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10/09/2013


As sessões de cinema mudo do tio Aldo 

Elísio Augusto de Medeiros e Silva

Empresário, escritor e membro da AEILIJ
elisio@mercomix.com.br 

Em meados da década de 1960, nas noites de quartas-feiras, logo após o jantar, na companhia do meu avô materno costumava ir à casa do seu irmão, meu tio Aldo Medeiros, para assistirmos filmes, que ele tinha prazer em projetar na tela pintada no muro do jardim da casa da Rua Açu. Claro que para isso a primeira condição era ser uma noite não chuvosa.
Após uma conversa rápida, os adultos se dirigiam a lugares previamente estabelecidos, sentando-se com cuidado para que ninguém tivesse a visão obstruída e pudesse perder alguma das imagens a serem projetadas.
Eram tomadas as devidas providências, como por exemplo: apagar as luzes do terraço e sala, para evitar que a luz viesse contaminar as imagens. Após isso, a sessão se iniciava e um mundo de luz e esplendor inundava os meus olhos infantis. Normalmente, eu era a única criança presente, em meio aos espectadores casais.
Todos assistiam em silêncio, interrompido vez ou outra por um esclarecimento de tio Aldo ou tia Mili, que tinham como fundo sonoro o zumbido do projetor de cinema.
Lembro-me claramente do projetor alemão 8 mm e seu ruído insistente na sala, instalado sobre uma mesa de madeira escura, onde na parte inferior ficavam os carretéis dos filmes a serem exibidos no dia.
Um mundo novo e iluminado surgia aos meus olhos. Às vezes, as películas em preto e branco registravam o casamento de algum membro da família, ou um acontecimento importante. Porém, na maioria das vezes eram projetadas imagens de viagens de tio Aldo e tia Mili pela Europa: as ruas de Londres, a Torre Eiffel, as ruas de Zurique, as estações de trem da França...
Tio Aldo tinha prazer de mostrar à família e aos amigos tudo que conhecera em suas viagens no Exterior. As projeções eram acompanhadas de seus comentários e explicações.
Contudo, os filmes preferidos por todos eram os de Charlie Chaplin “Carlitos” (O Garoto; O Circo; Tempos Modernos; O Grande Ditador; Luzes da Cidade, etc), com quem tio Aldo se correspondia e tivera oportunidade de conhecer pessoalmente em uma de suas viagens à Suíça.
Vez por outra, as exclamações diante das cenas, risadas ou algum comentário vindo das pessoas que ali se encontravam. Às vezes, a projeção era interrompida para que o projetor esfriasse ou, em raras ocasiões, quando a película de celuloide quebrava por alguma razão.
Às 20:30 horas, após um breve intervalo para um lanche e cafezinho servido por Silvina, a sessão reiniciava. Eram instantâneos de outros Países que contemplávamos em silêncio: ruas e edifícios, praças, automóveis e pessoas desconhecidas em gestos apressados. Como os filmes eram mudos (alguns eram legendados), apenas se ouvia o ruído do projetor que ficava às nossas costas.
Porém, à medida que as fitas iam se sucedendo, o sono ia chegando para mim. Nessa hora, eu procurava o enorme sofá da sala de visitas, e logo via nos sonhos os fragmentos de imagens que, até pouco tempo, estava assistindo na tela.

Às 21:30 horas, meus sonhos eram interrompidos – estava na hora de voltarmos para casa.

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