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22/04/2014

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Alecrim: Algumas considerações

Luciano Capistrano – luciano.capistrano@natal.rn.gov.br

Historiador/SEMURB


            O Alecrim foi oficializado bairro, em 1911, através da resolução nº 151, assinada pelo Presidente da Intendência (antiga denominação da Prefeitura), Joaquim Manoel Teixeira de Moura. Nascia assim o quarto bairro de Natal: Desmembrado da Cidade alta, tendo por limite ao norte uma linha que, partindo da ponta de Areia Preta, se dirige, pela rua Ceará-Mirim e Baldo, ao rio Potengi; a leste, o oceano até encontrar a avenida sul, que demora no extremo do terreno patrimonial do munícipio; ao sul, a mesma avenida limite do patrimônio municipal até o rio Potengi, até encontrar o ribeiro que banha o sítio denominado de Oitizeiro.

            O lugar onde foi delimitado o bairro do Alecrim tem uma história de ocupação que remonta 23 de outubro de 1911. Dois equipamentos urbanos instalados o Cemitério do Alecrim ( 1856) e o Lazareto da Piedade (1882), foram as primeiras ações do poder público nessa região, uma demonstração que o bairro já nascia com a estigma de abrigar aquilo que a cidade queria longe de seus limites urbanos.

            Durante a formação urbana de Natal, o bairro exerceu, e, ainda exerce uma importância econômica significativa para a cidade. Caros

leitores, Natal era uma cidade sitiada, uma cidade de difícil acesso, muitas eram as barreiras naturais. O oceano, o rio e dunas, eram obstáculos a serem vencidos por aqueles que habitavam e visitavam a capital potiguar do passado. Existem relatos, do inicio do século XX, sobre a dificuldade de acompanhar um cortejo fúnebre, pois, não era fácil sair da Ribeira e acompanhar o finado até o alto do Baldo, enfrentar um verdadeiro areal e chegar ao Cemitério do Alecrim, muitas das famílias abastardas da cidade faziam o translado do corpo de trem até o Oitizeiro, hoje nas mediações da Cosern.

            Bem a cidade cresceu, e o bairro, antes, uma área suburbana, formada por granjas, começou a se desenvolver, fruto inclusive de umas das características mais presentes: o comercio.  O professor Itamar de Souza, diz que um dos nomes do Alecrim, Cais do Sertão, advém por ter servido de pouso dos viajantes oriundo do interior e de outros estados que procuravam a Capital Potiguar, para vender ou resolver assuntos relacionados a administração estadual. Bem o fato é que uma rede de pequenas pousadas surgiu dessas necessidades.

            A feira do Alecrim, lugar de sociabilidade tradicional de Natal, logo se transformou num grande centro econômico. Em um domingo de 1920, João Estevam e alguns amigos, organizaram a venda de suas mercadorias na avenida 1, avenida Presidente Quaresma. Na década de 1940, durante a administração do prefeito Gentil Ferreira, a feira passou para o sábado. Assim, desde então, sábado é dia de feira.

            Durante o período da Segunda Guerra Mundial, o Alecrim, como toda a cidade, sofreu um grande impacto populacional, militares e civis, chegados à cidade em decorrência do chamado esforço de guerra, com a instalação em solo potiguar da Base Aérea de Natal, hoje de Parnamirim. Natal Trampolim da Vitória testemunhou, também, a construção da Base Naval de Natal, no Bairro do Alecrim, fato este, que serviu de um novo impulso para a urbanização do lugar. Com a instalação da Base e da Vila Naval, o contingente populacional fez do Alecrim o bairro mais populoso de Natal. Ficando, apenas na memória, o antigo bairro descrito por Câmara Cascudo em sua História da Cidade do Natal: Raríssimas pessoas habitavam o descampado. Era terra de roçados de mandioca e de milho, zona de caçada para os morros. Umas quatro casinhas de taipa, cobertas de palha, sem reboco, denominadas de capuabas, estavam dispersas num âmbito de légua quadrada ( CASCUDO, p. 441, 2010).

            Umas das singularidades do Alecrim é a numeração de ruas e avenidas,  avenida a1, avenida 2 e assim por diante. Em 1929, o prefeito Omar O’Grady solicitou ao IHGRN nomes de Presidentes da Província e de tribos indígenas, deste modo as avenidas 1 ( Pte Basílio Quaresma Torreão ); avenida 2 ( PTE João Capistrano Bandeira de Melo); avenida 3 ( José Bento da Cunha Figueiredo Júnior); avenida 4 ( Cassimiro José de Morais Sarmento ); avenida 5 Presidente Pedro Leão Veloso ) governadores do período imperial e avenida 6 ( Rua dos Canindés ); avenida 7 ( Rua dos Caicós ); avenida 8 ( Rua dos Pajeús ) avenida 10 ( Rua dos Paianazes ); e avenida 12 (rua dos Paiatis) tribos indígenas.  Muitos creditaram à presença americana a numeração das avenidas, o Historiador Itamar de Souza, em sua Nova História de Natal, apresenta uma série de publicações da Intendência Municipal, datadas de 1908, 19010, por tanto antes de 1911, fazendo referências a logradores localizados no Alecrim com numeração, esta documentação confirma assim a não influência norte-americana na nomeação das avenidas.

            Um bairro de muitas histórias, pioneiro no cinema falado em nossa cidade, do teatrinho do povo ( Teatro Sandoval Wanderley ), do Teatro Jesiel Figueiredo, do Cinema São Luís e outros lugares da sétima arte.

            Caro leitor, deixo aqui um convite a todas e todos, andemos pelas ruas do velho e bom Alecrim, cantemos como o poeta Babal:

 
“Os guaranis festejando a paz

O guerreiro Bumbum

Éramos todos devotos, meninos fiéis

Quando não era possível ter sonho

A gente tinha um

E ele girava em torno da Avenida Dez”.


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Alecrim tem Circuito Histórico, sim senhor!

Luciano Capistrano - luciano.capistrano@natal.rn.gov.br

Historiador/Comissão Municipal da Verdade Luiz Maranhão Filho

 

            “Alecrim, com suas avenidas retangulares, sua extensão em claridade, sua possibilidades de desdobração,  aparece como um milagre de previsão dos velhos e acusados administradores antigos. O crime, cruel e tenebroso crime da displicência administrativa, é sujar todo esse cenário luminoso entregando a terra da gente morar a quem quer apenas vender”. (Luís da Câmara Cascudo)

            Caro leitor (a) na década de 1940, Câmara Cascudo, alertava a sociedade natalense, em sua História da Cidade do Natal, sobre os perigos da especulação imobiliária. Já naquele tempo, a força do capital utilizava, conforme Cascudo, terras de morada para especular, para vender. Defendia o mestre da cultura popular, o sentido social da terra.

            Bem, fato é que o Alecrim se desenvolveu, cresceu e deixou de ser uma terra de sítios e casebres. Hoje faz parte dos 100 maiores bairros do Brasil em arrecadação de tributos. Este é um dado importante, um dado relevante, quando pensamos na geração de emprego e renda, resultado da pujança de uma economia viva, de um bairro centenário. Alecrim, onde tudo se acha, é o nosso campeão em repasse para os cofres públicos de ISS e ICMS.
            Permita-me dizer, caro leitor, o Alecrim é a nossa galinha dos ovos de ouro.       Há muito tempo, merecedor de uma atenção especial por parte de nossos gestores. Ordenamento do comercio de rua, mobilidade, segurança, iluminação, placas informativas, são alguns dos itens que devem fazer parte da agenda de qualquer gestor, preocupado com o desenvolvimento de nossa cidade. O crescimento de Natal, passa pelo Alecrim.

            Cenário de intensa atividade econômica, andar por suas ruas é caminhar por um fervilhar de camelôs, vendedores, clientes, lojistas, enfim, uma profusão de pessoas vendendo ou comprando. Fazendo jus ao lema Alecrim, bairro completo.

            Lojistas e camelôs, numa relação, às vezes opostas, com um objetivo comum: fazer do Alecrim, cada vez mais, o lugar de seu “ganha pão”.

            Em tempos de Copa do Mundo, quando a palavra de ordem é “legado”, faço um convite em forma de provocação, vamos andar pela história do Alecrim. Sim, o bairro do Alecrim tem História. Uma história que se confunde com a história da cidade de Natal. Neste sentido, façamos, então, um Circuito Histórico do Alecrim, atenção agencias de turismo, professores, gestores culturais, empreendedores, este é o momento de apresentarmos o antigo Cais do Sertão, como mais uma atração do turismo histórico/cultural, este pode ser o legado da copa para o bairro. Façamos o Circuito Histórico do Alecrim.

            Iniciemos pela Praça D. Pedro II, onde encontra-se, o busto do Imperador, obra do escultor Francisco de Andrade; a igreja São Pedro, construção católica datada de 1919; o Cemitério do Alecrim lugar de repouso, lugar de muita história sobre o ser potiguar, construção de 1856; Escola Estadual Padre Miguelinho, local da sede do primeiro grupo de escoteiro de nossa cidade, guarda um memorial do escotismo Norteriograndense; o Centro de Saúde, lugar do antigo Lazareto da Piedade; Base Naval de Natal, unidade militar, testemunha do período em que Natal transformou-se em Trampolim da Vitória; Templo Central da Assembleia de Deus, erguido no mesmo local, que no ano de 1937, era construído a primeira Assembleia de Deus no Alecrim; Praça Gentil Ferreira, lugar de memória da cidade, palco das grandes manifestações políticas e culturais ocorridas no “palco’ palco do antigo Quitandinha; o Relógio do Alecrim, presente dos Rotaryanos, instalado próximo a Praça, desde 1965 testemunha do tempo, lugar de referencia a quem vai ao Alecrim.

            Alecrim e suas ruas com nomes de tribos indígenas, homenagem aos antigos habitantes de nossas terras potiguares, ruas que teimam, apesar dos tempos, a serem chamadas por números, avenida 1, avenida 2, avenida 3, ... Alecrim dos sábados e sua feira, lugar de sociabilidade, lugar de ouvir, sentir e degustar os sabores da terra.

            Alecrim tem Circuito Histórico, sim senhor!

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