06/06/2015


ANTÔNIO SOARES FILHO, O HUMANISTA

Valério Mesquita*
Mesquita.valerio@gmail.com

“Morreu o caçador de estrelas Antônio Soares Filho!”, exclamei. Em que observatório lunar ficou perdida no espelho a outra face da lua? Ele via o rosto oculto dos astros na planície aérea das noites natalenses de pastoreio. Conhecedor do sol e do vento atravessou o seu tempo pela mão das estações. Professor, Diretor da Faculdade, fui seu aluno de Direito Processual Penal. Membro da Academia Norte-Riograndense de Letras, por longo tempo pertenceu ao Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Norte e ao Conselho Estadual de Cultura, onde compartilhei de sua amável companhia. Mas, o sensível e o imaginário em Antônio Soares Filho não estavam somente na Astronomia mas na Política. Nela descobriu a vocação pública de servir através do PSD, o histórico partido dos dinossauros da política do Estado.
Foi deputado estadual constituinte ao lado do meu pai em 1947. No exercício do mandato revelou-se diligente, regimentalista e constitucionalista. Era o estilo e a marca do bacharel. Exerceu, em seguida, a chefia do Gabinete Civil do governo Dinarte Mariz. Foi ai que Toinho, carinhosamente chamado pelos mais íntimos, demonstrou possuir a consciência da fugacidade do homem e do tempo. Domou o ritmo das aspirais de súplica e oferenda ao redor, pela depuração dos assuntos e das paisagens interiores dos processos: os que devem ser resolvidos hoje, os que podem ficar para manhã e aqueles que só o tempo vai dizer. Eram os mistérios gozosos da política e da administração que Antônio Soares Filho filosoficamente distinguia, adestrando e afinando os sentidos e fazendo do mundo matéria de puro aprendizado, mercê de sua inexorável mutação.
Mas o seu lado encantatório era a proverbial fidalguia. Tinha a magia de cerimonalizar os gestos e solenizar os ditos. Na mecânica do mundo dos cumprimentos ele possuía o dom de sensibilizar as pessoas pelo cavalheirismo sem precisar torcer a coluna vertebral. A sua acuidade perceptiva na análise pictória e pitoresca dos fatos, fazia Diógenes da Cunha Lima acoima-lo de guru. No Conselho de Cultura, ao lado de Américo de Oliveira Costa e Oto Guerra formava o nosso gurulato. Nessa homenagem pelo seu passamento tenho dele a lembrança nítida, leve e delicadamente nítida que o tempo não vai desfazer.

(*) Escritor.

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