07/11/2021

Acla Pedro Simões Neto está com André Felipe Pignataro e outras 33 pessoas . 32c0S dfe o83julhon d5he or2ed0u20 · O ESCRAVO DANIEL André Felipe Pignataro Furtado de Mendonça e Menezes Presidente da ACLA O Diário de Pernambuco, de 17.04.1875, noticiou a história do escravo Daniel, publicada, originalmente, pelo jornal Conservador, de Natal. Além do periódico pernambucano, diversos jornais do Brasil, como no Rio de Janeiro, Minas Gerais e Ceará, também replicaram essa notícia. Daniel é protagonista de uma bela história de coragem e de demonstração de amor ao próximo, mas com um final trágico, ocorrida em Ceará-Mirim. No dia 3 de abril de 1875, pelas duas horas da tarde, José Leão Soares da Câmara, morador no lugar Boa Vista, dirigiu-se até o lugar Capoeira Grande, próximo um do outro, onde morava seu cunhado Felippe Varella Santiago, com o fim de tirar-lhe a vida. Como não o encontrou, José Leão tentou matar a sua própria sogra, mãe de Felippe, de nome Margarida Ignacia do Amor Divino, senhora com mais de 60 anos, que também residia na mesma casa. Ao mesmo tempo em que gritava palavras ofensivas contra D. Margarida, José Leão preparava seu bacamarte (pequena arma de fogo, parecida com um garrucha). Engatilhou e mirou na sua sogra. Daniel, escravo da casa, e que tinha 25 anos, colocou-se na frente de sua senhora, para proteger-lhe a vida. O agressor, furioso que estava, atirou, ao que a bala atingiu a perna esquerda de Daniel, um pouco abaixo do joelho, causando-lhe um grave ferimento. Com o barulho do tiro, os outros escravos correram para casa, tendo conseguido tomar a arma de José Leão, no entanto, ele conseguiu escapar. Daniel foi acudido ali mesmo, dentro do que era possível. O subdelegado João Secundino Pacheco compareceu ao local do crime, tão logo ficou sabendo. Ao se dirigir à casa de José Leão, e lá o encontrando, o subdelegado efetuou sua prisão, recolhendo o criminoso à cadeia de Ceará-Mirim. José Leão Soares da Câmara, ao que parece, tinha um comportamento violento. Aliás, percebe-se, pela leitura dos jornais da época, que havia muita rixa dos senhores de engenho e fazendeiros, entre si, com crimes envolvendo escravos de outros senhores rivais. Um ano antes, José Leão foi preso, em Capoeira Grande (mesmo local onde morava Felippe Varella Santiago), pelo tenente Francisco César do Rego Barros, por tentativa de homicídio, do qual não se tem mais informações do que aquelas noticiadas pelo Diário de Pernambuco de 26.02.1874. Pois bem. Daniel foi conduzido para o Hospital de Caridade de Natal, onde chegou somente na noite do dia seguinte. Na manhã de 05 de abril, a equipe médica, como último recurso para salvar a sua vida, precisou amputar a perna esquerda. Ele resistiu bravamente enquanto pôde, tendo falecido à uma hora da tarde daquele mesmo dia. Em pleno período da escravidão, de poucos valores humanos, foi justamente o escravo Daniel que, com seu ato heroico, ao sacrificar sua vida em defesa de sua senhora, deu uma grande lição de superioridade de espírito, pois, certamente, nenhum dos moradores da casa em que servia se sacrificaria por ele

02/11/2021

OREMOS PELOS QUE SE FORAM Por: Carlos Roberto de Miranda Gomes O dia 02 de novembro foi escolhido, no calendário religioso, como data de reverenciar os entes queridos que já retornaram para os Domínios do Criador. Recebeu a denominação de Dia de Finados, instituído inicialmente no século X, na abadia beneditina de Cluny, na França, pelo abade Odilo (ou Santo Odilon [962-1049], logo depois do Dia de Todos os Santos. Assim, com integral justiça, homenageio meus saudosos antepassados e, com maior reverência a minha sempre lembrada companheira de 71 anos de cumplicidade Dona THEREZINHA ROSSO GOMES, filha de Rocco Rosso e Rosina Louvisi e, na esfera espiritual, de Maria e José. Com esse carinho especial, renovo minha devoção à Senhora Mãe da humanidade, não tão reverenciada por algumas religiões, desprezando a realidade bíblica quando preconiza (João, 19 25-27): 25. Junto à Cruz de Jesus estavam Sua Mãe e a irmã de Sua Mãe, Maria mulher de Clopas, e Maria Madalena. 26. Ora Jesus, vendo ali a Sua Mãe, e que o Discípulo quem Ele amava estava presente, disse à Sua Mãe, eis aí o Teu filho. 27. Depois disse ao Discípulo: Eis aí Tua Mãe. E desde aquela hora o Discípulo a recebeu em sua casa. Esse procedimento é sagrado, divino e humano ao mesmo tempo, para fixar no tempo permanente o amor e reconhecimento pelos que já se foram e deixaram os frutos. A vida tem continuidade pelos que ficaram, é verdade, mas sem o mesmo brilho e conforto de antes. Nesse descortinar da realidade, busco o consolo na oração, única força capaz de aplacar a tristeza e a saudade. Vamos todos reverenciar nossos mortos, conscientes que eles estão perto de DEUS.

29/10/2021

O BAR SEM NOME Tomislav R. Femenick - Jornalista Existia em São Paulo, na Rua Araújo, perto da Rua Major Sertório e da Av. Ipiranga, no Centro Histórico da cidade, um barzinho pequenininho, chamado “NN” (abreviação da expressão inglesa No Name: Sem Nome). Não havia nada escrito em sua fachada. Simplesmente era uma porta larga, aberta. Começava a funcionar às dez horas da manhã e só fechava quando o último freguês ia embora. Josias (não estou certo do nome) era o dono e o único funcionário; bar-tender, garçom, faxineiro e pau para todas as obras. Era um bar de homens. Quase nunca havia mulheres. O ambiente era aconchegante. Sofás de couro, um defronte do outro, separavam suas seis mesas, o ar condicionado controlava a temperatura e um exaustor fazia o ar circular e retirava a fumaça dos cigarros, charutos e cachimbos. As paredes eram cobertas com lambris de madeira escura. Na parede, atrás do estreito e diminuto balcão, ficavam as garrafas de bebidas, sempre em número de três para cada tipo. Na parede do fundo havia um quadro da Rainha Elizabeth II, meio sorrindo, meio séria, com um selo dourado redondo, e um brasão com os dizeres: “By appointment to hm the queen” (por nomeação de Sua Majestade a Rainha). Perguntado sobre o quadro, ele desconversava e não dizia nada. O mais importante era que seu whisky era honesto e os queijos, seu único tira-gosto, eram de boa procedência. Durante a tarde, recebia executivos de bancos, das empresas de turismo e viagens, dos inúmeros escritórios situados na redondeza, principalmente dos Edifícios Itália e os que ainda existiam no Copan. O maior movimento era na hora do happy hour. Fui levado ao NN pelos meus amigos Flávio Pacheco e José Pedro Canovas, na época em que éramos auditores na Deloitte-Revisora. Tempos depois, já trabalhando no Banco Real, como Diretor Adjunto das empresas de seguro, recebi um telefonema de Antônio Sansão, Diretor Geral da organização (na verdade, ele era a segunda pessoa no comando do conglomerado financeiro dirigido por Aluysio Faria), pedindo para eu ir até sua sala, urgente, pois tínhamos um problema delicado para resolver. O problema: demitir (sabidamente por justa causa) um diretor das empresas de seguro do grupo, pessoa a quem eu era formalmente subordinado. O meu espanto foi autêntico. Sansão explicou-me: Primeiro, ele daria a entender que a saída não seria só do diretor demitido, que haveria outras dispensas e que eu poderia ser atingido. Segundo, porque, devido à natureza do demitido, ele poderia ter uma reação indesejável e criar um clima que poderia contagiar outros colaboradores. E, terceiro, ele soube que eu conhecia um lugar adequado para isso. Um barzinho na Rua Araújo, do qual ele soubera por “por ouvir dizer”. Chegamos ao NN por volta das três da tarde, conversamos e tomamos whisky honesto, com tira-gosto de queijos de boa procedência. A demissão aconteceu sem trauma e sem vexame. Saímos de lá perto do encerramento do expediente, pois ainda teríamos de dar ciência da solução do caso ao dr. Aluysio Faria. No outro dia, ao chegar à minha sala, encontrei uma caixa de isopor, com oito embalagem de sorvete de dois litros, sabor chocolate com menta, da La Basque (que também era do dr. Aluysio), e mais 20 barras de chocolate belga, da Godiva. Presentes de Sansão, meu chefe ad hoc, e de todos os que trabalhavam no grupo; menos o mandachuva, é claro. Passado um mês ou mais, voltei ao NN. Tão logo me viu, Josias veio ao meu encontro. Queria que eu lhe ajudasse a resolver um problema: – Lembra daquela última vez em que você esteve aqui? Aquele senhor que estava ao seu lado pagou a conta. Acredito que aquele outro, que estava à sua frente, não viu e pagou de novo; deixou o dinheiro em cima da mesa. O que eu faço? Tribuna do Norte. 27 out. 2021.
MACAÍBA: 144 ANOS DE EMANCIPAÇÃO POLÍTICA Pesquisa e Texto de Valério Mesquita e Anderson Tavares Os núcleos populacionais mais antigos e conhecidos nas terras onde atualmente ergue-se a cidade de Macaíba foram o arraial e o engenho Potengi (Ferreiro Torto), o segundo da capitania do Rio Grande. Foi construído pelo capitão Francisco Rodrigues Coelho e o seu sócio, o vigário do Natal Gaspar Gonçalves da Rocha. Esse primitivo engenho, bem como o arraial, tiveram vida curta. Foram destruídos e o proprietário massacrado pelas mãos invasoras holandesas em dezembro de 1634. Ato contínuo, tendo em vista a decadência da cidade do Natal, arrasada pelos batavos, estes subiram o rio Potengi e na confluência do rio Jundiaí foi fundado a Nova Amsterdã, a qual chegou a possuir a câmara dos escabinos cujos moradores viviam da pesca, da produção de farinha e do plantio de fumo. Porém, a história oficial do município teve início em 1770, com a demarcação do sitio Coité pelo coronel Manoel Casado. Coité era uma árvore abundante na região que o coronel passou a criar e plantar em sua propriedade. Em 1850, passa a pertencer ao capitão Francisco Pedro Bandeira de Melo, cuja filha, D. Damiana Maria Bandeira, consorciou-se com o comerciante Fabrício Gomes Pedroza, morador no engenho Jundiaí. Fabrício Pedroza, comerciante de alto prestígio e larga visão comercial, notando a boa localização do sítio do sogro, constrói o primeiro estabelecimento comercial à margem do rio Jundiaí , e numa cerimônia em 1855 no quintal do referido estabelecimento onde plantou duas macaíbas, muda o nascente povoado de Coité para Macaíba. E convida amigos comerciantes para instalar-se na localidade. Em 1870, o major Fabrício funda a casa comercial dos Guarapes, importadora e exportadora de produtos, direto do seu porto para os EUA e Inglaterra, com a mudança do velho para Rio de Janeiro: o negócio foi fechado e abalou a frágil economia provincial. A freguesia foi criada pela lei n° 815, de 07 de dezembro de 1877, sob a invocação de Nossa Senhora da Conceição, santos Cosme e Damião. A lei provincial n° 801, de 27 de outubro de 1877, deu ao povoado da Macaíba o predicamento de vila, ganhando assim autonomia administrativa, sendo transferida à câmara municipal de São Gonçalo cujo presidente era o capitão Vicente de Andrade Lima. Outra lei provincial n° 1.010, de 05 de janeiro de 1889, elevou-a à condição de cidade. Como distrito, ou termo judiciário, Macaíba foi elevada à categoria de comarca do Potengi pela lei provincial n° 845, de 26 de junho de 1882, suprimida, posteriormente, em 1898, restaurada em 1907, foi novamente suprimida em 1914, e afinal restaurada em 08 de abril de 1918. Pioneira em vários aspectos, Macaíba libertou seus escravos em 06 de janeiro de 1888, tendo a frente deste movimento o comendador Umbelino Freire de Gouveia Mello, presidente da sociedade libertadora “Padre Dantas”. A primeira casa bancária do estado foi nesta cidade, fundada pelo deputado Eloy Castriciano de Souza, que financiava as safras de açúcar de grande parte dos municípios do Ceará-Mirim à São José, incluindo o vale do Cajupiranga. Sendo ainda a promotora do trabalho feminino no comércio, uma vez que o senhor Francisco Campos era auxiliado por sua esposa e as quatro filhas em seu comércio no ano 1924. Macaíba hoje tem uma população de mais de 80 mil, uma área de 492 km, mais de 60 escolas públicas municipais, 04 distritos (Traíras, Mangabeira, Cajazeiras e Cana-Brava), 16 comunidades urbanas e mis de 30 comunidades rurais. Tem na mandioca sua agricultura de subsistência. Destacamos, ainda, a cultura do caju e a apicultura como meio de geração de emprego e renda, além da plantação do mamão na zona rural do município. Outro ponto importante para economia do município é a ascendente atividade da carcinocultura, destacando-se como um dos mais promissores do RN. No trinômio comércio, agricultura e indústria tem sua fonte econômica. O abastecimento de água é feito pela CAERN (Companhia de Água e Esgotos do RN) e a energia elétrica é de responsabilidade da COSERN (Grupo Neoenergia). Faz fronteira com 08 municípios (Natal, Parnamirim, São José do Mipibú, Vera Cruz, Bom Jesus, São Pedro, lelmo Marinho e São Gonçalo do Amarante), 17 vereadores integram o poder legislativo municipal. FPM e ICMS são as maiores fontes da receita pública. A população católica representa 73%, com cerca de 60 mil fiéis. A paróquia integra a Arquidiocese de Natal e a festa da sua padroeira é 08/12. As outras denominações religiosas são: a Igreja Assembléia de Deus, Igreja Batista de Macaíba e Batista da Convenção, Igreja Universal do Reino de Deus, Igreja Presbiteriana, Igreja Deus é Amor, Igreja Pentecostal, Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias, Congregação Cristã no Brasil, Testemunhas de Jeová e Igreja Cristã em Células. Nos cultos de cultura Afro destacamos o terreiro de Dedé de Macambira, terreiro do Mosquito e terreiro de Paulo da Lagoa. Macaíba localiza-se a 18 quilômetros de Natal e é cortado por duas BR's 304 e 226, e pela RN 160. Tem a melhor água da Grande Natal. Possui um distrito industrial composto por cerca de 20 empresas entre pequenas, médias e grandes (a Sam’s, Multidia, Coteminas, Coca-Cola, Rufitos, Tempreros Sandio, Argamassa Potengy, Center Massas, Água Mineral Cristalina, Água Mineral Riogrande, Águia Piscina), entre outras, e como órgão representativo da categoria patronal temos a ASPIM. CDL (Câmara dos Dirigentes Lojistas) e SindComércio (Sindicato do Comércio Varejista) são as entidades representativas do comércio local, com uma média de 2000 mil empregados diretos no ramo comercial em cerca de 400 lojas nos mais diversos ramos de atividade. A empregabilidade está no serviço público (três esferas), comércio, agricultura e industria. Salve a data aniversária de 27 de Outubro e salve Macaíba enquanto é tempo! (*) Escritor

26/10/2021

A DIVINA COMÉDIA VISTA DE NATAL Diogenes da Cunha Lima Nos 700 anos da morte de Dante Alighieri, o mundo intelectual festeja a sua obra. Não hesito em afirmar que, dentre os peritos literários, ele foi o favorito de Câmara Cascudo. O Mestre de Natal foi o primeiro tradutor de Walt Whitman, traduziu Montaigne e, para seu deleite, Shakespeare e Goethe. Apresentou e anotou Miguel de Cervantes e Luis de Camões. “Dante Alighieri e Tradição Popular no Brasil” é paciente pesquisa sobre a criação desse homem de todos os tempos, conservando vivo em nossos hábitos, nossos gestos, em nossas palavras, segundo a expressão de Franco Jasiello, prefaciador da 2ª edição. Para Franco, o gênio atlântico e alísio tinha a primazia da intimidade com o gênio de Florença. Imagine a minha emoção ao receber o exemplar, que assegura eu estar “inteiro e vivo no seu coração”. Sob a dedicatória, a assinatura de Luis da Câmara Cascudo. Para Cascudo, Dante Alighieri é uma síntese genial da cultura erudita e da cultura popular. Tinha todo o conhecimento científico, filosófico e teológico da Idade Média. Também religioso, o etnógrafo do Brasil registrou a presença entre nós da consciência religiosa medieval. A Comédia, denominada Divina por Boccacio, aborda o destino das almas: inferno, purgatório e paraíso. Nos dois primeiros, Dante é levado pela mão do poeta Virgílio. No paraíso, foi guiado por sua amada Beatriz (Virgílio não poderia entrar no céu por não ser cristão). Dante, médico-enfermeiro, participou da política de Florença, integrando o grupo dos Gibelinos que propunha a limitação dos poderes dos papas. Os Guelfos, vitoriosos, condenaram o poeta ao exílio e à morte se voltasse à Florença. Assim, ele se refugiou em várias comunidades e terminou a sua vida em Ravena, que guarda como um tesouro os seus restos mortais. Cascudo anota a curiosidade de que o sumo poeta vislumbrou três papas no inferno: Nicolau III, Bonifácio VIII e Clemente V. Mereceram o suplício eterno pelo desrespeito à função sagrada, vendendo o que seria destinado ao culto. Câmara Cascudo observa a permanência, no Brasil, da Estrela do Destino, Lúcia (que entre nós é Santa Luzia) e ainda do golfinho, o boto que amava e seduzia até os rapazes, fingindo-se de moça. As observações do nosso Mestre atingem limites não suspeitados. Registra a afirmação de Dante de que “o amor move o sol e as outras estrelas”. Destaca, também, que Dante encontrou poucas mulheres no inferno, raras no purgatório, mas muitíssimas no paraíso. Em nosso tempo, é imprescindível ler os dantistas excelentes, como Marco Lucchesi, e reler a “Divina Comédia”, usufruindo dos seus cinco cantos e dos seus tercetos encadeados.
Marcelo Alves
As buscas Stefan Zweig (1881-1942) foi outro grande nome das letras alemãs que viveu no Brasil (digo “outro” porque antes escrevi sobre Otto Maria Carpeaux). Zweig nasceu em Viena, judeu, filho de pais abastados. A educação, desde menino, foi “de primeira”. Cursou e doutorou-se em Filosofia. Ainda estudante, descobriu-se poeta, tradutor e biógrafo. Foi jornalista, dramaturgo e romancista/novelista. Durante a 1ª Guerra Mundial, foi viver na Suíça. Foi pacifista, no grupo de Romain Rolland, Hermann Hesse e James Joyce. Voltou à Áustria. Foi celebrado nas décadas de 1920 e 1930. Com a ascensão do cabo Hitler, foi viver em Londres. Conheceu o Brasil; prometeu voltar. Cumpriu tragicamente o juramento. É o autor do livro/elegia “Brasil, o país do futuro”. Publicado em várias línguas, é título famoso entre nós. Pena que nunca chegamos a esse futuro. Zweig tirou a própria vida (e a esposa também) em 1942, na melancólica Petrópolis, após um Carnaval mais melancólico ainda. A obra de Zweig é vasta. É cumeada pelas novelas e biografias. Outro dia, adquiri “24 horas na vida de uma mulher e outras novelas” (Nova Fronteira, 2018), na qual Alberto Dines, o prefaciador (além de biógrafo de Zweig), afirma: “Amok, Carta de uma desconhecida, 24 horas da vida de uma mulher e Confusão de sentimentos, junto com as biografias de Maria Antonieta, Maria Stuart e Fouché, são os títulos mais lembrados da vasta obra do escritor austríaco até hoje, e não apenas pelas tiragens, mas porque foram adaptadas para o cinema americano e europeu”. Já que escrita no Brasil, à lista eu acrescento a autobiografia “O mundo que eu vi”, de 1942. Mas, hoje, eu quero destacar apenas dois causos da saga de Stefan Zweig. Um é triste; o outro, espero, terminará bem (pelo menos para mim). O causo triste é o destino do intelectual pacifista, Stefan Zweig, num mundo tomado pela barbárie do Nazifascismo. Quanto ao fim do escritor, anota Dines: “Desgostoso, Zweig aluga um chalé em Petrópolis para aguardar o fim da guerra [a 2ª Grande Guerra]. O desespero fabricado pela solidão e a angústia com o irresistível avanço nazifascista o derrubaram. A 22 de fevereiro de 1942, cinco dias depois do Carnaval, Stefan Zweig e a mulher suicidaram-se. O humanista não aguentou o espetáculo de insanidade que a barbárie hitlerista havia desencadeado. No repertório de suas paixões não foi incluído o radicalismo político”. No Brasil, Zweig buscava algo que, mesmo muitíssimo bem recebido, por autoridades e intelectuais, também não encontrou: a sua paz e a paz de todos (encontramos hoje?). E topou, mesmo aprendendo a amar o nosso país – vide sua carta de suicídio –, voluntariamente, com a “indesejada das gentes”. O segundo causo é de outra natureza. É a minha busca por uma novela de Zweig, “O Mendel dos livros”, de 1929 (originalmente publicada no Neue Freie Press), que conta a história de um sebista judeu russo que tinha “escritório” em uma das mesas do Café Gluck, em Viena. A memória do livreiro era espantosa. Enciclopédica. Sabia tudo das obras que comercializava. Era admirado pelo proprietário do café e pela clientela, que faziam uso dos seus serviços. Mas vem a 1º Grande Guerra. Nacionalidades se opõem. Raças também. E o livreiro é considerado um inimigo da pátria. Novela profética, no que toca ao despertencimento à nação em que se vive, do destino do próprio Zweig? Estes dias, topei com essa novela pelo menos duas vezes. Primeiramente, quando escrevia sobre os cafés de Viena. O sebista de Zweig tornou-se personagem clássica na cultura dos cafés da outrora capital imperial. A segunda foi quando trabalhava na publicação de meus livros, em e-books e impressos, na Amazon. Essa dupla conhecença não pode ser coincidência (e aqui inflaciono a minha porção mística). O destino não bate na nossa porta duas vezes. Ou bate? Sei lá. O fato é que, desde então, busco pelo “Mendel dos livros”. Perguntei a sebistas da terrinha. A amigos bibliófilos. Mas ninguém dá conta do dito cujo. A edição achada na Amazon, portuguesa, da Assírio & Alvim, custa R$ 481,00, mais frete. Mui caro. Não estou roubando. Bom, não sei como terminará a minha busca pelo “Mendel dos livros”. Espero que bem. Longe de tragicamente, como no caso Zweig. Não mato nem morro por livros. Ainda. De toda sorte, indago: alguém pode me ajudar? Marcelo Alves Dias de Souza Procurador Regional da República Doutor em Direito (PhD in Law) pelo King’s College London – KCL

20/10/2021

ACOMODAÇÕES DA 25ª HORA Valério Mesquita* Mesquita.valerio@gmail.com A frase do ex-deputado federal pernambucano Thales Ramalho de que “maior que a ilusão política só a ilusão do amor” é de uma verdade tão cristalina que me fez refletir mais ainda sobre os últimos dias de Pompéia. A deterioração dos costumes políticos, as debandadas, as infidelidades à 25ª hora, a substituição das coligações eleitorais pela proliferação de legendas partidárias, as adesões no varejo e no atacado em tom promocional e de liquidação; a troca de legendas antes mesmo de o candidato assumir o mandato, tudo conduz o eleitor ao descrédito da vida pública, estarrecido com a conduta pérfida dos seus protagonistas. Em nome da mudança, do novo, do diferente, alguns agentes políticos estão destruindo a própria biografia no jogo vantajoso das premissas e das facilidades dos governos que estão por vir. Nunca a flauta mágica do fisiologismo tocou tão alto desbotando clichês, ruborizando os céticos e dissolvendo bancadas tal e qual o efeito sonrisal. O que está acontecendo hoje com a chamada classe política? Deu a louca no mundo? É tão grande assim o impacto das dívidas e das dúvidas pendentes da campanha que passou? Dir-se-á que os partidos vencedores quando trocaram a ideologia pela convivência dos contrários, os partidos de direita e de centro perderam o pudor e se misturaram no mais estranho e promíscuo hibridismo partidário da história política do país. Já que não posso entender, após exaustivas reflexões, espero que tanta gente junta dê certo, tanto aqui quanto alhures, como diria o nosso saudoso Paulo Macedo. Talvez isso tudo seja mesmo uma fogueira das vaidades. E ponto final. Tudo é mesmo ilusão. Nada além de uma ilusão, sobre a qual nos falava o saudoso ator e comunista Mário Lago. Refletir sobre os fatos e factóides da vida talvez seja a melhor postura diante do mar de Cotovelo. O dom da observação é importante para aprender a viver e dissipar os contrapontos insurgentes. Ergui-me da rede para repensar o imponderável. Vamos devagar com o andor que o santo é de barro e não faz milagre. Para o conhecimento do crítico de cinema Valério Andrade, o cenário é o mesmo, os figurantes idem. Mudam os atores, os diretores, produtores e roteiristas. A trilha sonora continuará sendo o hino nacional de Fafá de Belém, e por aqui a velha e ilusória marchinha carnavalesca “mamãe eu quero, mamãe eu quero mamar...”. E o filme? O filme é o mesmo para que muitos, mais tarde, possam repetir novamente: já vi essa fita antes. Está escrito que, na história da humanidade, todos haverão de passar e que o Messias prometido só existiu um. E uma Cleópatra, também. Política, enfim, é mais do que circunstância. É ilusão, mesmo. E muita vaidade. É ilusão gratulatória. (*) Escritor.