23/02/2016


GLOSAS FESCENINAS DE MOYSÉS SESYOM
Coletânea organizada por Jardelino Lucena
jardelino@digizap.com.br
Moysés Lopes Sesyom, nasceu a 28 de julho de 1883 no sítio Baixa Verde em Caicó, no Rio Grande do Norte. Viveu em Açu-RN, a partir de 1905 vindo a falecer em 9 de março de 1932.
(continuação)

4. MOTE


Zé Leão quase se caga
Quarta-feira na novena.


GLOSA


Quase faz do cu bisnaga
Apertado, em plena rua
Ontem, ao clarão da lua
Zé Leão quase se caga.
Porém encontrou uma vaga
Pôde fazer quarentena.
Com franqueza, tive pena
Por vê-lo tão apertado.
Foi feliz não ter cagado
Quarta-feira na novena.


5. MOTE


A doida da gameleira
Deu um peido e se cagou


GLOSA


Enrolado em uma esteira
João Dudu foi tomar fé,
Só pra ver mijando em pé,
A doida da gameleira.
Quando viu uma carteira
Teve medo recuou
Ali a doida ficou
Lhe disse: eu vou à caverna
Logo ali abriu a perna
Deu um peido e se cagou.



6. MOTE


O peido que a doida deu
Quase não cabe no cu.


GLOSA


Eu conto o que sucedeu
Na sombra da Gameleira
Foi um tiro de ronqueira
O peido que a doida deu.
Toda terra estremeceu,
Abalou todo o Açu,
Ela mexendo um angu,
Tira a perna para um lado
Dá um peido tão danado
Quase não cabe no cu.



22/02/2016



   
Marcelo Alves


Sobre John Grisham (II) 

No artigo da semana passada, escrevi aqui sobre John Grisham (1955-), romancista e roteirista americano que, nos seus inúmeros best-sellers, fazendo uso da sua formação jurídica e da sua experiência como advogado e homem público, trabalha – e muito bem – a relação literatura/cinema/direito. Apresentei no referido artigo, embora sucintamente, a sua biografia e os seus “romances jurídicos” (“legal novels” e, mais especificamente, no caso de Grisham, “legal thrillers”), isto é, os seus romances cujos enredos têm considerável ligação com o direito. 

Hoje, como prometido, vou tratar dos “filmes jurídicos” (“legal films”) com roteiros adaptados de obras Grisham (em regra, pelo próprio autor). Produzidos sobretudo quando do boom de livros e filmes jurídicos da década de 1990, eles não são poucos. Para a telona, conheço pelo menos oito, cujos títulos, em inglês, vão a seguir: “The Firm” (de 1993), “The Pelican Brief” (1993), “The Client” (1994), “A Time to Kill” (1996), “The Chamber” (1996), “The Rainmaker” (1997), “The Gingerbread Man” (1998, baseado em um manuscrito não finalizado de Grisham) e “Runaway Jury” (2003). Isso sem falar nas séries de TV, com é o caso de “The Client” (1995–1996) e de “The Firm” (2011–2012), também baseadas em seus livros. A marca “John Grisham”, portanto, é best-seller tanto no papel (com mais de 300 milhões de cópias vendidas) como na telona. 

Tomemos como exemplo do todo, pelo simples fato de eu haver (re)assistido a essa película dia desses, o primeiro dos “filmes” com a marca de Grisham, “A Firma” (“The Firm”), de 1993, que é baseado em romance homônimo, primeiro best-seller do autor, de 1991. 

Dirigido por Sydney Pollack (1934-2008), um especialista em filmes jurídicos (e sobre quem poderemos conversar qualquer dia), “A firma” conta com um elenco de luxo: o astro Tom Cruise (como Mitch McDeere), a fofurinha Jeanne Tripplehorn (Abby McDeere), Gene Hackman (Avery Tolar), Ed Harris (Wayne Tarrance), Holly Hunter (Tammy Hemphill), Hal Holbrook (Oliver Lambert), David Strathairn (Ray McDeere), Gary Busey (Eddie Lomax), Paul Sorvino (Tommie Morolto) e outros menos votados. E isso, claro, dá certa qualidade e, sobretudo, “bilheteria” ao filme. 

O enredo de “A firma” não é nada demais (também não é ruim, que fique claro), Mitch McDeere (interpretado por Tom Cruise), embora oriundo de uma família muito pobre e desestruturada, é um jovem brilhante, recém-formado pela escola de direito de Harvard. A ele, fresquinho na profissão, são oferecidas várias propostas de emprego. Ele acaba optando pela “Firma”, escritório de advocacia estabelecido na cidade de Memphis, no estado norte-americano do Tennessee. Para lá ele se muda com sua jovem esposa, que havia abandonado a confortável situação financeira familiar para viver com o amado. Com o tempo, ele percebe que a “Firma”, na verdade, funciona como lavandeira de dinheiro para a Máfia. Descobre também que os advogados que saíram ou tentaram sair da “Firma” morreram de maneira suspeita. Mitch McDeere é pressionado por agentes do FBI que, apresentando as atividades ilegais da “Firma”, exigem sua cooperação. Mas cooperar faria com que ele, por quebra de deveres da profissão, perdesse sua licença de advogado. E por aí, em meio a crises de consciência e muitas reviravoltas, a coisa caminha até o final – que eu, por óbvio, não vou contar. 

Como a imensa maioria dos “filmes de tribunal” (afinal, eles são, essencialmente, obras de ficção), “A firma” apresenta muitas imprecisões quanto à realidade do sistema legal retratado (no caso, o sistema judicial norte-americano) e do direito como um todo. Apenas para se ter uma ideia, a personagem Mitch McDeere, o jovem profissional do direito em torno de quem gira todo o enredo, sobretudo com desenvolvimento do filme, acaba se parecendo, como notam Ernesto Pérez Morán e Juan Antonio Pérez Millán (em “Cien abogados de ayer e de hoy”, livro publicado pela Ediciones Universidad de Salamanca, 2010), muito mais com um investigador do que com um advogado propriamente dito. E isso talvez se justifique pela necessidade de se dar maior dinamicidade ao filme (como também ao livro). 

Entretanto, para os interessados no direito, “A firma” tem, claro, sua valia. Por exemplo, ele nos apresenta (de forma romanceada, certamente) o modelo de recrutamento, nos Estados Unidos da América, pelos escritórios de advocacia, dos melhores estudantes de direito. A estória do filme se passa, pelo menos em boa medida, no ambiente de uma banca de advogados em pleno funcionamento, com os seus profissionais realizando performáticas peripécias jurídicas. O foco mesmo do filme é um jovem advogado, brilhante e ambicioso, que, contra todos os prognósticos, não se deixa adestrar pela “filosofia” do escritório de advogados em que trabalha. Especialmente, há o dilema jurídico central do filme, que constitui, nas palavras dos autores de “Cien abogados de ayer e de hoy”, uma “encruzilhada deontológica”: colaborando com o FBI, o jovem advogado se põe do lado lei, mas para isso deve revelar segredos profissionais dos seus clientes, ferindo códigos de ética (no mínimo), o que arruinaria sua promissora carreira. 

Bom, de uma maneira geral, “A Firma”, seja em forma de livro ou de filme, é muito apreciado tanto por leigos como por aqueles que possuem formação jurídica, como se dá, de resto, com as outras produções de John Grisham. E se você, caro leitor, perguntar a minha opinião sobre o quão divertido como programa de fim de semana a “A firma” é, eu vos digo, sem titubear: (re)assisti e gostei demais. 

Marcelo Alves Dias de Souza
Procurador Regional da República
Doutor em Direito pelo King’s College London – KCL
Mestre em Direito pela PUC/SP

21/02/2016





ÁGUA GELADA





Adriane, adolescente de 16 anos, filha de Adriano Pimentel e neta de Francisco Bezerra e dona Lia, morava no Rio de Janeiro. Anualmente, vinha com os pais e irmãos, passar férias em Nova-Cruz (RN). Sob o sol causticante de uma segunda feira, a moça observou que os feirantes se abrigavam em barracas com cobertura de lona, para fugir do mormaço. Tomavam muita água, tirada de garrafas ali expostas, em temperatura natural. A moça tinha espírito empreendedor e, de repente, disse para si mesma que iria ficar rica, ali naquela terra.
A quantidade de pessoas circulando na feira era imensa. Umas vendiam, outras compravam, sob um sol causticante, sem terem acesso à água gelada. Cheia de sonhos, a adolescente teve uma grande ideia: Iria vender água gelada na feira, e, certamente, os matutos iriam ser seus fregueses. Iria ganhar seu primeiro dinheirinho, vendendo água na feira de Nova-Cruz!!! Trabalharia por conta própria!!! Então, pediu de presente ao tio-avô, Paulo Bezerra, um garrafão térmico de cinco litros, para colocar água gelada, e contou-lhe a sua pretensão:



FEIRA DE NOVA-CRUZ (rn)


– Tio Paulo, eu vou vender água na feira! Aquele povo passa o dia todo nas barracas, debaixo de um sol infernal, todos sedentos e suados. Não dispõem de água gelada para matar a sede. Então….quem sabe, eu vendo água e faturo um “dindim”. Vou ficar rica!!!
Paulo Bezerra, achando interessante a ideia, forneceu-lhe o garrafão. No dia da feira municipal, segunda-feira, Adriane acordou bem cedinho, encheu o garrafão de 5 litros com água, colocou uma caçamba de gelo dentro e lá se foi, bela e faceira, imaginando os cifrões que ganharia no final da manhã, na feira de Nova Cruz. Muito desinibida, saiu gritando pela feira, com o seu sotaque carioca:
– Olha a água gelada, fresquinha… 1 cruzeiro o copo!!!
A moça subia a rua da matriz, descia pelo outro lado, voltava ao início da feira, sempre gritando o mesmo jargão:
– Olha a água gelada, fresquinha, 1 cruzeiro o copo!!!
Uma hora de trabalho e nenhum copo d’água vendido; duas horas, e nada; três horas, e nada. Lá pelas 11:30, com o garrafão quase vazio, bebido por ela mesma, e frustrada com seu negócio fracassado “liminarmente”, a adolescente entrou no armazém do avô Francisco Bezerra, que ali se encontrava com Dona Lia, a avó, desconhecendo totalmente a astúcia da neta. Jamais, o próspero comerciante admitiria que uma neta sua vendesse água na feira! Dona Lia perguntou à moça o que estava fazendo com aquele garrafão térmico no ombro, ao que ela respondeu:
– Estou vendendo água gelada, vovó! Pensei que fosse ficar rica aqui na feira de Nova-Cruz! Mas, mesmo com um calor horrível, o povo não tem coragem de comprar um copo de água gelada!!! Quem bebeu a água quase toda fui eu mesma!!!
Todas as pessoas que se encontravam no armazém sorriram muito, menos o avô Francisco Bezerra, que ficou indignado ao saber da iniciativa da neta. Para ele, não passava de uma “traquinagem”!!!
Sentindo-se incomodada com a risadaria das pessoas que ali se encontravam, a adolescente protestou irritada:
– Por que vocês estão zombando de mim?
Dona Lia, a avó, às gargalhadas, respondeu:
– Minha filha, o povo do mato não sabe nem o que é água gelada. A maioria não tem geladeira, que é produto de luxo. Mesmo quem pode comprar, não gosta de água gelada, por causa da dor que dá nos dentes cariados.
Decepcionada, Adriane saiu cabisbaixa, com seu garrafão já vazio, cuja água fora usada para matar sua própria sede. Não entendia porque, num mormaço daquele, um matuto não admitia tomar água gelada. Maior do que o calor e a sede, devia ser o medo da tal dor de dente!!!
E a ideia de vender água gelada na feira morreu aí…


20/02/2016

RELANÇAMENTO - HOJE



Estimados Amigos, 

Por iniciativa de Abimael Silva, do SEBO VERMELHO, será relançado hoje, das 9 às 12 h. o meu livro "Amor de Verão", com gravuras feitas pelo meu neto Carlos Victor..
Estarei lá para abraçá-los.

CARLOS GOMES

18/02/2016




GLOSAS FESCENINAS DE MOYSÉS SESYOM
Coletânea organizada por Jardelino Lucena
jardelino@digizap.com.br
Moysés Lopes Sesyom, nasceu a 28 de julho de 1883 no sítio Baixa Verde em Caicó, no Rio Grande do Norte. Viveu em Açu-RN, a partir de 1905 vindo a falecer em 9 de março de 1932.







1. MOTE


Sua avó, puta de estrada.
Sua mãe é fêmea minha.


GLOSA

A sua raça é safada
Desde a quinta geração
Seu avô foi um cabrão
Sua avó, puta de estrada
Sua filha, amasiada
Prostituta sua netinha
Esta pariu de um criado
Seu pai foi corno chapado
Sua mãe é fêmea minha


2. MOTE

João de Souza é um sacana
Só faltava ser cabrão

GLOSA

Dança fobó, bebe cana,
Em tudo mete o bedelho,
Toca bronha e chupa grelho,
João de Souza é um sacana
Se mete na carraspana
Dentro da repartição;
É mentiroso, é ladrão,
É de uma fama corruta,
É corno, filho da puta,
Só faltava ser cabrão.


3. MOTE


Rodolfo dançando nu
Cagou em pé como boi.



GLOSA

Um caso raro em Açu,
Quereis saber o que é?
Foi visto no cabaré
Rodolfo dançando nu.
Quando ele mostrou o cu
As putas disseram: "Oi"
Um sacana que lá foi
Me disse: " pintou o sete,
Tocou bronha, fez minete,
Cagou em pé como boi".



17/02/2016


MOYSÉS SESYOM

Consta, no site www.dhnet.org.br essa coletânea de glosas do memorável e talentoso Moysés Sesyom, organizada por Jardelino Lucena, sob o título de “Glosas Fesceninas de Moysés Sesyom”. Quanto ao último texto, o de nº 15, que tem como mote “Bebo, fumo, jogo e danço/ sou perdido por mulher”, e que considero a obra-prima do poeta, tomo a liberdade de substituí-lo pelo que tradicionalmente conheço e sei de cor, publicado originalmente, segundo Francisco Amorim (in “Eu conheci Sesyom”, 2ª edição, 1976, pág. 11), no jornal “A República” do dia 11 de abril de 1942, assim:

Bebo, fumo, jogo e danço,
Sou perdido por mulher.

Vida longa não alcanço
Na orgia ou no prazer,
Mas, enquanto não morrer
Bebo, fumo, jogo e danço!
Brinco, farreio, não canço,
Me censure quem quiser...
Enquanto vida tiver
Cumprindo essa sina venho,
E, além dos vícios que tenho,
Sou perdido por mulher!


GLOSAS FESCENINAS DE MOYSÉS SESYOM
Coletânea organizada por Jardelino Lucena
jardelino@digizap.com.br

Moysés Lopes Sesyom, nasceu a 28 de julho de 1883 no sítio Baixa Verde em Caicó, no Rio Grande do Norte. Viveu em Açu-RN, a partir de 1905 vindo a falecer em 9 de março de 1932


NAS PRÓXIMAS EDIÇÕES FAREMOS A PUBLICAÇÃO DE ALGUMAS DESSAS GLOSAS.