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26/08/2013

O ELO PERDIDO DA PONTE



José Narcélio Marques Sousa, engenheiro civil


O elo perdido da ponte

Quem ainda não viu precisa assistir a repetição do programa “Conversando com Augusto Maranhão”, que aborda a pesquisa de Manoel de Negreiros acerca da ponte metálica sobre o Rio Potengi, em Igapó. Não se trata de uma produção padrão TV Globo, contudo em nada fica a dever à afamada emissora no quesito saber prender a atenção do telespectador.
Manoel de Negreiros é engenheiro civil e começou a pesquisar a ponte de Igapó há quase duas décadas. Segundo ele, seu interesse pela ponte metálica surgiu depois de ler um texto meu no “O Poti”, escrito em abril de 1994, tratando dos 78 anos de inauguração da obra. O engenheiro-pesquisador elaborou um trabalho meticuloso que também é tese de mestrado e, em breve, terá o formato de livro. Negreiros mergulhou fundo para preencher lacunas, estabelecer fatos, ordenar datas e obter informações complementares ligadas à obra de engenharia implantada em Natal, no início do século XX.
Sua peregrinação levou-o a Darlington, na Inglaterra, para visitar a empresa que fabricou a estrutura da ponte. Lá obteve cópia do projeto original de engenharia, descobriu nomes de engenheiros projetista e executor da ponte, da empresa brasileira que contratou a obra com o Governo Federal e, até estabeleceu o ano em que a obra foi realmente concluída: 1914. Ou seja, dois antes de ser inaugurada durante o Governo Joaquim Ferreira Chaves, em 20 de abril de 1916.
A pesquisa de Negreiros, rica em detalhes, chega ao ponto de identificar o tipo e a composição do cimento utilizado nos blocos de sustentação da estrutura metálica, a marca do primeiro automóvel a transpor a ponte quando transformada em rodoferroviária – um Opel -, e até os nomes de seus ocupantes.
Contudo, o extraordinário do trabalho deveu-se a um lance de sorte. Sabia-se que a ponte contratada constava de dez módulos metálicos com 50 metros cada, perfazendo 500 metros de extensão. Mas, eis que surge uma ponte com 520 metros e um dos vãos com 70 metros de comprimento. Qual o motivo da mudança? Por que um vão com 70 metros? Tudo faz crer que dificuldades na execução das fundações levaram os construtores a modificar o projeto. Criaram então um vão diferenciado da sequencia estabelecida alterando a simetria da obra, pois o vão de 70 metros não é central. Mas, qual destinação foi dada aos 50 metros do vão desprezado?
A informação de um ferroviário nonagenário desfez aquele mistério. O elo perdido da ponte de Igapó fora utilizado como pontilhão para transpor um riacho, no antigo ramal ferroviário de 28 quilômetros ligando Lajes a Pedro Avelino, inaugurado no dia 8 de janeiro de 1922. O impressionante é que o pontilhão está em excelente estado de conservação guardando os traços da ponte principal inaugurada.
Louvável é a amplitude do trabalho encetado pelo pesquisador. Lamenta-se que o resgate da memória daquela obra de arte especial, exalte o descaso do poder público na preservação de símbolos da vida do nosso povo. Sim, pois o que restou da antiga ponte metálica de Igapó é um esqueleto incompleto, distorcido e enferrujado. Se houvesse um pouco de sensibilidade em gestores públicos, bem que valeria a pena tentar recuperar a velha ponte de Igapó, e assim resgatar um pouco da memória tacanha da evolução das estradas de ferro no Rio Grande do Norte. Sem essa possibilidade, só nos resta aguardar as novidades contidas no livro de Manoel Fernandes de Negreiros Neto.



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