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20/12/2013


A Coluna Preste no Rio Grande do Norte - II

Tomislav R. FemenickMembro da diretoria do Instituto Histórico e Geográfico do RN

Os anos de 1920 formaram a década em que alguns oficiais de baixa patente promoveram uma seria de revoltas contra o governo federal e as oligarquias que governavam os Estados. As mais conhecidas deles foi a Revolta do Forte de Copacabana, no Rio de Janeiro, e a Coluna Prestes, formada por militares rebeldes principalmente de São Paulo e do Rio Grande do Sul e liderada por Luís Carlos Prestes, Juarez Távora e Miguel Costa. A Coluna percorreu cerca de vinte e cinco mil quilômetros pelo interior do país, fazendo uma “guerra de movimentos” e enfrentando as forças do governo.

Em suas andanças a Coluna Prestes passou pelo Rio Grande do Norte e atacou duas cidades do Alto Oeste potiguar: São Miguel e Luiz Gomes. Todavia, as notícias que antecederam os ataques inquietaram a população de vários outros municípios do Estado. Os escritores Raimundo Nonato (1966) e Itamar de Souza (1989) retrataram esse cenário de medo e as lutas propriamente ditas.

Mossoró, pela sua importância econômica e estratégica, foi um palco de agitação quando os revoltosos que estavam nas imediações da cidade de Jaguaribe, no Ceará, se preparavam para adentrar em nosso Estado. Diz Raimundo Nonato: Mossoró era “um porto aberto ao intercambio de vasta área do comercio nordestino, no negócio de algodão, sal, sementes de oiticica, cera de carnaúba, gesso [e com] agência do Banco do Brasil, não sendo despropositada a precisão de assalto, depois de longas travessias e combates, a um porto que oferecia vantagens múltiplas, inclusive o reaprovisionamento de tropa”.

Essa ameaça de ataque iminente espalhou o medo na população que procurou fugir da cidade. Um grande contingente de pessoas foi se refugiar em Areia Branca. A companhia Estrada de Ferro Mossoró-Porto Franco colocou diversos trens extras, porém não conseguiu atender a demanda e mais de 150 pessoas não tiveram como embarcar. Quem não conseguiu lugar nos trens, fugiu para qualquer lugar da vizinhança.

Na cidade se preparava a resistência. O deputado Juvenal Lamartine, o chefe da polícia (Dr. Silvino Bezerra), o comandante da polícia militar (Cel. Joaquim Anselmo), o intendente municipal (Cel. Rodolfo Fernandes, que um ano depois comandou a defesa da cidade contra o ataque de Lampião), o presidente da Associação Comercial (Cel. Cunha da Mota), o vice-presidente da intendência (Dr. Hemetério Fernandes) e muitos outros organizaram o esquema de defesa. Algumas das decisões tomadas foram: a distribuição de armas e munições fornecidas pelo Exercito Nacional, a formação de trincheiras em torno da cidade e na zona urbana e a vigilância da fronteira com o Ceará.

O Padre Mota, o novo vigário da Igreja de Santa Luzia, atuava em várias frentes. Ao mesmo tempo em que cedia o prédio do Ginásio Santa Luzia (onde hoje é a agencia central do Banco do Brasil) para servir de sede do “quartel general” da defesa da cidade, promovia reuniões entre os representantes do governo com as lideranças civis e procurava acalmar as famílias e evitar as fugas precipitadas, com seus sermões nas missas e, inclusive, com a publicação de um Boletim.   

Os revoltosos não chegaram a Mossoró, como não chegaram a Areia Branca e Natal, aonde as notícias e boatos de ataques da Coluna Prestes também chegaram, com maior ou menos alarme que causaram na “capital do oeste”.

Nos próximos artigos abordaremos o clima nessas cidades e os ataques que integrantes da Coluna Prestes realizaram em São Miguel e Luiz Gomes.

O Jornal de Hoje. Natal, 17 dez. 2013.

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