografia); Israel Nazareno (Português); Cônego Luiz Wanderley (Latim); José Gurgel (Física); Álvaro Navarro (Ciências Físicas e Naturais); Sebastião Monte (Zoologia); Celestino Pimentel e Protásio Melo (Inglês); Esmeraldo Siqueira (Francês); Paulo Gomes (Espanhol); Pedro Segundo (Química); Múcio Ribeiro Dantas (Matemática); Antônio Fagundes (Português); Monsenhor Alves Landim (Latim); Luiz Maranhão Filho (Geografia), Albimar Borges e Josino Macedo (Matemática); Maria das Neves (Geografia ) e outros. Mavignieur  Noronha (Inspetor Federal).
O diretor do Atheneu  Feminino era o Monsenhor João da Matha Paiva, ex-Deputado Estadual, e ex-Vice-Govenador do Estado, Presidente da Assembléia Legislativa Estadual.
A figura eloqüente do professor Celestino Pimentel deverá ser mais cultuada pela geração presente. O seu nome não deve ser esquecido na memória da educação pública do Rio Grande do Norte.



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