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24/11/2013

VERDADES CRUZADAS -I
Carlos Roberto de Miranda Gomes, advogado e escritor. Membro do IHGRN
   O acaso trouxe-me um encargo no outono da vida – presidir a Comissão da Verdade da UFRN. Por isso, tive de voltar no tempo e no espaço para refazer a memória adormecida nos bancos da velha Faculdade de Direito da Ribeira – época difícil para a história da Democracia, pois iniciei em fevereiro de 1964, véspera do golpe e concluí em 1968, véspera do AI-5.
Lembrei que na mesma época e no mesmo palco alguns jovens sonhavam com um Brasil melhor, no campo e nas cidades e para isso se entregaram, sem medo, à luta contra a ditadura. Eu, por questões de sobrevivência de um prematuro casamento, com o peso da paternidade e a necessidade de garantir a subsistência, não engrossei o contingente dos lutadores, embora torcesse pelo sucesso daqueles idealistas e ter acompanhado seus movimentos grevistas, por solidariedade.
Hoje pago o preço do meu silêncio, por compreender com integral lucidez, a diferença da insônia com liberdade e a castração do sono no confinamento. Embora sem fazer juízo definitivo do valor das ações desenvolvidas, faço apenas a apologia da importância incondicional da liberdade, segundo Kant - o maior bem da vida! 
          O imperativo categórico da nova missão me colocou na cela com aqueles "menino(a)s" que entrevistei, a exemplo de: Geniberto Campos, Arruda Fialho, Josemá Azevedo, Anchieta Jácome, Gileno, Paulo Frassinetti, Iaperi, Rinaldo Barros, Juliano, Ivis, Ivaldo Cetano, Lailson de Almeida, Hermano Machado, Mery, Marcos Guerra, José Bezerra Marinho, Justina Iva... ao lado de outros que não entrevistei - Ginani, Hélio Xavier, Maria Laly, Danilo Bessa, Berenice, Tereza Braga, Djalva Confessor ... e então pude sentir o que significa a insônia sem liberdade, sem opções imediatas, mentalizando o momento da soltura, do reencontro familiar, do retomar o caminho natural da vida. Foram amadurecidos com "carboreto", tirando do fruto o sabor de um amadurecimento natural, livre de pressão externa.
   Começo hoje uma série de artigos, aproveitando a expressão de uma estudante bolsista da CV (Patrícia) para o trabalho – VERDADES CRUZADAS, pois a história oficial nem sempre é a história definitiva, dadas às circunstâncias de tempo e espaço.
 
Artigo I - Fica decretado que agora vale a verdade, agora vale a vida e de mãos dadas marcharemos todos pela vida verdadeira;
Thiago de Mello: Estatuto do homem 
Após uma vivência sob o jugo Português, o espírito de brasilidade foi cultivado nas academias europeias e chega ao Brasil com o histórico “Grito do Ipiranga” no dia 07 de setembro de 1822 através de D.Pedro I, Príncipe Regente, ganhando a adesão da juventude e da comunidade pensante de então.
Composto o Império brasileiro, sequenciado com o governo de Pedro II, assim caminhou até a sua deposição em 15 de novembro de 1889, com o golpe militar de Deodoro, que nos fez ingressar inseguramente nos braços da República, sempre permeada por intervenções militares – revolucionárias as de 1888-1889; reformistas em razão do inconformismo patente nos movimentos tenentistas de 1922, governo de Artur Bernardes, que durou até 1926, em sua maior parte, sob estado de sítio, 1924[1] e 1930, este ano inaugurando um governo herdeiro da crise econômica do ano anterior, fazendo emergir a contestação da revolução social tendo como ponta de lança os partidos comunistas, organizados sob disciplina militar e se espelhando no modelo da União Soviética.
Diametralmente em contrário surgem os movimentos fascistas na Itália com Mussolini e o nazismo na Alemanha com Adolf Hitller, facções que abraçam um aspecto de nacionalismo e de racismo que, no Brasil, se abrigaram no movimento integralista de Plínio Salgado.
A repressão policial, o clientelismo e a corrupção desembocam em revoltas à semelhança de 1922 e 1924 até o fato mais grave do assassinato do Vice-Presidente da República, o paraibano João Pessoa, ocorrido em 26 de julho, estopim para a implantação de um outro momento político, com a chamada Revolução de 1930 e a deposição do Presidente Washington Luiz em 24 de outubro e começo do novo regime em 31 do mesmo mês e ano, assumindo o Senhor Getúlio Vargas no dia 3 de novembro subsequente, ali se estabelecendo.


[1] Em 1924 teve início a Coluna Prestes, liderada por Luiz Carlos Prestes, percorrendo 13 estados e 25 mil quilômetros na busca de angariar adesão para as causas tenentistas, contando com o apoio de militares como Cordeiro de Farias e Juarez Távora e culminando com a sua destituição em fevereiro de 1927 com a deposição de armas na Bolívia.

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