22/07/2015

AINDA BRITO VELHO


CONSELHOS E APELIDOS

Valério Mesquita*

01) Educado, simples, comunicativo, assim é o ex-conselheiro do TCE e ex-deputado Manoel de Medeiros Brito. Conheci-o no antigo prédio da Assembléia Legislativa, hoje sede do Tribunal de Contas do Estado, usando gravata borboleta e defendendo as cores da UDN. A sua inteligência e perspicácia produzem causos que não podem se perder na poeira do tempo. E o jornalista Machadinho, que ele apelida “Machado Lopes”, me proporciona a cortesia especial de relatá-los, para o deleite dos leitores.
02) Numa conversa descontraída, perguntaram a Brito qual a sua definição sobre o casamento. De bate pronto, fulmina: “uma ilusão gratulatória”. De outra feita, Afonso, um dos seus motoristas da atividade oficial, recebeu dele um apelido que exprimia fielmente o significado de suas proezas de paquerador. Afonso era baixinho, entroncado, mas era querido do mulheril funcional que beirava a menopausa. E Afonso “passava” as gordinhas, mal-amadas, pernetas, num comovente “ofício de caridade”. Sabedor de suas façanhas, Brito desfechou-lhe um apelido definitivo: “Areia de Cemitério”. Come tudo.
03) Certa vez, um colega de governo, foi lhe pedir um conselho. Já se casara duas vezes e estava na iminência da terceira mulher. Brito cofia o bigode e alerta: “Cuidado Totó, você já é reincidente!”.
04) Outro secretário de estado estava apaixonado fora do casamento. Num almoço, sapecou-lhe a pergunta: “como está de arrumação?”. Silêncio. Insiste Brito: “Deu no aro?”. Resposta tímida do interlocutor: “Deu”. “Então é separação consumada”, vaticina Brito Velho de Guerra.
05) O Dr. Tarcísio Maia, seu grande amigo, recebeu o apelido de “Sebastião” e ninguém sabia a razão. É que o ex-governador gostava de vestir um terno branco. E lá pelos idos de 50, outro político também era conhecido bastante por esse hábito: o vereador natalense Sebastião Malaquías, muito popular à época. E num comício em Natal, Tarcísio Maia havia se postado de pé, entre os circunstantes. De vez em quando, chegava um eleitor, batia-lhe no ombro e perguntava: “É seu Sebastião?”. “Não”, respondia secamente Tarcísio. Veio o segundo, o terceiro, o quarto, o quinto: “É seu Sebastião?”. “Não”, sempre a mesma resposta dietética. Observador de tudo, Brito não resistiu ao epíteto: “Sebastião”.
06) Raul, foi um dos seus últimos motoristas. Em Mossoró, na residência do casal Edith/Soutinho foi servido um lauto jantar a comitiva política que visitava Mossoró. Raul, muito displicente e acanhado, perdeu o jantar que D. Edith, mulher política e sensível, fazia questão de estender aos motoristas as mesmas iguarias que eram servidas aos convidados. Às 11 da noite, Brito dá o sinal de largada com retorno à Natal. No caminho, impressionado com o lauto rega-bofe, ao lado de Machadinho, indaga a Raul: “Jantou bem?”. “Não senhor”, reponde o tímido motorista. “O quê? Um belo jantar desse você perdeu?”. Já em Natal, Manoel de Brito não conteve o comentário: “Raul, amigo velho, pomba mole nem no céu entra!!”. Raul aprendeu a lição.


(*) Escritor.

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