Jurandyr Navarro
Filho da terra de Miguelinho, conhecido ficou por toda esfera cultural. Deixou-nos dias passados o ilustrado conterrâneo. A sua ausência é notada e sentida, revelada pela dor familiar e a saudade da confraria que o cercava.
Encheu o espaço temporal da existência com a plenitude da realização de seus propósitos, constituindo família, instruindo e educando descendentes.
Na lida da vida civil porfiou em duas frentes: - na profissão liberal de Advogado, especificamente, na especialidade previdenciária, perto de longos quarenta anos. Nesta atuação adquiriu celebridade profissional, estabelecendo-se em Natal e Salvador, a fim de equacionar interesses múltiplos de inúmeros constituintes que o fizeram patrono de suas causas.
Pari passu a esse labor de ordem profissional, com o passar dos anos tomava vulto o seu interesse pela cultura, segmento operativo ao qual dedicou o restante da sua atribulada existência terrena.
Elas, a Advocacia e a Cultura, as suas apaixonadas amantes espirituais.
Nesse aspecto imitou o escritor eslavo Tchekhov, que dividiu a vida entre a Medicina e a Literatura.
Dizia ele: “Fico satisfeito quando me dou conta de que tenho duas profissões, não uma. A medicina é minha esposa legal, a literatura a minha amante. Quando canso de uma passo a noite com a outra. Pode não ser uma situação habitual, mas evita a monotonia; ademais, nenhuma delas sai perdendo com minha infidelidade. Se não tivesse a minha atividade médica, dificilmente poderia consagrar à literatura minha liberdade de espírito e meus pensamentos perdidos”.
Na sua atividade intelectual, voltada para as Letras e, notadamente, para a História, Enélio deveu à influência exercida pelo tio-avô, Nestor dos Santos Lima, elogiado educador e historiador consagrado, que o antecedeu na Presidência do Instituto Histórico e Geográfico, dirigindo-o por vários anos.
O exemplo foi seguido pelo sobrinho-neto, imitando-o, outrossim, na direção vitalícia da vetusta instituição – a Casa da Memória, dístico da autoria de Luis da Câmara Cascudo.
Eleito, assumiu aos 25 de agosto de 1963, Enélio Petrovich presidiu o Instituto durante 48 anos, 4 meses e 12 dias. Quase meio século, numa atividade dinâmica pela cultura histórica. Essa permanência de labor profícuo foi, sem dúvida, o principal marco da sua lida intelectual.
Pertenceu, também, aos quadros de outras instituições da gleba potiguar, enumerando-se, algumas delas: Academia Norte-Rio-Gandense de Letras; Academia de Letras Jurídicas do Rio Grande do Norte; Fundação Cultural “Padre João Maria”; União Brasileira de Escritores; Conselho Estadual de Cultura, tendo sido associado de outras entidades de âmbito nacional, na condição de Sócio Correspondente.
Em vida, foi agraciado com Medalhas e Comendas, a ele tributadas por corporações civis e militares, em reconhecimento ao seu desempenho intelectual.
A memória do ilustrado historiador não ficou órfã com sua morte, em virtude das obras deixadas à posteridade, quando as gerações moças poderão compulsá-las, avaliando seu valor.
São escritos biográficos insertos em livros, contendo dados narrativos de viagens, ensaios, compilação de artigos de jornais, textos de palestras, discursos, saudações, prefácios e outros.
À época de estudante de Direito, na saudosa Faculdade da Ribeira, em trabalho na sala de aula, teceu considerações sobre episódicos estudos penais relacionados com a doutrina psicanalítica de Freud, tendo recebido, posteriormente, elogio do criminalista famoso daqueles dias, Nelson Hungria.
Na idade madura colaborou em jornais de nossa Cidade e, durante anos, assinou uma coluna no matutino “Tribuna do Norte”, intitulada “A Previdência Social em Dia”, abordando matéria relacionada aos interesses de aposentados e pensionistas.
Dotado de espírito curioso, empreendeu muitas viagens através o Brasil e Exterior, interessado em manter contato com outras culturas, no afã de mais se ilustrar.
Tinha espírito social, dividindo entre a família e amigos as noitadas festivas.
Pertenceu ao Lions Club Norte, agremiação social que pela soberana vontade de seus associados, em certa data, fizeram-no numa de suas votações, seu Governador.
Embora exibisse temperamento difícil, proveniente de herança familiar, denunciado em raros momentos circunstanciais, geralmente se apresentava afável nas conversações, elegendo a política diplomática do bem-querer, brindando a vida com a alegria de uma alma toda voltada para boas causas.
A recordação gravou alguns títulos de palestras por ele proferidas: “Surgimento e Dinâmica do Direito Previdenciário”; “Sigmund Freud – sua Ciência e a Sociedade atual”; “Ordem, Saúde e Justiça”.
Em relação à performance dos intelectuais do Rio Grande do Norte, elogiava a tenacidade de Manuel Rodrigues de Melo, em prol da Cultura; a eloquência de Luís da Câmara Cascudo; a inteligência de Nilo Pereira e a genialidade de Oriano de Almeida.
A lembrança do seu nome perpetuada ficará pelo realizado na órbita superior das coisas do pensamento.
Uma das Salas do Memorial “Oriano de Almeida”, anexo do Instituto Histórico, ficou reservada à sua memória.
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