16/04/2013

Capitão Manoel Varella Barca, lá do Assú (I e II)



João Felipe da Trindade (jfhipotenusa@gmail.com)
Professor da UFRN, membro do IHGRN e do INRG
Nas minhas pesquisas genealógicas, uma personagem sempre presente, na vida de Assú, foi sem dúvida o capitão Manoel Varella Barca. Entretanto, não encontrei, até agora, maiores referências sobre sua vida por parte de nossos escritores. Está esquecido pelos seus e pelos outros. Faleceu aos dez de setembro de 1850.

Pelos assentamentos de praça, vemos que passou a tenente em 3 de março de 1791 e a capitão em 18 de agosto do mesmo ano. Quando da invasão da Ilha de Manoel Gonçalves, por corsários ingleses, em 1818, foi o capitão Manoel Varella Barca quem recebeu a primeira informação do Comandante do Degredo da Ilha, Alexandre José Pereira.

Foi procurador e administrador das várias fazendas de Cristovão da Rocha Pitta, morador na Bahia, e da viúva Costa, da praça de Pernambuco.

No seu testamento, escreveu que era natural da Vila do Cabo, da Província de Pernambuco, filho de José Varella Barca e Dona Brites Paz Barreto, na época, já falecidos. Cita alguns irmãos, já falecidos, José, Rosa Josefa, Maria, Anna e Brites. Não fala sobre irmãos vivos.

Disse mais que foi casado três vezes. O primeiro casamento foi com Dona Luzia Florência da Silva, da qual teve quatro filhos, a saber: Manoel Varella, Maria Juliana, José Varela e Francisco Varella, todos falecidos; seu segundo casamento foi com Dona Francisca Ferreira Souto, da qual teve seis filhos, a saber: Domingos Varella, Manoel Varella, falecido, Rosa, Maria Beatriz, Maria Francisca, Francisca Ferreira Souto, já falecida; seu último casamento foi com Dona Bertholeza Cavalcanti Pessoa, da qual não teve filhos.

Dona Luzia Florência da Silva, primeira esposa do capitão Manoel Varella Barca, era filha do capitão João Ferreira da Silva e Brites Maria de Mello. Os quatro filhos desse casamento eram falecidos quando do testamento do capitão. Francisco e José morreram conforme o relato a seguir.

Em seu discurso pronunciado na abertura da segunda sessão da terceira legislatura da Assembleia Legislativa Provincial, do Rio Grande do Norte, do dia 7 de setembro de 1841, o vice-presidente da Província, coronel Estevão José Barboza de Moura, faz o seguinte relato: dia 13 de dezembro de 1840, se apresentou pelas nove horas da manhã no campo fronteiro à Matriz na qual tinha de celebrar-se o ato de eleição, um concurso de setenta pessoas, mais ou menos, armadas e capitaneadas pelo tenente da extinta segunda linha, José Varella Barca, e por seu irmão Francisco Varella Barca. Por aquela mesma hora teve de seguir para o lugar destinado o destacamento do Corpo Policial, que ali existe, e havia sido requerido pela autoridade competente para guardar e manter o sossego, na forma da lei; e quando passava este em pequena distância do grupo recebeu tiros de mosquetaria; à vista do que o seu digno comandante, o tenente de Polícia José Antonio de Souza Caldas, mandou fazer também fogo contra o inimigo, que então reconheceu, repelindo assim a força, que o guerreava; de cuja luta, que durou por espaço de três quartos de hora, resultou morrer imediatamente o segundo chefe Francisco Varella, e ficar gravemente ferido em um perna o primeiro José Varella; serem baleados um sargento, e um guarda de Polícia, ambos gravemente, uma mulher que chegava à sua porta na ocasião do fogo, e alguns outros do inimigo, ao número de dez ou doze, os quais todos escaparam, menos o infeliz tenente José Varella, que faleceu de um mês de padecimentos.

Francisco Varella Barca foi representado no testamento pelos seus filhos: Manoel Varella Barca, casado; Pio Pierres Varella Barca, maior de 21 anos; Maria Senhorinha Varella Barca, casada com Antonio Barbalho Bezerra Junior; Senhorinha, casada com Luis Felis da Silva; Francisca, e mais Luzia Maria, Maria Josefa e José, menores.

José Varella Barca foi representado pelos seus filhos legitimados Maria Clara, casada com Manoel Tavares da Silva (no registro de casamento, em 1835, ela aparece como filha natural de Clara Francisca Bezerra); José, Manoel, Luzia e Maria, esses menores.

Maria Juliana, já falecida em 1835, era casada com Francisco de Souza Caldas, e foi  representada pelos filhos Manoel Lins Caldas, Francisco Lins Caldas e Tertuliano de Alustau Lins Caldas, todos casados; Luiz Lucas Lins Caldas, solteiro e maior de 21 anos; Maria Genoveva Lins Caldas casada com Felis Nobre de Medeiros; Luzia Leopoldina casada com Felis Francisco da Silva.
Em um assentamento de praça, consta que Manoel Varella Barca Junior, filho do capitão Manoel Varella Barca, era natural das várzeas do Apodi, idade de 20 anos, de altura 5p e 6p, cabelos pretos, olhos pardos, sentou praça em 23 de junho de 1806, solteiro e criador de gados.

Manoel Varella Barca Junior, o mais velho deles, era casado com Thereza de Jesus Xavier, filha de Francisco Xavier de Souza Junior e Dona Bernarda Dantas da Silveira. Esse casamento foi na capela da Utinga, em 30 de outubro de 1817. No testamento foi representado por seus filhos Francisco Xavier Varella Barca, nascido na Utinga, batizado em 20 de novembro de 1820, casado com Josefa Jovina Pimentel Varella Barca; Manoel Varella de Souza Barca; José Varella de Souza Barca (na época do inventário, preso na cadeia de Natal); e Luzia, nascida na Utinga, batizada em 29 de outubro de 1819, casada com João Gomes Freire.


Trecho de um debate na Câmara Federal entre José Moreira Brandão Castelo Branco e Amaro Carneiro Bezerra Cavalcanti.
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O fato de José Varella de Sousa Barca, filho de Manoel Varella Barca Junior, e neto do capitão Manoel Varella Barca, estar preso na cadeia de Natal, na época do inventário, em 1850, me deixou intrigado e fui investigar.  Na internet descubro que na Câmara alta, no ano de 1864, José Castelo Branco de Moreira Brandão e Amaro Carneiro Bezerra Cavalcanti, protagonizaram um intenso duelo verbal, por várias sessões consecutivas, onde o presidente da província, Olyntho Meira, estava na berlinda.
Amaro reclamava que Olynto tinha demitido o delegado de polícia de São Gonçalo, um cidadão prestante e honrado, o tenente-coronel José Varella de Sousa Barca, e nomeado para o seu lugar um homem que já tinha sido processado pelo fato de ter tentado roubar a urna em uma eleição. Esse novo delegado era cunhado de Moreira Brandão. Lembro, ainda, que Moreira Brandão era genro de Estevão José Barbosa de Moura, mencionado no artigo anterior.
Na sua resposta, Moreira Brandão disse que o Sr. José Varella foi por vezes processado, sendo um por crime de homicídio, e que seu processo achava--se munido de provas, embora ele depois conseguisse livrar-se. Já Bezerra Cavalcanti, contestou as informações de Moreira Brandão, dizendo que tudo que se imputava ao tenente-coronel José Varella tinha sido armado pelos seus adversários, semelhante ao que já tinha ocorrido com ele.
José Varella de Sousa Barca era casado com Dona Antonia da Rocha Bezerra Cavalcanti. Não localizei filhos desse casal. Aparecem nos registros de batismos de São Gonçalo como padrinhos.
Sobre Manoel Varella de Souza Barca, a única informação que encontrei foi uma nomeação para exercer uma cadeira em Santana do Mattos, em 1894.
Luzia, que aparece como esposa do tenente João Gomes Freire, era na verdade Luzia de Jesus Xavier. O tenente João Gomes Freire era filho de Thedósio Freire de Amorim e de Dona Sebastiana Dantas Xavier, irmã de Thereza de Jesus Xavier, esposa de Manoel Varella Barca Junior. Portanto, Luzia e João Gomes eram primos legítimos. Essas utinguenses são descendentes dos mártires de Uruassú, Antonio Vilela Cid e Estevão Machado de Miranda. Sebastiana foi batizada na capela de Jundiaí, em 22 de abril de 1781, sendo um dos padrinhos o Padre Lourenço Gomes Freire, tio do seu futuro esposo. João Gomes Freire era irmão de Theodósio Freire de Amorim Junior e Anna Freire de Amorim. Anna nasceu em 1808, na Utinga, tendo como padrinhos os avós maternos Francisco Xavier de Sousa Junior e Bernarda Dantas.
Na capela de Nossa Senhora do Socorro de Utinga, encontrei, na base de uma das paredes, uma placa confeccionada pela esposa de João Gomes Freire, referente ao seu jazigo, onde estão escritas as datas de nascimento, casamento e falecimento dele. A data de nascimento foi 23 de dezembro de 1811 (Segundo Cascudo, 1813, o último algarismo não é fácil de ler). Seu casamento foi em fevereiro de 1837 e seu falecimento, em 20 de outubro de 1877. Essas datas não pude conferir, pois não encontrei nenhum desses registros. Faltam páginas de alguns livros, e outros registros são de difícil leitura. Encontro o casal João Gomes Freire e Luzia de Jesus Xavier como padrinhos em vários batismos, mas não encontrei nenhum registro de filhos.
João Gomes Freire, vice-presidente da província, exerceu o cargo de presidente por poucos dias, de 15 junho a 1 de julho de 1872.
Encontro, também na internet, que Maria Senhorinha Varella Barca, viúva, de Antonio Barbalho Bezerra Junior, e mãe do alferes do 1º Corpo de Voluntários da Pátria da Província do Rio Grande do Norte, Manoel Barbalho Bezerra, morto em campanha, recebeu uma pensão mensal, a partir de 1867, do Império.
Placa do Jazigo do capitão João Gomes Freire


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