20/11/2014

Plaquete do “Memória Viva” não tem informações relevantes Sobre a Coluna Prestes em São Miguel/RN.

Luiz Gonzaga Cortez*

Em dezembro de 2013, no Jornal de Hoje, de Natal/RN, publicamos uma série de matérias sobre a Coluna de rebeldes do Exército, comandada por um major da Polícia Militar do Estado de São Paulo, Miguel Costa, que percorreu o Brasil, entre 1924 e 1927, com passagem pelo território do Rio Grande do Norte,em fevereiro de 1926, através do município de São Miguel. As matérias se basearam no depoimento escrito por José Guedes do Rego, testemunha ocular dos acontecimentos ocorridos em “São Miguel de Pau dos Ferros”, como era conhecido o lugarejo na serra do mesmo nome. Para refrescar a memória dos leitores, segue um pequeno trecho publicado, extraído do valioso documento de “Zé Guedes”:
“Coluna Miguel Costa/Prestes em São Miguel/RN.
“Antes do avistamento da passagem do Exército rebelde no aceiro da estrada, José Guedes do Rêgo, na noite anterior, em São Miguel, estava abrigado na casa de “Antonio de Chica, em companhia de Manoel Vieira, quando chegou a notícia da prisão de dois revoltosos , provocando muita animação entre os moradores, muitos achando que a investida tinha fracassado.”Madrugada,  Manoel Vieira mandou que eu fosse, com um homem conhecido por “Doutor”, um negro, chegado de Icó, abrir a casa e levar uma carga num jumento “.
Insatisfeito, procurei ampliar a pesquisa sobre a passagem da Coluna Rebeldes pelo Rio Grande do Norte, obtendo, assim, uma fita com o discurso de Luis Carlos Prestes na Assembléia Legislativa,  e, por último, a versão impressa de sua entrevista ao programa “Memória Viva”, na TV-Universitária, gravado no dia 24 de outubro de 1987, conforme plaquete publicada pela Coleção Humanas Letras/CCLHA/UFRN, em setembro de 1995. O diretor do Centro de Ciências Humanas, Letras e Artes/CCHLA era o professor Geraldo de Margela Fernandes.
 Graças ao amigo pesquisador Wandyr Villar, recentemente, obtive um exemplar da edição impressa que, apesar de valiosa para os historiadores e pesquisadores, traz poucas revelações sobre a passagem dos militares rebeldes pelo alto oeste potiguar em 1927, quando a Coluna já estava em processo de retirada e desmobilização.
Indagado se   “ tem alguma lembrança de algum episódio aqui no Rio Grande do Norte”?, Carlos Prestes respondeu: “É dificil dizer porque... algo me lembro bem, não me lembro atualmente se foi na Paraíba ou no Rio Grande do Norte, porque na  fronteira do Rio Grande do Norte e Paraíba, um dos dois Estados estava numa grande seca, então, comprava água no outro Estado, a dois réis cada lata, cada lata dessas de querosene, 20 litros”.
Continua assim, disse o entrevistador Carlos Lyra. E Prestes prossegue: Hoje, deve ser a mesma coisa. Isso nos impressionou muito, tá cobrando, pagando para ter água, compravam água na fronteira, ali, um dos dois Estados, eu não me lembro se era a Paraíba que estava em seca e comprava água no Rio Grande do Norte, ou se era o Rio Grande do Norte que estava em seca e comprava na Paraíba, mas esse episódio eu me lembro bem dele. É claro que a subida ali naquela serra, São Miguel, houve combate aí porque tinha tropa na frente, mas vencemos esse combate e atravessamos rapidamente, atravessamos a Paraíba, fomos a Pernambuco, atravessamos o Rio Pajeú, que estava seco, esses rios do Nordeste...”. (Páginas 44 e 45).
Sobre a passagem da Coluna Miguel Costa/Prestes por São Miguel, Luís Carlos Prestes não acrescentou nada além do acima está transcrito. Nada sobre os tiroteios e mortes de dois revoltosos, da reunião do Estado Maior e do repouso e dos incidentes de soldados-saqueadores com os pequenos comerciantes de São Miguel.
Relembrando
Escrito há décadas, o sr. José Guedes do Rêgo,  foi testemunha ocular da presença dos revolucionários da Coluna Prestes/Miguel Costa, em fevereiro de 1926, na cidade de São Miguel, no alto oeste do Rio Grande do Norte. O médico Antonio Guedes do Rêgo, um dos filhos de José Guedes, autenticou uma cópia do relatório que alicerçou a série de  artigos que publicamos no “Jornal de Hoje”, em dezembro de 2013. “Cópia entregue ao jornalista Luiz Gonzaga, após uma entrevista com Luis Carlos Prestes na Assembléia Legislativa, no gabinete do deputado Willy Saldanha. Foi entregue também outra cópia a Prestes. Confere com o original. Outras cópias foram entregues por meu pai José Guedes a Prestes. Natal, 27/06/2014. A) Antonio Guedes do Rego”.


*Luiz Gonzaga Cortez é jornalista e pesquisador.

19/11/2014

Dia da Bandeira

A comemoração do dia da bandeira se constituiu como mais um elemento simbólico da construção da identidade nacional brasileira, o dia da bandeira simboliza a nação brasileira.

 


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A atual bandeira do Brasil foi inspirada na bandeira do período imperial
A atual bandeira do Brasil foi inspirada na bandeira do período imperial
No dia 19 de novembro comemora-se o Dia da Bandeira do Brasil, essa comemoração passou a fazer parte da história do país após a Proclamação da República, no ano de 1889. Com o fim do período Imperial (1822-1889), a bandeira desenhada por Jean Baptiste Debret, que representava o império, foi substituída pelo desenho de Décio Vilares.
A substituição da bandeira imperial por uma bandeira republicana representa as mudanças que o Brasil passava naquele momento: mudanças na forma de governo e de governar, do regime imperial para uma república federativa. Além disso, a nova bandeira representava a simbologia que estava agregada ao republicanismo, como a ideia de um Estado-nação, o patriotismo e o surgimento do sentimento nacionalista, ou seja, a construção identitária do povo brasileiro, a identidade nacional.
As bandeiras não são restritas a serem simbologias somente do Estado-nação, ou de algum país, mas existem bandeiras que representam diversas regiões que integram o país e diferentes instituições e esferas sociais. Existem bandeiras que simbolizam times de futebol, torcidas organizadas, cidades, Estados, instituições religiosas e governamentais como cidades, exército, além das instituições comerciais, bandeira de uma empresa.  
Temos notícias de que as primeiras bandeiras foram visualizadas na antiguidade, eram utilizadas nos exércitos como meio de reconhecimento entre os diversos soldados. Atualmente, no mundo contemporâneo, todo Estado-nação possui uma bandeira nacional que representa e dá unidade à nação, ou seja, unifica diferentes povos. Dessa maneira, a instituição da comemoração do dia da bandeira acrescentou mais um elemento simbólico na construção da identidade nacional.
Leandro Carvalho
Mestre em História
Casa do Estudante do RN é penalizada
Por: Carlos Roberto de Miranda Gomes, escritor, sócio efetivo do IHGRN

            Sensibilizado pela penúria vivida pela Casa do Estudante do Rio Grande do Norte iniciei campanha na rede social e com apoio da imprensa, tentando minorar a crise ali existente.
            Com o respaldo do Rotary Clube Natal – Sul, consegui alguns mantimentos e material de limpeza em caráter emergencial, mas paliativo, enquanto esperava providências mais objetivas do Poder Público, notadamente do Ministério Público que conseguiu êxito com uma ação civil pública e também de outros organismos estatais.
            Mantive encontros com o Presidente da CERN e tomei conhecimento dos vários e graves problemas ocorridos e me propus ajudar, na medida do possível.
            Infelizmente, em que pese os transtornos dos moradores da Casa, que a criaram por iniciativa de um grupo de estudantes de várias cidades do interior do Estado para permitir o complemento dos seus estudos na capital, fato ocorrido no longínquo 02 de junho de 1946, vieram a ter ameaçado o seu teto, presentemente funcionando no prédio histórico da Rua Coronel Lins Caldas, nº 678, bairro da Cidade Alta, conforme pena de Advertência aplicada pela Vigilância Sanitária da Secretaria de Saúde da Prefeitura de Natal, em virtude da interdição do prédio.
A situação é aflitiva e merece a atenção dos representantes do povo, aos quais dirijo esta mensagem, rogando uma providência imediata e enérgica para que não sejam jogados na rua cerca de oitenta residentes, numa época que corresponde aos seus exames finais dos cursos regulares que frequentam e sob o clima natalino, que deveria ser de confraternização e solidariedade.
Na condição de aposentado já não possuo prestígio para qualquer ação em favor dos estudantes, mas disponho de boa vontade e amizade com pessoas que ainda possuem liderança na are privada e pública.
Faço aqui um apelo especial aos meus ex-alunos Robinson Faria e Fábio Dantas, eleitos para a direção do nosso Estado a partir de 2015, como também ao Deputado Ricardo Motta e ao Vereador George Câmara, igualmente meus ex-alunos, para que olhem com carinho para esta situação e façam alguma coisa para evitar o “despejo”.
Vou continuar buscando a colaboração da Ordem dos Advogados do Brasil, Seção do RN, como ao Conselho Regional de Contabilidade para a solução de problemas de ordem jurídica e contábil, procurando sensibilizar, também, alguns ex-residentes ilustres da CERN na esperança de que esses jovens, sementes do amanhã, não venham a sofrer as penalidades sobre fatos que não deram causa.
Ao Estado do Rio Grande do Norte, ainda que no final de um período administrativo, apelo para que encontre o meio de não deixar essa marca tão negativa contra a comunidade dos estudantes menos favorecidos financeiramente e lhes garantam abrigo.
Vamos à luta!


18/11/2014

ANIVERSARIANTE DA SEMANA - VALÉRIO MESQUITA.



VALÉRIO MESQUITA



ANIVERSARIANTE DA SEMANA

 Os amigos e admiradores de Valério Mesquita saúdam o seu aniversário neste 18 de novembro pelas suas qualidades de escritor, gestor público, líder e macaibense autêntico. Valério nasceu na cidade de Macaíba. Filho de Alfredo Mesquita Filho e Nair de Andrade Mesquita. É bacharel em Direito formado pela UFRN. Desde cedo enveredou pelos caminhos da política. Foi prefeito de sua cidade de 1973 a 1975, foi deputado estadual por quatro vezes. Presidente da Emproturn, do Departamento Social do Estado e Representante Federal da Campanha Nacional de Alimentação Escolar (MEC), exerceu o cargo de secretário-executivo do ETA-UFRN. Valério mantém permanente atuação em favor da cultura potiguar. Presidiu a Fundação José Augusto, é membro efetivo da União Brasileira de Escritores secção do Rio Grande do Norte, do Conselho Estadual de Cultura do Estado, da Academia Norte-Riograndense de Letras, cadeira nº 21 e da Academia Macaibense de Letras. Foi Conselheiro e Presidente do Tribunal de Contas do Rio Grande do Norte e atualmente é o Presidente do Instituto Histórico e Geográfico do Estado.

 DEZOITO OBRAS PUBLICADAS

 O Tempo e sua Dimensão - 1968
Macaíba de Seu Mesquita - 1981 / 2007 - 2ª Edição
 Pisa na Fulô – 1996 / 2007 - 2ª Edição 
 A Política e suas Circunstâncias - 1998 
 Perfis e Outros Temas - 1998 
 Poucas e Boas - 1999
 Causos 2001 - 2001 
 Notas de Ofício - 2001 Frutos do Tempo - 2001 Trilogia do Cotidiano - 2003 Inquietudes - 2004 Memórias Provincianas - 2004 Em Defesa da Fé Cristã - 2008 Poucas e Boas - 2ª Edição - 2008 Causos 2010 - 2010 A Paisagem e o Tempo - 2012 Presságios e Travessias – 2013
 Causos 2014 - 2014
CRÉDITO PARA LÚCIA HELENA
Marcelo Alves
Marcelo Alves


Em busca da Suprema Corte

No mês que vem, se tudo seguir nos “conformes”, irei aos Estados Unidos da América. A ideia é tomar um carro alugado ainda no aeroporto de Orlando (na Flórida) e viajar, por uns 20 dias, cruzando alguns estados do sul e do leste, sem qualquer roteiro pré-determinado. E de lá, a partir das minhas visitas e leituras, escrever algumas crônicas sobre o direito americano e a cultura daquele país em geral.

De toda sorte, hoje, já adianto alguma coisa dessa viagem retomando uma temática que me é muito cara: a dos tribunais constitucionais e das supremas cortes de países que ontem foram e hoje são modelos (bons ou maus, não entro nessa discussão por enquanto) para o nosso jovem Brasil. Já escrevi aqui, estou seguro, sobre os tribunais constitucionais da Alemanha, Áustria, França, Espanha, Itália e Portugal. Já tratei, também, e mais de uma vez, da Suprema Corte do Reino Unido. E já cuidei, em duas ou três crônicas/artigos, todas com enfoques diferentes, da famosíssima Suprema Corte dos Estados Unidos da América (a U.S. Supreme Court).

Por exemplo, pelo que me recordo, na crônica “Por detrás da Suprema Corte”, com um viés marcadamente literário, escrevi sobre livros que buscaram, uns com mais sucesso que outros, descortinar os bastidores da U.S. Supreme Court. Citei o livro “Supreme Conflict: The Inside Story of the Struggle for Control of the United States Supreme Court”, de Jan Crawford Greenburg (Penguin Books, 2007), excelente trabalho jornalístico sobre a dinâmica da Corte, suas personalidades, debates, alianças internas e processos de decisão. Referi-me também a “The Supreme Court” (Vintage Books, 2001), de William H. Rehnquist, como um amplo panorama da história da Suprema Corte, em estilo mais comedido, como não poderia deixar de ser, até porque seu autor foi “associate justice” (1971-1986) e “chief justice” (1986-2005) do Tribunal. E escrevi, sobretudo, acerca do livro “Por detrás da Suprema Corte” (nossa tradução para “The Brethren: Inside the Supreme Court”), de autoria de Bob Woodward e de Scott Armstrong (jornalistas “watchdogs” a serviço do “The Washington Post”). Sem dúvida, dentre todos os livros que conheço acerca da Supreme Court americana, “Por detrás da Suprema Corte” é, para mim, disparadamente, o melhor.

Bom, não sei se vai dar, uma vez que inicio minha viagem pelo sudeste dos Estados Unidos, mas gostaria muito de revisitar a U.S. Supreme Court, sediada na capital do país, Washington DC (que, por sua vez, fica no nordeste dos EUA).

Composta por um presidente (o “chief justice”) e mais oito ministros (“associate justices”), a U.S. Supreme Court é detentora de enorme prestígio tanto nos Estados Unidos como no estrangeiro. Como a mais alta instância judicial americana, ela detém múltiplas competências e prerrogativas, sobretudo para fazer cumprir aquilo que está na Constituição do país. Aliás, a “Supreme Court” é a única corte diretamente criada pela Constituição americana, já que as outras cortes federais foram criadas por atos do Congresso americano em conformidade com o art. III da própria Constituição.

Os Estados Unidos são hoje, queiramos ou não, a única superpotência mundial. Economicamente, culturalmente e também juridicamente, somos todos, desejemos ou não, influenciados pelo americanismo. No mais, Estados Unidos e Brasil são duas grandes federações de dimensões continentais, o que, naturalmente, impõe interessantes semelhanças e (poucas) diferenças no que atine à organização de suas Justiças. Por exemplo, o sistema judicial americano, à semelhança do nosso, é dual. Convivem, lado a lado, um sistema judicial federal (Federal Court System) e os diversos sistemas judiciais estaduais (State Court Systems). Curiosamente, o Federal Court System americano tem, como órgão de cúpula, a U.S. Supreme Court (a Suprema Corte dos Estados Unidos, portanto, faz parte sistema judicial federal americano), diferentemente do que se dá no Brasil, onde nossa Suprema Corte não faz parte da Justiça Federal, sendo um órgão de superposição nacional.

E aí, o que vocês acham? Pego o prumo do norte em busca da Suprema Corte americana?

Marcelo Alves Dias de Souza
Procurador Regional da República
Doutor em Direito (PhD in Law) pelo King’s College London – KCL
Mestre em Direito pela PUC/SP

H O J E


17/11/2014

A chegada do primeiro automóvel

Elísio Augusto de Medeiros e Silva (in memoriam) 

O grande acontecimento agitava, desde cedo, a pacata cidadezinha do sertão do Rio Grande do Norte, naquele início do século XX. O primeiro automóvel, procedente da Capital, iria chegar dentro em pouco.
Toda a população estava agitada. Os homens confabulavam nas esquinas e as mulheres se demoravam, em longas conversas, nas janelas. As crianças foram proibidas de ficar nas ruas, pois poderiam ser arrastadas para a morte.
Ninguém conhecia o tal veículo, diziam que andava só, como um trem, mas, não se parecia com ele.
– É uma coisa doida, diziam, ainda mais sem bicho para puxar!
Os mais velhos achavam até que isso era um sinal do fim dos tempos, que o mundo deveria estar prestes a se acabar.
– Como é que param uma carroça sem cavalos, sem chicotes e rédeas?... E se desembestar?!
Os poucos moradores que já tinham vindo a Natal sorriam e explicavam que, em todas as Capitais, já havia daqueles carros, e que o automóvel seria o meio de transporte do futuro.
– O tempo das carroças já passou! Só aqui se vê isso!
Embora afirmasse isso, eles também estavam um pouco apreensivos, pois, tinham que tomar cuidado com as crianças, elas poderiam se assustar e correr na frente do automóvel. Aí, seria um desastre.
Como as ruas da cidadezinha eram estreitas, e os freios dos automóveis ainda eram ineficientes, sempre existia o risco de o carro atropelar alguém. Outro receio era o de que o barulho que o veículo fazia assustasse os idosos.
Quando, finalmente, o veículo apontou na entrada da rua, com aquelas rodas altas, pneus finos, o assento lá em cima, pilotado por um homem de guarda-pó e óculos, produzindo explosões que pareciam tiros, a confusão se instalou.
Corria gente para todo lado, as mães alarmadas, as empregadas recolhendo as crianças. As ruas ficaram vazias.
– Cuidado para não serem arrastadas..., gritava um senhor, agarrado a um poste de madeira.
Diziam, na época, que o vento, produzido pelos 20 quilômetros por hora do automóvel, puxava as pessoas de cima das calçadas, jogando-as sob suas rodas.
As explosões do motor pareciam tiros de fuzil.
Como, coincidentemente, era dia de feira, a cidade estava cheia de gente dos sítios próximos, homens e mulheres que, alucinados, corriam assustados, sem rumo, tropeçando e caindo, em meio à gritaria geral.
Uns, mais rápidos, subiam em árvores, outros se jogavam no chão, porém, a maioria procurava abrigo nas casas mais próximas, de parentes ou amigos, que, por sorte, ainda estivessem de portas abertas.
– Corram! Fujam todos! Gritavam alguns, das janelas e portas das casas.
Os soldados do destacamento foram chamados e postaram-se, por trás do edifício da Prefeitura, de fuzil na mão, arriscando um olhar furtivo, de vez em quando.
Alguns meninos corriam desassisados, de um lado para o outro. Os idosos berravam, desesperados, nas janelas. O caos era total!
Alguns, que ainda estavam nas ruas, precisavam atravessar a rua para encontrar a segurança do lar. As beatas se benziam e corriam para a igreja. O automóvel se aproximando, mesmo à distância, não os encorajavam a atravessar a rua.
– É uma temeridade, diziam alguns.
De um lado da rua, uns gritavam: Corra, que dá tempo! Mas, os outros, do lado oposto, desencorajavam: Não! Não atravessem agora! Não vai dar tempo!
O carro avançava, explodindo e resfolegando, com raiva, pela ruazinha central da Cidade, em meio a uma nuvem de poeira e fumaça.
– Cuidado com o vento do carro! Alguém lembrou. Não se debrucem nas janelas, gritava, feito um louco, o dono da padaria, que, prudentemente, fechara as portas do seu estabelecimento desde cedo.
De repente, um rapazinho, que já se encontrava dentro de uma mercearia, apavorou-se com os estrondos, sentindo-se desprotegido e inseguro ali, e no desespero de chegar à sua casa, onde achava que seria mais seguro, precipitou-se porta afora, cruzando a rua a poucos metros do automóvel.
Houve pânico na população – gritos de horror se ouviram – mas, felizmente, o rapaz chegou são e salvo à sua casa, tremendo e muito pálido, no entanto, vivo. Foi necessária apenas uma garapa de açúcar bruto, seguida de um bom banho e de roupas limpas, pois aquelas...
Depois do ocorrido, o comentário geral na Cidade foi: Ele nasceu de novo!